Em uma delicada reflexão sobre o papel feminino na sociedade, Mike Mills (“Assim é o Amor”) continua a recriar sua história na tela grande, o diretor conhecido por se inspirar em suas experiências e vivencias pessoais, traz agora, em 20th Century Women (Mulheres do Século 20), sua poética visão da interferência das mulheres em sua vida.
Criando um retrato de sua própria mãe, Mills traz Annette Bening no papel de Dorothea, demonstrando as preocupações e provações que a maternidade provoca em se tratando da personalidade e do crescimento de um filho.
Ambientado na Califórnia da década de 70, o filme se apropria do cenário político, econômico e cultural da época para criar um pano de fundo que sirva de apoio para à história. Os “flashes” que trazem filmagens reais do período, como as cenas do momento de transição da presidência de Jimmy Carter para Ronald Reagan, a queda de Gerald Ford na saída do Air Force One e as fotos do cenário punk da época, ajudam a construir e representar o grande abismo de gerações entre Dorothea e seu filho Jamie Fields (Lucas Jade Zumann), afinal em um momento histórico onde as mudanças ocorreram rapidamente, ela é a mãe preocupada com a criação de um filho adolescente em meio a um mundo que encontrava na música, nas drogas e no amor uma forma de se rebelar.
Mãe solteira, Dorothea, começa a notar no distanciamento do filho a necessidade de apoio em sua criação, na falta de uma figura paterna ela convoca as pessoas mais próximas de Jamie, sua melhor amiga Julie (Elle Fanning) e sua inquilina Abbie (Greta Gerwig), sendo a primeira uma adolescente que tem um relacionamento difícil com a própria família e um comportamento um tanto autodestrutivo e a segunda uma fotógrafa punk feminista de cabelos vermelhos que lida com uma grave doença. Guiadas por suas próprias experiências as três mulheres passam sua visão singular do mundo para o garoto, algumas vezes confundindo-o, mas definitivamente ajudando a consolidar sua personalidade.
Zumann, apesar de jovem constrói um personagem incrivelmente condizente com o contexto da trama e é a peça chave de toda a história. Ao menino que se vê sendo orientado por três mulheres de diferentes gerações cabe ouvir e vivenciar o contexto de cada uma delas a fim de tomar sua próprias conclusões, enquanto elas tentam aprender e entender as motivações uma da outra.
Elle Fanning e Greta Gerwig tem no desequilíbrio de suas personagens a chance de se destacar e aproveitam a oportunidade para atuar com profundidade dando a devida importância à seus papéis. Em um filme que tem nas mulheres a figura de maior destaque, Annette Bening é a perfeita mãe perdida em suas próprias escolhas. O filme traz ainda Billy Crudup como o prestativo faz-tudo hippie, William, que ajuda Dorothea a restaurar a sua casa, um personagem masculino realista e sincero que serve de apoio à trama.
20th Century Women é uma história de autoconhecimento que ousa ao dar tamanha importância as personagens femininas, encontrando nas mulheres do Século XX os exemplos que ajudaram a construir as mulheres da atualidade e questionando o machismo que perdura até os dias de hoje. É um filme que em meio a seu teor dramático consegue ser inspirador e esperançoso. Apesar das excelentes atuações e da bela fotografia, o longa foi indicado ao Oscar desse ano apenas na categoria Melhor Roteiro Original (escrito pelo próprio Mike Mills).