Crítica: A Morte do Demônio – A Ascensão

A Morte do Demônio ou Evil Dead é uma franquia de terror completamente alucinada que entrou para a história do cinema em 1981 quando Sam Raimi e Bruce Campbell redefiniram o gênero com um projeto ousado e independente que abraçou o caos e o macabro.

O clássico então rendeu várias outras produções em tons diferentes que se tornaram grandes produções como Evil Dead 2 e Army of Darkness chegando até mesmo a ter um remake energético em 2013 feito por Fede Alvarez e uma série derivada, Ash vs Evil Dead que gerou uma legião de fãs por muitos anos.

Agora mais uma vez o Necronomicon é colocado em um cenário gerando consequências desastrosas para todos ao redor em A Morte do Demônio – A Ascensão, produção que seria lançada para streaming mas que foi alterado para os cinemas devido a qualidade que o diretor Lee Cronin inseriu no longa.

Após um terremoto desenterrar o Necronomicon, o reencontro entre as irmãs distantes Beth (Lily Sullivan) e Ellie (Alyssa Sutherland) é interrompido por conta de demônios e possessões ameaçando a família e colocando em perigo os jovens Kassie (Nell Fisher), Bridget (Gabrielle Echols) e Danny (Morgan Davies). Nesse cenário cada vez mais horripilante situado em um apartamento precário, Beth precisará se impor para que todos saiam com vida.

A escolha em manter a franquia mais uma vez cono protagonistas femininas foi um acerto gigantesco, aqui temos mudanças interessantes para um apartamente precário e a realidade de uma família disfuncional trazendo conflitos entre irmãs exteremamente opostas em suas vidas e ainda reflete sobre temas como maternidade.

A direção de Lee Cronin pega esse local limitado e precário e constrói um horror claustróbico que expande muito o cenário através de planos e movimentos de câmeras criativos, há sempre momentos para referências ao clássico mas você vê muito de uma linguagem própria do diretor brincando com as possibilidades da franquia e também criando inesperados momentos emocionais dentro dessa família disfuncional.

Esses momentos e essas relações entre os personagens acaba se tornando uma grande novidade dentro da franquia e se mostram sendo grandes méritos, pois adiciona uma ligação maior do público com os personagens vividos por Lily Sullivan (Beth) e Nell Fisher (Kassie). As duas atrizes criam uma relação de tia e sobrinha com grande química indo de momentos cativantes para uma união por sobrevivência, além de termos outros nomes no elenco como Morgan Davies e Gabrielle Echols que criam situações e reviravoltas divertidas.

O filme ainda insere em Sullivan todos os aspectos que poderíamos querer de uma final girl deixando tudo mais intenso e empolgante conforme ela precisa assumir certas responsabilidades com sua família. Tudo isso levando ela a resolver dramas internos do passado com a irmã através do mais puro horror que evolui em momentos angustiantes, nojentos e frenéticos dignos de Evil Dead.

A produção é bem sucinta e dinâmica com os eventos escalando e fazendo do horror cartunesco uma forma de colocar um embate épico das diferenças entre as irmãs sendo levado até o máximo. O texto simples e direto do roteiro guia uma narrativa que não poupa no gore usando de todos os objetos possíveis em um humor sombrio e exagerado cheio de bizarrices, o que aos poucos torna esse filme como um filho incomum entre os filmes clássicos e a versão moderna de 2013.

A qualidade técnica é muito acima da média desde o design de som e a trilha sonora até os seus efeitos especiais, sempre equibrando maquiagem e CG criando uma estética trash que não poupa violência nem mesmo para as crianças da trama. Mas é a atuação corporal impressionante de Alyssa Sutherland que se destaca no decorrer da história, pois consegue realçar sua presença ameaçadora e divertida através tanto do humor como também de uma abordagem sinistra da mãe enquanto ela se locomove com muito fôlego por todos cenários.

Se existe um ponto fraco em tudo isso está em certas referências ao clássico que ocorrem na introdução e conclusão que são acenos divertidos para os fãs só que um tanto desnecessários, a expansão de mitologia que ocorre dentro da história é bem mais interessante que esses momentos de fanservice.

A Morte do Demônio – A Ascensão é mais um sucesso em uma franquia de terror que nunca entregou nenhuma produção abaixo da média e agora traz diversas possibilidades novas e antigas, não fique surpreso se por acaso em algum momento acabarmos revendo personagens como Ash e Mia nos próximos anos ou finalmente conseguir ver o conceito nunca aprovado de um filme no extremo futuro.

Necronomicon voltou e não parece que vai embora tão cedo do cinema novamente, ele ainda deve causar muito caos e diversão para os fãs da franquia e do terror.