Após o fracasso de ‘Drácula – A História Nunca Contada’, a Universal tirou um tempo para se organizar e através do reboot de A Múmia tentar mais uma vez reintroduzir o mundo do Dark Universe com mais estilo e cuidado, assim entre erros e acertos foi lançado a nova produção de Tom Cruise.

Na trama é contada a história de uma antiga princesa do Oriente Médio, chamada Ahmanet
(Sofia Boutella) que aparentemente estava guardada sob total segurança em uma cripta no meio do deserto. Tyler Colt (Tom Cruise) é um militar que em missão para capturar um grupo de terroristas no Iraque, descobre uma tumba milenar com o sarcófago da princesa, quando Ahmanet acorda nos dias atuais está pronta para reivindicar algo que lhe foi roubado, trazendo consigo caos e medo além da compreensão humana.

Pois bem, vamos começar pelo roteiro do longa escrito por Jon Spaihts, que apesar de deslizes traz um bom início de universo e um arco de herói bem elaborado se conectando bem ao futuro Dark Universe.

Existem alguns problemas, e um deles se encontra no desenvolvimento de Tyler Colt com os constantes usos de humor em piadas desconexas que acabam por atrapalhar sua jornada pessoal e faz perder boa parte do tom de perigo de Ahmanet, o que prejudica muito a produção, além disso, temos uma vilã que apesar de ter uma origem e trama bem interessante, ainda não possui grandes motivações para sua formação, mas nada que possa estragar a diversão do filme.

No decorrer da história temos humor negro, ação, fantasia e horror, em uma mistura incomum mas que funciona muito bem e serve pra mostrar boa parte da proposta desse universo que está sendo criado pela Universal. É como se o primeiro ato fosse dedicado a apresentar o herói e a vilã, o segundo foca-se em trabalhar o Dark Universe e o terceiro mistura um pouco de ‘A Múmia’ e ‘Dark Universe’ fechando o arco de Ahmanet e Colt e deixando lacunas para filmes futuros.

Tudo isso daria para consistir de um bom reboot, mas, há diálogos expositivos demais que teimam em explicar diversos acontecimentos e elementos de forma didática e rápida, quando ocorre no início com Dr. Jekyll/Mr. Hyde (Russell Crowe) é aceitável e funciona, mas vai se repetindo a fórmula em vários personagens explicando em excesso, algo que poderia e deveria ficar melhor se tivessem optado por nos mostrar, ao invés de nos falar, afinal o cinema se trata disso, mostrar com imagens e sons.

Há também sérios problemas no desenvolvimento de Jenny Halsey (Annabelle Wallace) e principalmente em sua relação com Colt, já Dr. Jekyll e Sgt. Vail (Jake Johnson) são bem apresentados e trabalhados, e suas interações com o herói estão ótimas e ficam entre os melhores momentos oferecidos na trama dando o tom adequada da história.

Agora vamos ao elenco, com nomes como Sofia Boutella, Tom Cruise, Russell Crowe, Jake Johnson, Annabelle Wallace, entre outros.

As melhores performances são de longe a de Russell Crowe como Dr. Jekyll/Mr. Hyde, com muito carisma e presença ele introduz o universo e suas particularidades com uma personalidade inconstante entre o paciente Jekyll e o caótico Hyde, outro ator que surpreende é Jake Johnson, que ao interpretar Sgt. Vail e traz o alívio cômico muito bem encaixado do filme, e ainda possui algumas das cenas mais divertidas quando aplica um humor negro extremamente mórbido nas cenas com Tom Cruise.

Por fim, falemos então de Tom Cruise, aqui o amado e famoso ator de ação está atuando no piloto automático, fazendo uma versão genérica do Ethan Hunt de ‘Missão Impossível’, no entanto todo aquele humor e estilo do Hunt não são bem aplicados em “A Múmia” e  nas cenas dramáticas ele se mostra muito abaixo do esperado estragando alguns momentos dele com Sofia Boutella, ela aliás está ótima, representando bem o perigo com olhares, expressões e uma atuação corporal deslumbrante de Ahmanet, se impondo com muita força cheia de presença, além de se mostrar bastante carismática. Annabelle Wallace não tem muito o que mostrar, afinal o script trata ela de forma bem superficial, com pouca e quase nula formação de personagens e sem motivações que possam ser bem sentidas, e claro existe também essa sua química com Cruise que não é das melhores e acaba comprometendo muito o ritmo do longa.

Existe também um grande problema que atrapalha por diversas vezes desfrutarmos de toda diversão proposta pelos conceitos de terror e ação e esse problema reside em sua Direção de Fotografia, repleta de enquadramentos e ângulos que não conseguem dar o ritmo adequado e por outras vezes incomodam por escolhas duvidosas de técnicas, como câmeras tremidas em um e outro momento, além é claro da fotografia já batida de tom sombrio que já se viu centenas de vezes em outros filmes abusando de contraste e ambientes escuros que ajudam para os conceitos dos efeitos das criaturas e da “Múmia”, mas nada acrescentam ao resto do longa.

Na direção de arte, o filme até que não faz feio, trazendo diversos figurinos bem desenvolvidos que transmitem muito das personalidades de cada personagem, tanto de Ahmanet em seus trajes egípcios antigos como do herói caçador de tesouros Nick Morton, mas a equipe artística parece se empenhar mais logicamente nesse lado histórico e fantasioso da trama. E quanto aos cenários não há do que reclamar, seja na Tumba da vilã do filme ou nas instalações tecnológicas do Dr. Jekyll, há um belo trabalho de construção de mundo com muito carisma e charme, algo que parece que haverá muito nesse Dark Universe.

E para finalizarmos há ainda a direção de Alex Kurtzman, que é bem mediana, pois deixou passar vários erros na produção, entretanto soube direcionar a trama do prólogo do universo compartilhado de monstros da Universal, organizando bem seus elementos.

Ao final, chega-se à conclusão de que “A Múmia”, acerta em vários pontos referentes ao futuro crossover do estúdio, apresenta um mundo curioso, e impõe carisma em personagens como Ahmanet e Dr. Jekyll, mas erra em seu protagonista e em âmbitos técnicos como direção de fotografia, além de ter um roteiro com vários deslizes, apesar de tudo, o saldo ainda é positivo, promissor e empolgante para os próximos filmes do universo.

REVER GERAL
Roteiro
6
Direção
5
Atuações
7
Direção de Fotografia
4
Direção de Arte
7
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.