“Annabelle” é um spin off do aclamado “Invocação do mal” que conta a história de como surgiu a maldição dessa boneca medonha. Foi dirigido por John R. Leonetti, responsável pela cinematografia de “Invocação do Mal”, aliás muitos responsáveis pelo primeiro filme se envolveram com o segundo projeto, o que torna um pouco mais complicada a tarefa de compreender o por que de uma discrepância tão grande no nível de qualidade entre os dois trabalhos.
Vamos começar com o casal de protagonistas, John e Mia (uma das muitas referências ao “Bebê de Rosemary” grande clássico do diretor Roman Polanski), um dos casais mais genéricos que já assisti, incluindo peças da escola realizadas por alunos de terceira série, sinceramente nem me sinto apta a opinar sobre a atuação dos dois, pois o roteiro pobre e preguiçoso não fornece oportunidades para o casal mostrar serviço. Annabelle Wallis que interpreta Mia (sim, a atriz protagonista tem o mesmo nome da boneca) consegue arrancar alguns momentos de glória para si, como na cena em que está no elevador, talvez uma das únicas cenas que de fato tenha me agradado. John, interpretado por Ward Horton é um médico, os dois compõem aquele casal clichê que se ama até um pouco demais, o filme não entrega nada que faça o espectador se conectar com eles, são posturas robotizadas e muito, muito, muito burras.
Acredito que em qualquer filme faz-se necessário que o espectador se importe com os personagens, torça por eles, e sofra com eles, isso é ainda mais importante se tratando de um filme de terror, porém não é o que acontecesse em “Annabelle”, sabemos muito pouco sobre os dois protagonistas e eles são genéricos demais para que o espectador possa se identificar com eles, não há um conflito, é tudo perfeitinho demais, isso faz com que o público não se ligue à trama e consequentemente não se importe com ela.
A atmosfera assustadora é competente em alguns momentos, porém às custas de muitos erros dos protagonistas, como por exemplo, logo no primeiro ato do filme os dois acreditam que há algo de errado com a boneca e resolvem jogá-la no lixo e se mudarem (palmas, palmas, palmas… Até aí tudo ótimo), na nova casa, enquanto desempacotam as caixas, Annabelle ressurge misteriosamente em uma delas, John sugere jogá-la no lixo novamente, porém Mia arruma um lugar para ela na prateleira do quarto da filha! (Palmas, pal… Não, pera! Como assim, sua louca? Você esqueceu que essa boneca é obra do demônio?). Se você é do tipo de espectador que consegue se desprender desses detalhes e se diverte apenas com os sustos, “Annabelle” talvez seja uma boa pedida pra você, é definitivamente uma obra que esqueceu do roteiro e investiu em jump scares, lugares escuros, e sons muito altos.
“Annabelle” poderia ter dado certo, mas não deu, faltou a mão de James Wan, faltou afeto entre os personagens e do público para com eles, faltou Vera Farmiga e outras grandes atuações do filme anterior, que não é a obra mais original do mundo, mas os clichês são clichês porque funcionam, o problema não é se utilizar de artifícios manjados pelo público, a questão é que preciso saber utiliza-los, o que não foi exercido de forma competente por John R. Leonetti. Tudo é genérico e preguiçoso, exceto a atmosfera sombria criada por Leonetti, se o público não se importa com os personagens o terror perde força, e mais uma evidencia da preguiça do roteiro foi o desfecho da obra, incoerente, mal escrito, injustificável e absolutamente imperdoável.
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