Terror no Brasil costuma ser mais vivido na realidade do que na ficção, mas no ano de 2017 tivemos “O Rastro”, que foi um grande passo para filmes nacionais devido ao seu cenário que acabou construindo um clima de tensão mesclado com as condições precárias da saúde em nosso país. Já este ano temos “As Boas Maneiras” que bebe do folclore brasileiro para expor questões relacionadas a desigualdade social.

A premiada coprodução entre Brasil e França chegou a passar pelo Overlook Film Festival, um importante festival internacional que acontece em Nova Orleans durante o mês de abril. O filme ainda chegou a ganhar alguns prêmios no 19º Festival do Rio de Janeiro em 2017, nas categorias: melhor longa de ficção, melhor atriz coadjuvante (Marjorie Estiano) e melhor fotografia. Mas, o que será que tornou “As Boas Maneiras” um filme tão especial?

Crítica: As Boas Maneiras

A história fala sobre Clara (Isabél Zuaa), uma enfermeira contratada para cuidar do bebê recém-nascido de Ana (Marjorie Estiano), entretanto a criança não é nada comum e nasceu em condições sobrenaturais e misteriosa.

O filme começa com Clara (Zuaa) uma enfermeira da periferia de São Paulo que busca uma oportunidade de trabalho, em seguida somos apresentados a Ana (Estiano), que acaba concedendo um emprego para Clara em sua casa. Ambas são de realidades completamente diferente e, enquanto a vida de Clara é melhor desenvolvida a de Ana acaba deixando algumas lacunas. Mas, no quesito atuação sabemos que Marjorie é uma atriz com potencial, porém é Isabél que dá um show com as palavras bem pronunciadas, a sensação de quem assistir possivelmente é de estar descascando a personagem. Por fim as duas acabam se envolvem emocionalmente e quebrando barreiras impostas pela sociedade, mas quando tudo parecia bem, Ana muda o seu comportamento durante a noite lua cheia e, ao dar à luz, concede ao mundo uma criança diferente das outras.

A produção vai se tornando intrigante por apresentar bem os seus personagens, desenvolver o drama e talvez se tivesse entregue menos em seu trailer, a surpresa teria sido ainda maior. Ao chegar no segundo ato parece que estamos diante de um novo filme, ou de um novo capítulo, pois acontece uma mudança drástica e somos apresentados a uma nova Clara que luta para ser uma mãe dedicada, mesmo com todas as atribulações da sua vida pessoal e profissional.

Em um segundo momento do filme é introduzido uma personagem com uma personalidade que é muito presente no cotidiano, uma pessoa que tenta impor seus pensamentos e conceitos na vida do outro. A figura em questão é representada por Dona Amélia (Cida Moreira), aquela típica vizinha que ajuda, mas se intromete e quer saber de tudo que acontece em sua intimidade, a sua personagem acaba sendo a responsável por aproximar a fantasia da realidade.

A direção de fotografia da produção busca visuais soturnos de amarelo e azul para expor os lados sombrios e dramático da história de Ana e Clara, além disso ainda há um bom uso de seus enquadramentos e movimentos de câmera, criando momentos de suspense assim como também desenvolve detalhes curiosos em diversas cenas.

Crítica: As Boas Maneiras

O longa equilibra muito bem as suas temáticas através da direção de arte, alternando entre cenários como a casa de Ana e em ambientes que flertam mais com o obscuro, como na casa de Isabel. Os figurinos também sabem contribuir para a narrativa, revelando muito sobre personalidades dos personagens e as suas diferentes classes sociais.

“As Boas Maneiras” tem claras inspirações em animações da Disney e a um filme chamado “Possuída” (2000), mas também tem uma identidade brasileira, com uma composição literária na qual humanos e animais se misturam em uma fabula bonita e ao mesmo tempo, assustadora.


Trailer: