Adaptar uma obra de uma figura tão importante como Agatha Christie, definitivamente, não deve ser uma tarefa fácil. Principalmente se pensarmos que a mesma já foi adaptada em 1974, dirigida por Sidney Lumet e estrelada por grandes nomes da época, como Albert Finney e Ingrid Bergman. Finalmente em 2017, quem assume a direção é Kenneth Branagh, e o elenco também conta com nomes marcantes, como Michelle Pfeiffer, Judi Dench, Penélope Cruz, entre outros.
No suspense, 12 pessoas embarcam no trem Expresso do Oriente, e em meio a essa lotação, o renomado detetive, Hercule Poirot (Kenneth Branagh), consegue um lugar na viagem. O que era para ser o início das férias do investigador, transforma-se em um de seus trabalhos mais complexos, quando um dos passageiros é encontrado morto e todos os presentes possuem diversos motivos para terem cometido o crime.
Apesar do roteiro ser guiado por uma obra consolidada e extremamente bem construída, ainda encontramos problemas de ritmo, e principalmente, na forma como a história é estabelecida. Boa parte do primeiro ato é enrolado, e até mesmo o caminho rumo ao tão esperado assassinato, demora para finalmente acontecer. Ainda assim, esse é um dos menores problemas, pois a investigação é envolvente e o desfecho é bem elaborado.
O elenco é composto por grandes nomes, mas não é nem de longe um dos pontos positivos. Com exceção de Michelle Pfeiffer e Johnny Depp, o restante dos personagens são extremamente caricatos e parecem estarem atuando em uma peça de teatro, que por sua vez, possui uma linguagem totalmente diferente do cinema. Felizmente, em determinado ponto do filme o elenco parece ganhar confiança em suas interpretações e evoluem do risível para o aceitável.
Michelle Pfeiffer, está muito bem e tem grandes momentos na produção, principalmente no final, onde ela entrega o seu melhor em uma interpretação comovente e sensível. Johnny Depp surpreende, e consegue construir uma figura misteriosa e de caráter duvidoso que é o ponto chave da história.
A fotografia e a direção de arte são extremamente bem elaboradas e possuem um excelente equilíbrio de cores e uma linguagem muito bem pensada. O conjunto visual do filme lembra um conto de fantasia, com cores vivas e um design leve, sutil e belo.
A direção de Kenneth Branagh é o ponto mais fraco, e mesmo com diversos recursos a sua disposição, ele não consegue direcionar a equipe, tampouco a história. Fica claro que o diretor não é inexperiente, e graças à isso o longa consegue funcionar de forma aceitável. No entanto, percebemos que Kenneth não sabe dirigir seus atores, problemas que podemos notar em outras de suas obras, como o catastrófico “Thor” (2011), a sua sorte aqui, é que o elenco é extremamente competente e parecem tentar a todo custo tomar as rédeas da situação, e, em determinado momento, conseguem. Ademais, mesmo quando o roteiro clama por tensão dramática e mistério, não notamos uma grande sequência, algo que realmente nos leve ao ápice do suspense.
“Assassinato no Expresso do Oriente” é um suspense intrigante e com bons momentos, mas não chega a engatar como um filme marcante no gênero, algo que o livro conseguiu com facilidade. Há diversos elementos positivos, mas muitos deles acabam não atingindo todo o potencial que poderiam, deixando aquele gosto amargo para quem esperava um longa grandioso.