Mel Gibson está de volta como diretor, e o resultado aqui não poderia ser mais brilhante. Até o Último Homem é um filme de roteiro frágil que em mãos erradas poderia ter facilmente se tornado um desastre total, mas felizmente não é o que acontece aqui, longe disso. Esse é um filme intenso sobre guerra, com referências que vão desde “Nascido para Matar” até “O Resgate do Soldado Ryan”.
A história nos apresenta a Desmond T. Doss (Andrew Garfield), um homem que cresceu em uma família conturbada devido a um pai violento e abusivo. Agora já adulto ele decide se alistar e servir ao exercito durante a tempestuosa segunda guerra mundial desafiando diversos limites da instituição em detrimento de suas convicções. A premissa é baseada em uma história real de um soldado americano que salvou mais de 70 vidas durante a guerra.
Com um protagonista de fácil empatia, o roteiro erra nos exageros melodramáticos que vão de frases de efeito até conveniências pouco palpáveis que auxiliam o texto a poupar tempo em momentos que exigem resoluções mais complexas. A mensagem acerca da fé é bonita, mas é tão enfatizada em diálogos expositivos que beira ao ridículo e comprometem a trama em certos momentos.
O elenco é extremamente eficiente. Andrew Garfield brilha do inicio ao fim, transmitindo sinceridade e humildade desde um simples olhar até em um diálogo defendendo suas convicções, definitivamente a melhor performance do ano depois de Casey Affleck em Manchester à Beira-Mar. Teresa Palmer tem seu destaque maior no inicio da trama e consegue exprimir suas necessidades com facilidade, convencendo como uma mulher apaixonada, preocupada, e que confia no marido. Hugo Weaving consegue representar a figura de um homem autoritário e cheio de sequelas de seus tempos de guerra, sua presença é imponente e chega a assustar, mas é desenvolvido na medida certa sem comprometer a sua humanidade. O restante do elenco, também entrega bons trabalhos, todos em seus momentos.
Agora o auge do filme é em sua direção impecável e visceral. O primeiro momento, no qual conhecemos o protagonista e suas motivações é belo e instigante, mas é quando a trama entra no contexto da guerra que a experiência de Mel Gibson vem à tona. Há um trabalho tão eficiente aqui, que mesmo não conhecendo todos os personagens envolvidos na ação, a circunstância consegue ser extremamente emotiva como resultado da naturalização da morte repleta de sangue e partes humanas sendo arremessadas. As sequências são tão impactantes que é compreensível sentir mal estar e querer tapar os olhos em determinados momentos.
A direção de fotografia é um dos setores que carrega a maior parte das referências citadas no incio desse texto, além de utilizar movimentos primorosos e enquartamentos intimistas que ajudam a imergir o público durante a tensão da guerra. As cores também exercem um trabalho essencial sendo elas em sua maior parte acinzentadas sempre permitindo um contraste visceral com o vermelho do sangue.
A direção de arte não impressiona tampouco inova na retratação dessa época, afinal, a segunda guerra mundial é um tema constantemente explorado pela industria do cinema, principalmente em Hollywood beirando a saturação. Apesar de tudo o material é eficiente e consegue ser facilmente associado ao seu tempo, detalhes sutis como o uniforme dos soldados foram minunciosamente pensados deixando bem visível algumas diferenças em relação aos trajes usados na primeira guerra.
Até o último Homem é um verdadeiro drama de guerra que nos faz questionar certas necessidades humanas, além de trazer uma reflexão bonita sobre ser fiel a suas convicções, no entanto essa mesma mensagem é exposta com excessivas cenas clichês e diálogos fracos que são resultados de um texto amador que deixa o filme distante da categoria de melhor do ano, mas ainda consegue fazer jus as indicações ao Oscar de melhor diretor para o impecável trabalho de Mel Gibson e melhor ator para a tocante atuação de Andrew Garfield.