Em meio aos clichês dos filmes de terror como um grupo de jovens que decide passar o final de semana numa cabana isolada, ou uma família que se muda para um lugar onde coisas terríveis aconteceram é difícil não se impressionar quando um filme tem a audácia de tentar fazer diferente. Este é The Babadook uma projeção que de início mais parece um drama de Amelia, uma mãe que tenta se recuperar da morte do marido e cuidar de uma criança problemática, mas aos poucos se converte em algo que transcende esse drama e cresce, e cresce.
“The babadook” é um filme australiano dirigido e roteirizado por Jennifer Kent que, como mencionado acima, acompanha a história de uma mãe e seu filho que não consegue se relacionar bem, é aparentemente mimado, tem alguns problemas de saúde e medo de um suposto monstro que esconde no seu armário ou embaixo da cama. Certo dia a mãe Samuel deixa que o filho escolha o livro que ela lerá para ele, o garoto escolhe um livro chamado “Mister Babadook”, o qual ninguém sabe de onde veio. Horrorizada com o conteúdo de gráfica violência e terror em um livro dito infantil a mãe tenta interromper a leitura, Samuel insiste, antes do fim do livro Samuel está chorando de desespero com medo de Babadook e sua mãe continua petrificada com o conteúdo daquele livro.
“Você começa a mudar quando eu chego, o Babadook crescendo dentro da sua pele”
Poucos filmes de terror se preocupam em estabelecer um bom roteiro, em “The babadook” esse aspecto e a direção de arte parecem ser as duas maiores preocupações. A relação complicada dos dois protagonistas é dolorosa, o desenvolvimento dos personagens é tão verdadeiro que se torna impossível estabelecer uma opinião fixa sobre um dos dois que perdure durante todo o tempo. A atuação de Noah Wiseman tem seus problemas em alguns momentos pontuais, porém nada que prejudique a relação do espectador com seu personagem. Os holofotes se voltam a Essie Davis que está absolutamente magnífica, de inicio sua personagem aparenta fraqueza, está sempre descabelada e com aspecto cansado, é permissiva com filho permitindo que o espectador nutra quase nenhuma empatia por ele, e aos poucos ela vai se transformando.
O filme teve baixo orçamento e dele $30,071 foram levantados através do Kickstarter, uma platorma que arrecada dinheiro para projetos de criação, essa quantia foi direcionada ao departamento de arte. Alguns efeitos sonoros me incomodaram um pouco, porém acredito que tenha sido sábia a decisão de investir no departamento de arte, pois além da grande performance de Essie Davis, é na direção de arte que “The Babadook” se sobressai. A atmosfera obscura é muito bem conduzida através do horror que vemos se construir.
“The babadook” é um filme diferente, isso pode ter o efeito impressionativo – como aconteceu comigo – ou pode decepcionar, nele não estão cenas gráficas de violência, excesso de sangue e gritos, nele não existem perseguições, pessoas correndo e jump scares. Nele estão excelentes atuações, roteiro consistente, direção competente e um desfecho revelador, não para o próprio filme, mas para quem o assiste. “The Babadook” é um filme inteligente, e com propósito reflexivo muito forte, a intenção aqui não é somente assustar e causar medo/tensão é problematizar algo, discutir algo que as pessoas fingem não existir essa é uma temática que certamente merece atenção e este é filme que merece ser assistido e levado a sério.
Particularmente, não me impressiono muito fácil com filmes de terror e a justificativa que ofereço a mim mesma para tal é a de que eles mostram algo que não é meu, eu não estou acampando no meio do nada com meus amigos, não moro numa casa onde aconteceram crimes horríveis. Quando subiram os créditos de “The babadook” fiquei me perguntado se aquilo poderia acontecer comigo, e acredito que pode acontecer com qualquer um, qualquer pessoa pode se enfurnar numa perda e desaprender a viver, qualquer pessoa pode construir um monstro e colocá-lo dentro de seu armário ou embaixo de sua cama e pode ser – ou não – dominada por ele. Por isso “The babadook” me deixou no mínimo inquieta, ele é tudo que um filme de horror não pode ser, verossímil.
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