[Crítica] Birdman (ou a Inesperada Virtude da Ignorância)

“Birdman” é um filme que demora um pouquinho para engrenar, porém um elenco inspirado e a direção corajosa de Alejandro González Iñárritu fazem da obra uma experiência diferente, extremamente divertida e reflexiva.

“Birdman (ou a Inesperada Virtude da Ignorância)” conta a história do ex-astro de cinema Riggan Thomson, interpretado por Michael Keaton, conhecido por interpretar um super herói muito popular nos cinemas, mas que não conseguiu fazer mais nada relevante na carreira depois disso. Agora, Riggan tenta retomar seu sucesso conduzindo uma peça de teatro enquanto ainda é atormentado pelo Homem-pássaro que um dia já foi.

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A técnica escolhida por Alejandro González Iñárritu na criação de “Birdman” foi a simulação de um plano sequência durante todo o filme, artifício já executado por Alfred Hitchcock em “Festim Diabólico” de 1948, é claro que com a tecnologia dos últimos anos, essa ilusão funciona tecnicamente mais crível na obra de Alejandro. De inicio, o movimento da câmera pareceu enfadonho, por poucas vezes ela parecia estática, justamente na intenção do diretor de evidenciar sua originalidade, todavia, ao longo da projeção percebi mais maturidade do cineasta em conduzir a câmera, e a obra ficou mais agradável de ser assistida ao longo do tempo.

Muito se comentou sobre “Birdman” e a grande atuação de Michael Keaton, porém sua estrela demora a brilhar dentro da narrativa, o que está longe de ser um problema, pois dá espaço para que o elenco de apoio tome alguns minutos do nosso olhar para si. É desnecessário apontar individualmente cada atuação, todos os artistas do elenco secundário estão inspiradíssimos, e por muitas vezes se tornam até mais interessantes do que a própria linha narrativa principal.

Quanto a temática, o filme vai além do ator fracassado esquizofrênico que ouve a voz de um super-herói fictício. São levantadas algumas questões a respeito do showbiz, a relação com atores problemáticos, o valor da arte para quem a faz e quem a aprecia, o papel e influência do crítico nesse meio, e algumas críticas pontuais a essa moda de filmes de super-herói e seu público que paga o ingresso do cinema para ver explosões, perseguições e grandes efeitos visuais sem preocupação com o valor intelectual da arte. A cena na qual Riggan Thomson é atormentado por Birdman voando por trás de sua nuca enquanto atira esses questionamentos é absolutamente perfeita, o uso do visual casa perfeitamente com o valor do roteiro naquele momento fazendo cada palavra ter completo sentido.

“Birdman” é um filme complexo, não necessariamente difícil, mas certamente complexo, ele demorou um pouco para chamar me atenção, me vi interessada de verdade no momento em que fui apresentada ao personagem de Edward Norton, pontuando o que já mencionei acima, o elenco de apoio se tornou maior do que talvez devesse ser – me perdoem o exagero – prejudicando um pouco o desenvolvimento da sotryline principal, porém seria um pecado criticar um filme porque “o elenco secundário estava muito bom”, portanto fecharei o texto dizendo que “Birdman” não superou minhas expectativas, porém é ainda sim um grande filme, pela ousadia da simulação do plano sequencia com cortes quase completamente imperceptíveis, e pela abordagem diferente ao falar de fracasso, desespero e morte. Ao final do filme, após ver o primeiro nome dos créditos percebi o quão dolorosamente bonito é esse trabalho.