Crítica: Black Mirror – 4ª temporada

Contem spoiler.

Black Mirror traz em sua 4ª temporada os episódios mais diversificados e com propostas diferentes apresentados até agora. Dentre os 6 novos episódios, Black Museum é o mais completo e surpreendente.

Ao fazer uma parada para abastecer seu carro, Nish visita um museu com artefatos criminais e Rolo Haynes, dono do estabelecimento, da a ela algumas explicações sobre determinados objetos. A trama traz várias tecnologias que servem para transferir a consciência do ser humano de diversas formas, preservando assim a vida, mesmo com a morte do corpo.

Essas tecnologias apresentadas no episódio são as mais interessantes de toda a temporada. A maneira com que a história de cada objeto em particular foi mostrada é um pouco similar ao episódio White Christmas, da segunda temporada.

Com uma crítica social inserida, que fica mais clara no desfecho da trama, Black Museum tem um roteiro muito bem estruturado, conta com ótimas atuações e uma grande reviravolta em sua conclusão. É com certeza o episódio mais Black Mirror da série.

Em 2º lugar está o primeiro episódio Uss Callister. Inspirado em Star Trek, o episódio não é exatamente o que parece ser. Na trama, Robert Daly, dono de uma empresa de games, criou um universo espacial de realidade virtual e inseriu nele clones de seus colegas do trabalho que lhe causaram alguma irritação.

Dessa forma, através de um dispositivo colocado em sua têmpora, a consciência de Daly se projeta no jogo e assim, ele desconta nos clones toda a frustração causada pelos colegas na vida real.

O episódio tem um contrate interessante de cores. O mundo real é marcado com tons frios, criando assim uma sensação de monotonia e angústia, enquanto que no universo do jogo, as cores são fortes e vibrantes como na série Star Trek e relevam um ambiente onde Daly pode realizar todos os seus desejos.

A história é bem construída, rica em detalhes. Pela primeira vez em Black Mirror temos uma narrativa exclusivamente com uma protagonista e um vilão. Diferente do usual, o final da história é bastante satisfatório.

A posição de 3º lugar ficou com um episódio com uma clima mais romântico, seria quase um San Junipero da quarta temporada. Hang the DJ cativa com um casal unido por um aplicativo que tem o controle de quais parceiros a pessoa terá e quanto tempo o relacionamento irá durar.

Os dois protagonistas são carismáticos e no decorrer da narrativa, a torcida para que ao final eles fiquem juntos vai crescendo, junto com a apreensão de que isso não vá acontecer, já que se tratando de Black Mirror, pode-se esperar por tudo.

A grande sacada aqui está justamente no final do episódio, quando uma reviravolta surpreende, revelando uma conclusão inimaginável, porém bastante animador.

Em 4ª lugar Crocodile vem para causar indignação, revolta e surpresa. Mia – interpretada impecavelmente por Rosemarie DeWitt – casada, mãe de um filho e com uma carreira bem sucedida, recebe a visita de um companheiro do passado, que tenta convencê-la a confessar a polícia um assassinato cometido pelos dois há anos atrás. Mia tenta fazer o antigo namorado a mudar de ideia, mas quando não obtêm sucesso, ela o mata e se livra do corpo.

A história se cruza com a investigação de uma inspetora de seguro de vida, que está atrás de uma testemunha ocular para esclarecer um atropelamento causado por um carro automático de entregas de pizza. Por acaso do destino, Mia viu todo o acidente acontecer e a inspetora chega até ela.

A tragédia começa a acontecer quando a inspetora utiliza uma tecnologia capaz de transformar as memórias das pessoas em imagens transmitidas na tela de uma espécie de computador. Quando as memórias de Mia são acessadas, fragmentos dos crimes cometidos por ela são vistos pela inspetora.

O ponto central desse episódio é mostrar até onde o ser humano é capaz de ir. A protagonista rompe todos os seus limites e atinge um nível de crueldade absurdo para não ser responsabilizada pelos crimes que cometeu e nessa acaba cometendo atrocidades muito piores.

Metalhead é o primeiro episódio da antologia a ser exibido em preto e branco. A trama traz um futuro pós apocalíptico onde os poucos seres humanos que sobreviveram são caçados por mortíferos robôs.

Com pouco mais de quarenta minutos, Bella e dois colegas são introduzidos na narrativa com a missão de encontrar algo em um depósito para levar até o sobrinho de Bella que está a beira da morte. Eles acabam encontrando um dos robôs assassinos e os dois homens são mortos.

Bella passa a lutar por sua vida, procurando maneiras de fugir do robô. De maneira geral, a atriz Maxine Peaker entrega uma atuação muito boa, os enquadramentos e cenários da história exibem uma qualidade acima da média, mas a pouca duração do episódio e as questões que ficam na mente após o término, não funcionaram bem.

Arkangel é o episódio mais fraco da série. A narrativa segue uma linha dramática, mostrando a história de uma mãe super protetora que opta por inserir um dispositivo no cérebro de sua filha e assim ter controle sobre o que ela vê, para onde vai, além de monitorar suas funções vitais.

Apesar de ter uma boa premissa e a trama se desenvolver muito bem ao longo do episódio, o desfecho acaba deixando a desejar, terminou de maneira rasa e não conseguiu despertar nenhum sentimento, seja ele de surpresa, raiva ou alívio.