Cães Selvagens traz três ex-presidiários que tentam reconquistar seus respectivos lugares perante a sociedade, com uma amizade sustentada pelos antecedentes criminais, eles entram em conflito com a realidade e passam a questionar o sentido de justiça.
Troy (Nicolas Cage) é o mais recém saído do presídio, já do lado de fora ele se junta aos amigos, Diesel (Christopher Matthew Cook) que é extremamente inteligente e o imprevisível Mad Dog (Willem Dafoe), que acabam juntos retornando ao mundo do crime, acreditando que seja a única forma de realizarem seus desejos materiais.
Cage entrega uma performance caricata e canastrona, sem grande credibilidade e com diversos trejeitos repetitivos de outros personagens semelhantes, já Christopher consegue transparecer mais veracidade, construindo seu personagem de forma instigante sem entregar suas reais intenções durante o filme, o que acaba atraindo a atenção do público ao seu redor. Dafoe é o mais conflituoso do trio, trazendo alivio cômico e imprevisibilidade para a trama, afinal trata-se de um personagem fiel aos seus valores, mas totalmente inescrupuloso em relação a vida do outro.
O roteiro não apresenta nada de inovador em sua premissa, mas acrescenta alguns detalhes interessantes em seu desenvolvimento que o acaba salvando do completo desastre, tirando isso, tudo que se desenvolve no decorrer de seus 93 minutos de exibição é apenas um retalho de outros filmes do gênero. Os diálogos são outro ponto fraco, uma vez que além de serem extremamente involuntários com as circunstâncias, ainda contam com frases de efeito deslocadas que apenas denigrem ainda mais a obra.
O filme por sua vez não é totalmente ruim e traz um visual ousado e impactante, tanto em sua fotografia quanto na direção de arte, que juntos acabam por criar uma estética instigante.
Na fotografia temos uma paleta de cores extremamente diversificada, que junto dos cenários criam diversas cenas com coloração quase monocromática, permitindo uma interpretação diferente para cada momento da narrativa dos três criminosos. A câmera também usa e abusa das referências de jogos de ação, colocando o público no lugar do personagem através de um plano subjetivo que em determinados momentos funciona extremamente bem, enquanto em outros torna-se exagerado e retira o brilho da trama.
A direção de arte é rica em cenários coloridos que trazem uma vibração positiva, que quase sempre é quebrada pelo gore e violência das mais diversas circunstâncias retratadas. Há aqui um notável apelo ao sangue que é brutalmente construído gerando repulsa instantânea no público. Os figurinos são manipulados pelos próprios personagens como uma ferramenta de disfarce, consequente de uma linguagem cultural carregada esteriótipos, que acabam tecendo uma crítica ao nosso próprio julgamento preconceituoso.
A direção de Paul Schrader erra feio quando tenta equilibrar, violência, drama e humor junto de um texto fraco que ainda tenta promover um senso crítico sobre as situações expostas, mas que acaba falhando em todas essas estâncias. Não há uma violência que consiga ir além da dinâmica visual, o humor é gerado pela própria insanidade dos acontecimentos, o drama passa batido e a crítica é exposta de forma tão esdrúxula que parece uma tentativa pífia de fazer com que você leve o filme a sério.
No final das contas “Cães Selvagens” é mais um desses filmes esquecíveis, que até consegue entreter com alguns momentos de sua exibição, sendo uma boa para aquele momento em que se carece de grandes opções a sua disposição, no entanto em um mundo moderno com as facilidades da internet, é provável que isso nunca aconteça.