Crítica: Cavaleiro da Lua

Chegou ao fim mais uma série da Marvel Studios, Cavaleiro da Lua é a nova produção do MCU que chegou em meio a diferentes expectativas do público e acabou em seu próprio modo surpreendendo bastante devido ao tom que vai se estabelecendo durante os episódios e apresentando uma boa execução da direção e do elenco e um mundo novo e refrescante.

A trama da série acompanha inicialmente Steven Grant, um simples funcionário de uma loja de presentes que descobre possuir transtorno dissociativo e que compartilha o corpo com a personalidade de um mercenário chamado Marc Spector, ambos agora servem à um Deus egípcio chamado Konshu e se tornam o Cavaleiro da Lua, um guerreiro que traz a vingança para aqueles que cometeram crimes.

A série caminha por diversos gêneros, os episódios iniciais indicam um suspense com elementos sobre o real e o fantasioso serem debatidos enquanto Steven tenta entender a si mesmo e o seu papel em meio a um combate entre deuses, mas conforme a produção avança ganha contornos de exploração em um espírito bem próximo de Indiana Jones e A Múmia e uma natureza heróica que parece pular da tela assim como diversos quadrinhos pareciam pular das páginas.

A direção tem seu destaque nisso seja de Mohamed Diab que é quem comanda a série no geral ou da dupla Justin Benson e Aaron Moorhead sabendo trabalhar um olhar de fascínio pelo seu próprio mundo ao redor seja pela questão cultural ou pelo elemento místico não há vergonha de explorar naturezas quadrinhesca mais simples, divertidas e até um tanto inocentes.

O personagem por mais que faça parte do grupo de personagens vigilantes urbanos da Marvel nos quadrinhos, aqui nessa produção buscaram dar um papel ainda maior para a fantasia obscura com um trabalho ótimo de design para os deuses, além de abraçar uma estilização visual de super-heroís dentro da medida certa com iconografias visuais da Lua, boas coreografias e golpes em câmera lenta que dentro da montagem criam um sentimento de empolgação que faltava nessas séries do MCU.

Mas infelizmente nesse aspecto de produção existem certos deslizes, a ação nunca funciona tão bem quando se foca em combate sem os elementos super-poderosos, alguns episódios com ritmo desbalanceado no meio da temporada e também por ter um ou outro momento onde certos efeitos falta um refinamento maior nas cenas.

O roteiro de Jeremy Slater incorpora comédia, ação, fantasia e uma sensação de estar perdido no meio ao caos ao redor de Steven e Marc, esse desnorteamento vem em pequenas doses e ajuda a dar também as perspectivas diferentes de ambos os personagens ao mesmo tempo que equilibra ser uma história de super-herói com suas particularidades do apelo desse gênero.

Porém, o texto de Rebecca Kirsch e Matthew Orton também merece destaque pois traz um dos melhores momentos da temporada em um episódio que viaja pelas memórias e pelo surreal da mente de Steven e Marc criando resoluções emocionais fortes para os dramas das duas personalidades.

O elenco é ótimo, Oscar Isaac é um grande ator e ele consegue apenas através de sua abordagem diferenciar Steven de Marc, isso vai desde trejeitos na postura como também na voz e sotaques inseridos no trabalho do ator, além da maneira como explora um bom drama do personagem e esses fatores é o que tornam ele um dos melhores motivos para se ver essa série, F. Murray Abraham tem um bom trabalho de voz que evoca algo sombrio mas um tanto malandro, mas já Ethan Hawke sofre por ter um vilão um tanto genérico dentro do molde clássico de “o primeiro vilão que possui similaridades com o herói”, mas ele compensa isso com imposição e boa presença de ameaça, porém ele se destaca muito em um episódio específico que se utiliza do ator de maneira criativa.

Mas é preciso nisso tudo elogiar May Calamawy, a atriz aos poucos entra dentro da temporada e acompanha Steven/Marc como Layla, ela é carismática, possui dramas cativantes e se torna parte essencial da história, diferente de outros coadjuvantes desse tipo em WandaVision e Falcão e Soldado Invernal ela tem um motivo para estar na trama e traz o bônus da representação de egípcios no mainstream em uma obra que já se dedica a tratar toda essa cultura com amor e respeito.

A série ainda consegue oferecer um dos melhores finales das séries do MCU e aproveita melhor o fato de ser uma história de fantasia que ocorre nos bastidores dos grandes acontecimentos do Universo Marvel, aliás vale notar também como a produção se desvia muito bem de conexôes e em vez de “alugar um espaço no cenário do MCU”, aqui vemos fincar seu próprio território de heróis e vilões egípcios.

Cavaleiro da Lua se sai uma boa surpresa e consegue fugir dos problemas da primeira remessa de produções da Fase 4 do MCU que teve em Loki, Shang-Chi e WandaVision suas obras mais concisas, divertidas, interessantes e com personalidade, mas agora vejo um caminho mais claro sobre o que pode oferecer essas narrativas dentro do streaming e dentro da Fase 4 da Marvel.

Talvez não agrade a todos que esperam um mergulho psicológico pesado ou uma adaptação literal de quadrinhos, mas oferece uma das melhores coisas que a Marvel possui e que estavam em falta nos últimos anos, a habilidade de condensar personagens de HQs em narrativas simples para grandes massas, mas que ainda assim lidam bem com seus desenvolvimentos e acertam no entretenimento e no carisma de seu universo próprio enquanto nos envolvem na história emocional dos heróis.

Obs: A cena pós-créditos possui uma grande surpresa para o público e promete adicionar um elemento para a mistura explosiva desse mundo para o futuro e oferecer novos conflitos e caminhos para Marc, Steven e Layla.