Assim como Senhor dos Anéis, a obra de C.S. Lewis chamada Crônicas de Nárnia foi um importante clássico da literatura fantástica extremamente cultuado e que serviu de inspirações para muitos artistas da cultura pop. Logo após o sucesso de Harry Potter e Senhor dos Anéis nos cinemas a produção da adaptação se iniciou, e como ele é o homenageado desse mês da Cine Mundo, trazemos para os leitores uma crítica do seu primeiro filme “As Crônicas de Nárnia: O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa” (2005).

Ambientada no caos da Segunda Guerra Mundial acompanhamos a história de Lúcia (Georgie Henley), Edmundo, Pedro e Susana, quatro irmãos que são transferidos de sua casa para uma propriedade rural, lá eles descobrem um guarda-roupa que os leva para o mundo mágico de Nárnia, terra povoada por centauros e animais falantes que hoje vive tempos sombrios sob o comando da temível Feiticeira Branca (Tilda Swinton).

Dito isso podíamos esperar uma épica aventura de fantasia com direito a diversidade de raças, personagens e muita mitologia sendo desenvolvida, não é mesmo?

Mas o roteiro segue no caminho contrário do esperado e nos entrega uma obra que é fiel ao material apenas na superfície, faltam camadas e mais camadas que tornaram o livro o sucesso que é, como uma melhor apresentação do mundo de Nárnia, além de um melhor desenvolvimento de personagens e de suas relações pessoais. Há ainda atos muito arrastados que tornam a trama por diversas vezes desinteressante e cansativa, o que faz com que só após mais da metade da exibição é que sentimos um certo tom de fantasia e aventura, são esses grandes deslizem que enfraquecem muito o poder e potencial franquia.

Outro ponto forte que vale ressaltar aqui está na forma com que o elenco trabalha sobre esse script, não lhe conferindo muito carisma e tendo algumas atuações inconsistentes, no entanto as poucas boas performances dão um grande show nas cenas. Georgie Henley faz a pequena e doce Lúcia Pevensie e é de longe a melhor de todos os jovens protagonistas apesar de não se sair muito bem nos dramas da personagem, Skandar Keynes faz Edmundo Pevensie, garoto cínico e invejoso, Keynes é um dos melhores depois de Henley e é notável que boa parte do carisma está com seus personagens que de uma forma ou de outra movem o enredo, William Moseley faz Pedro Pevensie, enquanto Anna Popplewell faz Susana Pevensie, personagens que carregam o fardo de serem maduros e responsáveis mas ambos tem performances apáticas e forçadas. Já o elenco de apoio trabalha muito bem no longa com ótimas atuações de James McAvoy como o bondoso e simpático Senhor Tumnus, Tilda Swinton sendo ameaçadora e carismática com a Feiticeira Branca e a imponente e dramática de Liam Neeson como Aslam.

Mas é hora de comentarmos um pouco sobre as técnicas do longa, começando por sua direção de Fotografia que falha em explorar a totalidade desse mundo de Nárnia e nos fazer mergulhar de cabeça nesse fantasioso espaço, todavia conseguem entregar boas sequências de ação no clímax da guerra e tem cenas muito bem montadas apesar de faltar uma certa inventividade. O mesmo pode ser dito de suas cores que ao tentam fazer um contraste entre o sombrio do mundo real e a fantasia de Nárnia acaba exagerando nos tons coloridos de Nárnia de forma que os ambientes também sombrios de lá acabam perdendo o tom esperado, deixando-o inconsistente.

Há também dentro da produção diversos efeitos especiais que necessitam de maior desenvolvimento e dedicação, pois percebe-se que se apoiam demais no uso do CGI e devido a isso se mostram extremamente datados nos dias de hoje com animais e criaturas falantes que é extremamente difícil de acreditar que são reais.

Prosseguido no ambiente visual estabelecido na adaptação há certas declarações sobre sua direção de arte, composta aqui de uma construção de cenários admirável que consegue nos passar o conceito do mundo por diversas vezes como nas cenas da floresta ou da prisão da Feiticeira Branca, em contrapartida falta-se veracidade nas armaduras e roupas do figurino já que acabam parecendo mais fantasias teatrais do que material de uma obra cinematográfica.

Para finalizarmos, devemos comentar sobre a direção de Andrew Adamson que coordena de maneira quase que automática todo o filme, faltando-lhe paixão ou um certo respeito pela obra, no entanto ele sabe lidar bem com as pouquíssimas sequências de ação do longa.

Ao final podemos constatar que “Crônicas de Nárnia: O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa” não alcança o que se esperava como franquia cometendo graves deslizes no decorrer do filme, o que fez com que não marcasse tanto o cinema e imaginário das pessoas como Harry Potter e Senhor dos Anéis.

REVER GERAL
Roteiro
6
Direção
5
Atuações
8
Direção de Fotografia
5
Direção de Arte
6
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.