Crítica: Culpa e Desejo

Culpa e Desejo é um drama francês indicado à Palma de Ouro e que faz parte da seleção do Festival Varilux 2023, uma obra com muito a dizer sobre a natureza do abuso de menores e coloca muitos temas em contradição na sua história para que possamos refletir de maneira desconfortável.

A produção acompanha Anne(Léa Drucker), mãe bem-sucedida e respeitada advogada especializada em violência sexual contra menores, coloca tudo em risco ao entrar em um jogo de sedução com Théo (Samuel Kircher), filho de seu marido (Olivier Rabourdin) em um casamento anterior.

Catherine Breillat dirige o longa inicialmente como um thriller erótico sobre os cansaços da vida de Anne e sua insatisfação com o casamento, mas aos poucos conforme vemos a dinâmica da relação proibida com Théo percebe-se o verdadeiro intuito que é de nos fazer questionar e entender como se ocorrem e um mundo real os abusos de menores.

Há muitas questões em jogo, o público tem essa noção dela como alguém que trabalha exatamente para proteger e ajudar jovens na mesma situação que ela está colocando Théo e isso causa desconforto pelo realismo e pela forma como a situação realmente evolui aos poucos com jovem refém de viver esse pesadelo.

As atuações também criam boa parte da nossa repulsa e empatia com os personagens principalmente nas performances de Léa Drucker e Samuel Kircher, há pequenos momentos na transição da história que aos poucos vemos surgirem atitudes detestáveis de Anne e muito se deve pelo trabalho de Léa Drucker que é tão detalhista que muita informação só é percebida em pequenos gestos.

O maior deslize que o roteiro comete é haver pouco desenvolvimento sobre a estrutura familiar fragilizada pela figura do pai, há poucas situações mostradas em tela e muito é dito por terceiro sobre como o ambiente prejudicou tanto Théo como Anne e de certa forma acabou levando à relação dependente entre eles.

Culpa e Desejo mistura muito bem certos elementos de thriller erótico e avança até se tornar um drama sobre abusos ao fazer a escolha de mostrar que abusos nem sempre parecem abusos no início, uma obra que provoca reflexões sobre como esses crimes se desenvolvem e como tudo isso pode ocorrer em qualquer cenário “seguro”.

Um longa que pode e vai incomodar muitos que assistirem, mas que traz um cinema bem direto em uma mensagem sem cair em didatismo moderno do debate de temas importantes.

Culpa e Desejo está em exibição nos cinemas.