Crítica: David contra os Bancos

David contra os Bancos é daqueles filmes que te lembram do porque vamos ao cinema, uma história sobre pessoas simples superando adversidades de um sistema injusto embalado por músicas, otimismo, romance e um bom humor britânico completamente irresistível.

Na trama, Dave Fishwick (Rory Kinnear) é um britânico que ganha a vida com seu negócio em Burnley, cidade industrial que já foi referência em produtividade e lucro, mas que agora se encontra em decadência. No trabalho, Dave se torna uma exceção em meio às falências: seu empreendimento vai tão bem que ele começa a emprestar dinheiro tanto para seus clientes quanto a outras empresas locais depois da crise financeira de 2007/2008, quando os bancos tradicionais interromperam os empréstimos.

Com o sucesso dessa jogada de mercado, o empresário decide ir além e abrir um banco com seu próprio nome. Porém, a movimentação chama a atenção dos banqueiros, que não gostam nada da ideia.

A comédia dramática tem um clima urbano e uma direção bem apaixonada de Chris Foggin ao explorar diferentes locais dos convívios das pessoas em Burnley, aqui fora alguns momentos em que criam visuais opostos dos grandes bancos com o subúrbios não há grandes ousadias com a câmera e isso nem é tão necessário.

Foggin e o diretor de fotografia Mike Stern Sterzynski estão interessando em evocar sentimentos da cidade e das relações dos personagens pelas cores dos locais que eles dialogam e andam com calma, existe um toque bem humano como se montam cenas para valorizar os atores e o espírito de uma cidade cheia de vida.

Para dar vida ao filme temos Rory Kinnear vivendo Dave cheio de energia e com um charme incrível em tela sendo esse sujeito simples e bem-intencionado. Joel Fry que vive Hugh também ganha destaque graças ao bom timing cômico e por ser o nosso guia através da jornada pela comunidade, além de protagonizar um romance mágico com Alexandra de Phoebe Dynevor que esbanja carisma natural ao longo da história.

Demais nomes como Hugh Bonneville, Paul Kaye, Jo Hartley, Naomi Battrick e Florence Hall estão ali mais como complemento dos três principais e servem bem aos propósitos e temas que a produção debate sobre ganância de bancos, o que representa uma comunidade e como oponentes no caminho da jornada de Dave.

Nós vemos essa história como visitantes na cidade junto de Hugh (Joel Fry), um homem de outra classe social e que se encontra em uma crise pessoal e junto dele aos poucos entendemos das diferenças de como tudo acontece para o bem ou mal em um lugar tão simples que vive injustamente devido às ações de bancos que sempre pensam mais em seu poder e em suas burocracias frias que ignoram sentimentos e necessidades.

O roteiro se desenrola bem ao equilibrar passagens onde vemos as relações de Hugh se formarem na amizade com Dave (Rory Kinnear) e no amor com Alexandra (Phoebe Dynevor) e em outras situações se discutem muito sobre como poderiam ajudar Dave nessa batalha pela comunidade, o que eles querem não é nada demais e ainda assim existe uma oposição muito forte que é contrária a ideia da comunidade ajudar a si mesma e se apoiarem nos outros em momentos de dificuldades.

Podemos não sermos britânicos e estarmos bem distantes dos anos 2000, mas são temas relacionáveis tanto por serem universais como também por vivermos em um país que se precise combater injustiças feitas contra o povo, talvez o sujeito mais cínico e pessimista encontrará maneiras de desvalorizar a simplicidade, esperança e a força do otimismo encontradas nessa história.

Mas o cinema nasceu para esses contos que nos lembram com certa paixão e humor do que somos capazes e de que existem formas de se enfrentar o sistema, momentos onde segundas chances se tornam reais e que bancos podem ser derrotados por uma comunidade.