Há seis anos atrás Breaking Bad chegava ao fim trazendo um legado enorme tanto para a TV como também para a cultura pop, o personagem Walter Whie/Heisenberg de Bryan Cranston se tornou uma das figuras mais icônicas da séries de TV, afinal essa se tratou de uma produção que contrariando várias expectativas impressionou e empolgou o público durante cinco temporadas e mostrou novas maneiras de consumir e de se criarem narrativas na TV.

Tudo isso acabou rendendo até mesmo uma série spin-off “Better Call Saul”, baseada em um dos personagens mais populares de seu universo, Saul Goodman que vem recebendo elogios do público e crítica conforme caminha para transformar Jimmy em Saul.

Crítica: El Camino - Breaking Bad

Agora em 2019 a Netflix juntamente com a Sony Pictures Television foi lançado El Camino: A Breaking Bad Film, o filme dirigido e escrito por Vince Gilligan, o criador da série e estrelado por Aaron Paul de volta ao se papel para mostrar a conclusão da jornada de Jesse Pinkman enquanto foge de seu passado, da lei e daqueles que o capturaram anteriormente.

O roteiro da produção foge de quaisquer aspectos que poderíamos esperar após termos visto o marketing da Netflix para o longa-metragem, pois acabou se tratando de uma história muito mais introspectiva e dramática focado nas emoções e conflitos pessoais de Pinkman (Aaron Paul), o que oferece um novo sentido para muito do que ocorreu na última temporada de Breaking Bad que foi quando a trama se fechou mais em Walter (Bryan Cranston) e deixou passar certos desenvolvimentos da série.

A trama ainda sabe bem onde encaixar fanservice e referências para o fã de longa data da obra de Gilligan, afinal esse não é apenas um filme sobre Jesse e sobre seu final, mas também se trata de um retorno ao universo de Albuquerque e a todos aqueles elementos carismáticos da produção, contudo eles souberam como dar uma função narrativa para cada referência ou easter-egg encontrado nesse longa-metragem.

O roteiro ainda se divide muito em duas partes muito bem desenvolvidas, na primeira temos um acompanhamento de Pinkman buscando sobreviver enquanto relembra de tudo que viveu junto de Todd (Jesse Plemons) na última temporada, do meio para frente o filme começa a ganhar diversas reviravoltas que coincidem com a evolução dramática do personagem e se encaminha para um finalização curiosa e esperta com ação e humor negro digno dos melhores episódios de Breaking Bad.

Aaron Paul é o grande astro como Jesse Pinkman, o drama carregado porque tudo que ele viveu até aquele ponto da história é perceptível tanto em um drama introspectivo como também na maneira que lida com eventuais contratempos e obstáculos em seu caminho, a impressão que deu é que o ator ainda entende perfeitamente quem é seu personagem e tudo que o torna tão interessante.

Além de Aaron Paul temos também um bom elenco de apoio com Jesse Plemons, Charles Baker, Matt Jones, Scott Shepherd, Scott MacArthur, entre outros que contribuem para os arcos dramáticos de Pinkman.

Além de aos poucos posicionar figuras de antagonistas com Plemons de volta como infame e doentio Todd e novos personagens como Scott Shepherd como Casey, um personagem patético, ridículo e que insere um alívio cômico que funciona perfeitamente nesse mundo e Scott MacArthur e seu Neil Candy que traz uma performance que soa tanto com um sujeito banal como também coloca tensão e perigo, afinal seu estado emocional se mostra bem acima de Pinkman.

Há participações menores mas importantes de Robert Forster, Charles Baker e Matt Jones, Baker e Jones aqui tem a chance de mostrarem mais camadas e desenvolvimento como Skinny Pete e Badger, ambos demonstram um núcleo de parceria e amizade consistente com Jesse, já Forster está de volta ao papel de Ed Galbraith, o “desaparecedor” dos criminosos e de certa maneira traz uma certa consciência e bom senso para Pinkman.

Crítica: El Camino - Breaking Bad

A direção de fotografia continua mantendo o estilo visual de Vince Gilligan sabendo movimentar a câmera e aproveitar cada momento da trama para desenvolver a tensão e o drama de Jesse, as cores se assemelham à produção da série, mas aqui com muitas camadas e muito mais orçamento equilibrando o sépia com muita saturação com um tom de iluminação mais fria e uso de sombras e lugares escuros em outras cenas.

A direção de arte é focada em reconectar o público com certos cenários e elementos que agradarão aos fãs e que oferecem um sentido de narrativa consistente, os figurinos se adequam à personalidade dos protagonistas ou de seu estado emocional, fora isso há ainda um uso interessante de maquiagem para Jesse e faz um bom paralelo entre o passado e presente de Pinkman.

O roteiro com certeza é ótimo, coerente e faz bom uso da mitologia da série e de seu protagonista, mas um dos maiores destaque está com a direção que controla bem o público e direciona a percepção conforme ele trafega por drama, humor e ação na dose certa.

El Camino: A Breaking Bad Film a primeira vista pode lhe dar a impressão de ser um evento desnecessário ou irrelevante, mas após alguns minutos assistindo o filme se apresenta como drama introspectivo se focando no essencial tanto da série quanto do personagem e aos poucos traça um caminho de redenção esperado para Jesse, ao mesmo tempo que relembra aquele universo e de uma vez por todas mostra para todos quem é Jesse Pinkman.

Um personagem carismático e profundo que merecia uma conclusão a altura de tudo que ele era e se tornou ao longo de cinco temporadas, precisamos agradecer Vince Gilligan por mais esse notável acerto.

Trailer:

REVER GERAL
Roteiro
9
Direção
10
Atuações
10
Direção de Arte
10
Direção de Fotografia
10
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.