“I Have a Dream” Martin Luther King em 1963, durante a marcha pelo trabalho e liberdade em Washington.

A década de 60 sem sombras de dúvidas foi marcada por protestos, e uma luta intensa contra o preconceito, em especial o racismo e o machismo que pareciam ter atingido seu auge de segregação em um momento no qual era inversamente proporcionou ao avanço intelectual desses povos reprimidos ao longo da história. Foi um tempo de libertação, conquistas e o surgimento de diversos ícones tanto para o movimento negro quanto ao feminista.

“Estrelas Além do tempo” inicia-se em 1961 no auge da Guerra Fria, e é aqui que conhecemos a história de três mulheres que atingiram o “inalcançável” em meio a esse momento tão emblemático que os Estados Unidos vinha transitando, mais do que segregação racial e machismo, o longa mostra como tudo isso colidiu durante a corrida espacial entre a União Soviética e os EUA. As três brilhantes mulheres em questão, são; Katherine Johnson (Taraji P. Henson) uma matemática que foi responsável por calcular as trajetórias e caminhos de regresso de emergência em diversas missões da NASA. Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) também matemática, foi a primeira mulher negra a ser promovida como supervisora de departamento na NASA (conhecida como NACA na época) e Mary Jackson (Janelle Monáe) a primeira mulher a adentrar o departamento de engenharia aeroespacial na NACA.

O filme discorre acima de tudo, sobre a amizade entre esses três ícones e como elas atingiram seus feitos históricos, sendo assim já podemos elogiar o trabalho do diretor que conseguiu orquestrar muito bem a química entre as protagonistas, sendo quase impossível não se apaixonar e torcer por cada uma delas.

A fotografia é elegante e transita muito bem com a sua paleta de cores que segue com tons pasteis oscilando em variações mais claras quando gravado dentro da NACA, e tons levemente mais escurecidos quando em seu exterior. Os enquadramentos mais fechados e distante das personagens, também são frequentemente usados quando há intenção de captar a intimidade de alguma das protagonistas, colocando o expectador em lugar de ‘espião’.

As cores da direção de arte dialogam bem com a proposta da fotografia e juntas conseguem refletir com facilidade e sutileza toda a essência dos anos 60. É de se observar em filmagens externas, a frequente aparição de cartazes remanescentes da campanha de John F. Kennedy, mantendo o público sempre atento a época proposta.

Quanto ao elenco não há grandes surpresas para quem já conhece o potencial das atrizes escaladas como protagonistas. Taraji P. Henson como Katherine Johnson traz confiança e esbanja conhecimento sem se quer precisar de uma demonstração exibicionista. Octavia Spencer (Dorothy Vaughan) consegue transmitir toda a leveza e carisma de sua personagem, e ainda assim manter-se atenta e preocupada com os acontecimento ao seu redor. Janelle Monáe vive a sonhadora Mary Jackson, e mesmo não sendo uma atriz tão consolidada como as colegas, consegue se manter firme e convincente. O elenco masculino não chega a ter grandes momentos aqui, mas as curtas aparições de Mahershala Ali provam o quão versátil o ator é, assim como Jim Parsons que carrega toda a carga de negação em relação a figura feminina de Katherine no departamento.

A direção de Theodore Melfi é bem precisa e consistente, conseguindo exibir personagens fortes e representativos sem ter que apelar para grandes martírios emocionais que acabaram tornando-se um clichê em filmes do gênero. Aqui tudo é bem dosado para que o público perceba e reflita naturalmente sobre as questões levantadas, sem precisar entrar em planto.

O roteiro no geral é tão belo quando o restante dos “ingredientes”, afinal é uma parte importantíssima no sucesso do produto final, no entanto há momentos que a história parece dar mais abrangência para uma das protagonistas em detrimento das outras, isso pode não incomodar a todos, mas ao término do longa fica uma certa angustia por não termos presenciado um aprofundamento maior de Dorothy e Mary.

Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures) é um filme com ampla abrangência histórica de um período riquíssimo culturalmente, mas mais do que isso, ele promove representatividade e levanta questões pertinentes até os dias atuais.

O filme estreou no final de dezembro nos EUA e deve chegar nos cinemas nacionais em 2 de fevereiro.

 

REVER GERAL
Roteiro
8
Direção
9
Atuações
10
Direção de Fotografia
9
Direção de Arte
10
Criador e editor da Cine Mundo, trabalho com conteúdo online há mais de 10 anos. Sou apaixonado por filmes e séries, com um carinho especial por Six Feet Under e Buffy The Vampire Slayer.