Crítica: Eternos

Tudo começou em 2008, o Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), com Homem de Ferro, estrelado por Robert Downey Jr., durante todos estes anos, a expressão que mais se ouvia falar era da fórmula Marvel e após 13 anos, o estúdio resolver mudar o seu tempero com Eternos um dos projetos mais ambiciosos em vários aspectos pela abordagem da história, elenco e a diretora Chloé Zhao,  ganhadora de Oscar por Nomandland (2020).

Eternos são fundamentais para a fase quatro, que vai desenvolver o universo cósmico da Marvel, eles foram criados pelo lendário quadrinista Jack Kirby e fizeram sua primeira aparição nos quadrinhos em 1976, nas histórias eles são uma raça de humanos superiores e imortais criados pelos Celestiais para defender o planeta Terra dos Deviantes.

Desenvolvimento dos Personagens

Ikaris (Richard Madden), Sersi (Gemma Chan), Ajak (Salma Hayek), Duende (Lia McHugh), Thena (Angelina Jolie), Kingo (Kumail Nanjuani), Gilgamesh (Ma Dong-seok), Druig (Barry Keoghan), Makkari (Lauren Ridloff) e Phastos (Bryan Tyree Henry) compõe os Eternos, é muita gente para apresentar. Então, os roteiristas Matthew e Ryan Firpo optam por dividir o elenco em duplas, o que funciona, mas o grupo em si parece ter pouco entrosamento apesar deles estar há sete mil anos em missão, juntos são meio desconexos. E no quesito atuação, o destaque vai para a Sersi (Chan) que entrega muito e não poderia ficar de fora o Druig (Keoghan) que tem falas pontuais questionando a sua missão e existência e o Dane Whitman (Kit Harington) que traz uma adição divertida ao filme nesse panteão de seres poderosos.

Tiro o meu chapéu para a representatividade da Ridoff que vive uma deficiente auditiva, o primeiro super-herói assumidamente gay, Phastos de Brian Tyree Henry. Além de ter pessoas de nacionalidades diversificadas como, coreano, indiano e etc… É uma quebra de padrões que deixa o coração do espectador mais quentinho.

É claro que outra dificuldade aqui latente e de certa forma compreensível é montar uma história de origem com diversos protagonistas, ainda mais quando nenhum personagem é realmente conhecido do público. É claro que com isso uns tem mais espaços e outros menos, já que em Vingadores (2012) tínhamos visto filme solo de alguns personagens, então no decorrer do longa era possível trabalhar bem as adições, aqui são deuses novinhos para a gente conhecer e uma porção de informação para assimilar, por isso dou um desconto neste quesito.

Desconstruindo Narrativas e Debatendo Filosofias

A dinâmica do filme transita entre o passado e o presente, e este vai e vem constante funciona como uma quebra, e acaba atrapalhando no ritmo da história, é importante a gente entender como eles se relacionavam com as fases da humanidade já que eles acompanham a evolução da raça humana desde a Antiguidade. Um momento a história é contada na Mesopotâmia em um acontecimento marcante e pula para Los Angeles nos dias atuais, poderia ter sido mais sutil e menos repetitivo para que fluísse melhor.

É coerente o ritmo é lento, é um filme de introdução, mas para quem gosta do DNA da Marvel pode acabar se decepcionando um pouco, é uma forma de contar a história de maneira mais contemplativa, já que são discutidos valores e princípios da humanidade e o dilema do super-herói e seres humanos. Toda a dinâmica dos Eternos é o que sustenta a história, mas não é tão sólida, ela parece faltar um fiozinho condutor para empolgar mais, o fato do filme ser lento não significa que ele é desinteressante, independente do seu ritmo, a sua função é prender a atenção do espectador e aqui nesse caso se torna um pouquinho cansativo pela repetição de padrão durante quase 3 horas de filme.

A Visão de Chloé Zhao

A direção de Chloé Zhao abrilhanta o filme entregando paisagens surpreendentes e construções de cenários bem diferentes do que estamos acostumados a presenciar nos filmes da Marvel. Ela é uma diretora de mérito realista e pragmática, uma direção bem diferente do que já vimos no MCU. É ousado, entregar o projeto a uma diretora inexperiente com filmes de grupos, seus projetos são mais intimistas e colaboraram para essa produção, mas ela poderia ter sido mais exitosa em ter trabalhado com um único super-herói em uma produção mais dissemelhante.

Eternos requer certa experiência em “filme de grupo” porque desenvolver dez personagens não é uma tarefa fácil, é um processo denso que requer não apenas talento, mas a impressão é que carece de uma expertise em descrever uma transição fluída da história evoluindo paralelamente da junção dos arcos dos personagens, o problema aqui não está em ser diferente, pois ter uma identidade mais forte é um grande passo para o estúdio e deve ser elogiado a coragem da Marvel.

Vale assistir?

É claro que sim, a produção foge da curva, e sempre que há uma mudança existem alguns pontos que precisam ser lapidados no decorrer do processo, estávamos sedentos pelo novo, então não podemos desconsiderar que o saldo final de Eternos é positivo.

Apesar de algumas questões que foram pontuadas no desenvolvimento de personagens, a dinâmica do filme e na direção a proposta merecem respeito, já que se trata de um filme mais independente por mais que haja menções e que ele seja parte integrante de uma nova fase, ele consegue se sustentar sozinho, além de ter uma grande diversidade e personagens que podem render muito nos próximos filmes, muito se falou de algumas limitações de Thena (Angelina Jolie), mas acredito no potencial da personagem e acho que ela ainda vai brilhar, penso também que podiam tornar os diálogos menos genéricos e abraçar o lado filosófico e até uma veia mais dramática, quem sabe?

Cada vez é mais legal que os filmes abracem gêneros vimos em Thor: Ragnarok (2017) e recentemente em Venom: Tempo de Carnificina (2021) abraçaram a comédia, dizem por aí que Doutor Estranho 2 (2022) vai pender para o terror, e eu torço para que mais inovações e novidades surjam para que possamos apreciar, e se você está na dúvida corre para assistir Eternos e tirar suas próprias conclusões.