Em “Florence: Quem É Essa Mulher?” somos apresentados a uma obra requintada e recheada de humor com doses de drama que nos conta sobre Florence Foster Jenkins (Meryl Streep), uma história real de uma socialite que se vê como uma incrível cantora, mas que para todos os outros é considerada um horror aos seus ouvidos, enquanto isso o filme também nos mostra os esforços do músico Cosmé McMoon (Simon Helberg) e do marido de Florence, St. Clair Bayfield (Hugh Grant) para manter a farsa da sociedade segundo os olhos da cantora.

Temos aqui um roteiro não muito elaborado dividido em duas etapas ao longo do filme, na primeira somos apresentados a realidade de seus personagens que cumpre bem seu papel, nos fazendo entender um pouco da Florence, Cosmé e do ator St. Clair. No entanto, na segunda etapa o roteiro comete falhas e tropeça em seu desenvolvimento, pois vemos personagens que não foram bem aprofundados sendo misturados na maluca trama dos esforços daqueles próximos a Florence que visam manter a mentira para o bem dela, e as vezes o longa parece não saber equilibrar o drama e humor.

Em determinados momentos é mostrado que Cosmé é um jovem músico dedicado a seu trabalho, e que o ator St. Clair mesmo casado e marido devoto a cuidar de sua esposa, mantém uma amante em outro apartamento, mas ambos jamais são trabalhados com a profundidade adequada, o que mantém nossa crença nos personagens é acima de tudo o carisma, por outro lado algo que a produção acerta muito são nas cenas incrivelmente engraçadas de Florence demonstrando seu amor pela música. É preciso, todavia, ressaltar a mensagem proposta aqui que serve para diversos críticos pois é preciso saber como irá usar suas palavras, afinal está lidando com seres humanos iguais, que podem sofrer ou entristecer com duras palavras contra o trabalho apresentado por mais terrível que seja a qualidade do talento da pessoa é preciso um certo nível de empatia para com o próximo na hora de manifestar sua opinião.

A direção aqui também é bem problemática, pois parece estar em um piloto automático, você não perceberá uma marca forte e por diversas vezes o filme se mostra parado entre as cenas hilárias de Meryl Streep, um problema de ritmo que o longa tem que lidar em vários momentos e que dificulta o prazer, mas não chega a nos cansar ou nos incomodar em excesso.

Agora um fator que o filme acerta absurdamente bem é em seu poderoso e carismático elenco, que nesse filme engraçadíssimo e cheio de glamour trazem belas atuações de Meryl Streep, Hugh Grant e Simon Helberg que compõem a experiência e em alguns momentos até nos emocionam e nos fazem acreditar nesse caso real da vida. Meryl Streep interpreta brilhantemente a inocente e simpática Florence Foster Jenkins, mas as atuações mais marcantes estão com Hugh Grant nos mostrando em seu St. Clair Bayfield um homem galanteador, charmoso e dedicado, já Simon Helberg ator mais famoso por fazer um coadjuvante em “The Big Bang Theory” aqui se mostra muito talentoso ao incorporar a figura do músico Cosmé McMoon, apresentado como um jovem estranho e um tanto perdido nessa loucura, mas que não esconde nutrir um certo carinho por Florence, o resto do elenco pouco aparece e pouco faz diferença no material, o trio segura o filme com maestria e é o porquê de querermos ver tudo isso até o final.

A Fotografia do filme está muito boa, mas nada fora do comum em filmes de época, usando muitos tons de sépia para compor o visual do mundo da alta sociedade de Florence e St. Clair Bayfield, com direito a tons azuis e sombrios na casa de Cosme nos mostrando suas origens humildes e simples.

A direção de arte é também uma das maiores qualidades, com uma recriação histórica de ponta repleta de cenários incríveis e figurinos elaborados, além de por diversas vezes ganhar ares teatrais em sua construção, um paralelo curioso com a produção que envolve fortemente o espetáculo.

“Florence: Quem É Essa Mulher?” é uma história divertida com um elenco de primeira e uma direção de arte bem elaborada, no entanto ele desliza muito em seu roteiro e na direção, mas mesmo assim consegue nos passar uma mensagem forte de empatia para levarmos conosco. O filme não conseguirá render um Oscar de melhor atriz para Meryl, pois existem concorrentes mais fortes com papéis mais marcantes nessa categoria, mas deve render trabalhos futuros para Simon Helberg, além de colocar Hugh Grant de volta ao mercado cinematográfico e com isso enfatizar o grande talento desse dois atores.

REVER GERAL
Roteiro
7
Direção
7
Atuações
10
Direção de Fotografia
8
Direção de Arte
10
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.