‘Forrest Gump’ é um nome emblemático e parte marcante da cultura pop. Quem não conhece essa obra dos anos 90, pode erroneamente achar que é mais um desses filmes que possuem um status maior do que a qualidade do material, mas definitivamente esse aqui não é um desses casos.
O filme, a grosso modo, narra a jornada de Forrest Gump (Tom Hanks), da infância à vida adulta, tudo contado pelo próprio protagonista durante o tempo em que espera seu ônibus chegar, o ponto curioso da narrativa é a ingenuidade do rapaz, caracterizado com um “QI” abaixo da média. Até aqui temos uma premissa interessante, mas pouco inventiva, porém essa impressão já é desmoronada logo em seu primeiro ato, quando o roteiro de Eric Roth ganha mais e mais camadas de profundidade e, o que antes parecia uma comédia descompromissada, torna-se um filme dramático recheado de ternura.
É através da excentricidade das atitudes de Forrest que nós somos convidados a acompanhar uma jornada que começa humilde e se aflora de forma grandiosa com o passar dos anos. Acontecimentos marcantes da história dos EUA são contados através da sua visão humana e ingênua, portanto prepare-se para viajar entre a guerra do Vietnã até o movimento hippie, além de outros grandes momentos da época. O roteiro se desenvolve em uma perfeita linha temporal linear e a usa para tecer críticas discretas aos pensamentos da sociedade de cada ano.
O elenco é simplesmente primoroso, inclusive, esse é de longe um dos melhores trabalhos da carreira de Tom Hanks. A sua interpretação aqui consegue manter-se equilibrada, com simplicidade, pouquíssimos exageros e muito carisma. Michael Connor faz uma breve participação, interpretando Forrest enquanto criança, e mesmo assim o ator da conta do recado e consegue construir um personagem que funcione como a essência da versão adulta, comandada por Tom Hanks.
O elenco de apoio tem basicamente duas importantes presenças, uma é a de Robin Wright (Sim, a Claire de House of Cards), que aqui vive o grande amor de Forrest, a traumatizada, Jenny e, Gary Sinise que interpreta o tenente Dan, uma figura inusitada que ganha um espaço cada vez maior na vida do protagonista. Ambos fazem um ótimo trabalho, com personagens sólidos e marcantes.
Todas essas interpretações bem polidas e cheias de nuances e originalidade, só foram possíveis graças ao trabalho exemplar do diretor, Robert Zemeckis. Mais do que conduzir o elenco, o diretor conseguiu imprimir sua visão de forma magistral, desenvolvendo o roteiro longo com leveza, sem que o mesmo ficasse cansativo ou transbordasse de redundância. Há uma mensagem clara sobre empatia, e isso é trabalhado do inicio ao fim do filme.
A direção de fotografia sabe articular suas possibilidades de forma estratégica, conseguindo extrair o melhor dos atores, e nos momentos certos, conciliando os planos mais fechados como ‘close ups’ e outros mais abrangentes como os ‘médios’. A paleta de cores, recheada de tons vibrantes, é coerente com as características de Forrest Gump e, auxiliam na hora de desenvolver esse personagem tão genuíno, que enxerga o melhor do mundo e das pessoas.
A direção de arte, tanto na composição dos cenários quanto dos figurinos, exerce um ardo e importantíssimo trabalho aqui, afinal o filme faz uma viagem no tempo passando por diversas épocas e manifestações culturais e artísticas que ditaram tendências na sociedade. Portanto, prepare-se para uma bela evolução estética no decorrer do longa, pois cada passagem temporal é muito bem delimitada e registrada, tando pelos objetos em cena, quanto pelos figurinos propostos e até mesmo pelas cores em evidência.
No final das contas, podemos concluir que “Forrest Gump” é um desses deliciosos casos no qual o tempo não corrói o material, mantendo-se firme como uma obra prima do cinema americano.