Enfim chega ao serviço de streaming do Netflix a série canadense “Frontier”, exibida originalmente pelo Discovery Channel e que agora que o Netflix assumiu a co-produção dela ela chega ao resto do mundo.

Seguindo a onda de seriados históricos que buscam alcançar o sucesso do público de “Game of Thrones”, já havíamos tido diferentes boas produções como “Klondike”, “Last Kingdom” e “Vikings”, agora chega uma história de sangue e guerra da fundação da América do Norte e da luta de nativos e europeus usando como base os conflitos do comércio de peles.

Aqui vemos a história de dois protagonistas em duas jornadas distintas que se cruzam, Declan Harp (Jason Momoa) em seu caminho de vingança ao fazer alianças para matar Lorde Benton (Alun Armstrong) e Michael Smyth (Landon Liboiron) que após, um incidente acaba perdido no Novo Mundo ao lado de Declan e com sua namorada Clenna Dolan (Lyla Porter-Follows) presa por Lorde Benton, fazendo com que ele tenha que escolher entre Harp e Celnn, ao mesmo tempo vemos outros personagens crescerem na trama que narra um drama histórico sobre o período da primeira exploração da América do Norte, onde veremos o confronto dos nativos da América do Norte com os comerciantes europeus de couro animal batalhando não só pela mercadoria como também pelo território.

Apresentando uma direção segura que consegue nos contar as dramáticas histórias de personagens, a série demonstra carisma e é recheada de politicagens bem escritas, no entanto, ela peca no quesito “ação” com sequências poucos empolgantes e sem ritmo que impressionam apenas pela brutalidade.

A fotografia possui dois tons que oscilam, nas cenas diurnas existe um bom uso das cores e das locações do Canadá sabendo caracterizar bem a região em tons de verde, branco e marrom, entretanto é em suas cenas noturnas que assim como em “Vikings” ela deixa a desejar, pois utiliza-se daquele filtro já muito usado onde pouco se enxergar e não é possível entender o que acontece, apesar disso em geral a direção está concisa e bem estruturada mantendo o ritmo da edição ao mesmo tempo que explora seu belíssimo cenário acompanhada de boa trilha sonora mesmo com certos problemas na ação.

A direção de arte está impecável, com figurinos e construções historicamente plausíveis nos fazendo acreditar no que está nos sendo mostrado, com grande riqueza nas diferentes vestimentas que compõem os diferentes personagens de diversas origens desde os ingleses e irlandeses até os nativos do Novo Mundo.

No arco principal temos o núcleo de Declan Harp e do jovem Michael Smyth, onde desenvolvem a vingança de Harp contra Lorde Benton ao mesmo tempo que vemos o amadurecimento de Michael que se inicia em seu caminho para resgatar sua amada Clenna Dolan que após um incidente em um navio Smyth acaba como clandestino em uma viagem para a América do Norte e com sua namorada presa, ao ser jogado dentro do mundo de politicagens e vingança do comerciante Declan Harp ele assume para si a luta e a causa de Harp e aos poucos vai mudando sua personalidade e sua forma de pensar. Já em sua subtrama inúmeros personagens em meio aos grandes interesses vão aos poucos colocando suas peças no complexo jogo de xadrez entre as companhias de comerciantes, mas o grande destaque fica para o crescimento do ambicioso Capitão Chesterfield e o desenvolvimento de sua relação com a esperta Grace Emberly.

O roteiro é bem estruturado em uma trama de vingança, política, cultura nativa da América e traça a ascensão de alguns personagens. No entanto, existem algumas ressalvas, em determinados momentos após o meio da temporada alguns personagens são esquecidos e vários outros apresentados o que atrapalha um pouco seu ritmo, pois vemos alguns problemas no desenvolvimento do arco em seu segundo ato, que felizmente são em parte resolvidos quando retomam tais personagens em seu terceiro ato.

Em sua primeira temporada o roteiro depende muito das atuações que aliás estão quase todas muito adequadas, com destaque para Jason Momoa como Declan Harp, Evan Jonigkeit como Capitão Chesterfield, Zoe Boyle como Grace Emberly e Landon Liboiron como Michael Smyth, que encarnam brilhantes personagens carismáticos e intensos que fazem a temporada fluir com muita leveza. Alun Armstrong também faz bem seu inescrupuloso e cruel vilão que gera nojo e raiva em certos momentos do terceiro ato da história, Evan e Zoe possuem uma incrível química com sua relação conturbada que envolve muitas manipulações e um certo carinho e tensão que um tem pelo outro, tornando suas cenas alguns dos melhores momentos. A química de Michael e Declan também está ótima em uma relação de mentor e discípulo sendo pouco desenvolvida entre ambos atores carismáticos que dão o tom de “Frontier”.

Há também outras boas interpretações que devem ser mais aprofundadas em uma próxima temporada como Shawn Doyle vivendo o irônico e frio Samuel Grant, Katie McGrath como a imponente Elizabeth Carruthers e Christian McKay como o divertidíssimo e engraçado Padre Coffin.

Podemos concluir que “Frontier” se saiu uma grande e promissora série que conseguiu apresentar bem seus personagens e seu universo nesses primeiros oito episódios, que mesmo apresentando alguns problemas de orçamentos em produzir sequência de ação é perceptível o enorme potencial que a temporada carrega, e como as próximas temporadas terão adição do envolvimento da Netflix, a produção só tem a crescer e se tornar forte concorrente de outras como “Vikings” e “The Last Kingdom”.

REVER GERAL
Roteiro
8
Direção
9
Atuações
8
Direção de Fotografia
7
Direção de Arte
9
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.