Após uma longa espera, finalmente conseguimos ver a conclusão da primeira temporada de “The Get Down” e podemos dizer que a série só sobe seu nível à medida que os episódios passam.
O drama musical mistura fatos reais e ficção para falar sobre o surgimento do hip-hop, nos subúrbios nova-iorquinos no final dos anos 70. A história é contada do ponto de vista de Ezekiel Figuero (Justice Smith), o “Zeke”, um jovem garoto com uma família disfuncional, mas cheio de um talento incrível com rimas e palavras. Zeke é apaixonado por Mylene Cruz (Herizen F. Guardiola), filha de um pastor severo e conservador que sonha em se tornar uma grande cantora de sucesso de Disco, paralelo a isso ele começa a dar seus passos através do hip-hop com o grupo “The Get Down Brothers”, formado por seus amigos.
A história continua a jornada de Zeke e Mylene para o sucesso em suas carreiras musicais e aprofunda as relações dos personagens na medida em que precisam lidar com duras escolhas e descobrir um caminho a seguir. A trama se divide em três arcos, Mylene indecisa entre agradar seu pai e conquistar sua independência, Zeke segue em sua jornada de vida dupla tendo o trabalho aceito pela sociedade no Bronx e dedicando suas noites ao “The Get Down Brothers”, já Shaolin Fantastic (Shameik Moore) vive entre administrar o grupo e trabalhar como traficante para Fat Annie (Lillias White).
Mas se a primeira parte voltava o foco para Zeke e Shaolin, essa dá grande espaço para Ra-Ra (Skylan Brooks), Boo-Boo (Tremaine Brown Jr.) e Dizzee (Jaden Smith) se desenvolverem e ganharem mais personalidade e até levarem a trama rumo a grandes reviravoltas. Além disso, acompanhamos a conclusão do arco familiar do Pastor Ramon Cruz (Giancarlo Esposito), Mylene, Papa Fuerte (Jimmy Smits) e Lydia Cruz (Zabryna Guevara). Tudo culmina para fazer da conclusão dessa temporada algo tão forte quanto seu início, de forma que aqui tem direito a um clímax que simboliza todo o universo feito até o momento, além de personagens colocados em lados opostos a fim de levantar várias dúvidas sobre o caminho que a série terá, mas ao que parece aprenderemos muito mais de Shaolin Fantastic no próximo ano.
Vale ressaltar também que essa segunda parte explora mais cenas musicais no presente com rimas e letras que contextualizam e refletem sobre os eventos dos episódios.
A temporada apenas falha em um momento onde concluiu-se rápido demais um arco familiar envolvendo Mylene Cruz e o Pastor Ramon Cruz que embora seja um dos momentos mais marcantes da temporada, poderia ter se expandido muito mais e se desenvolvido no próximo ano.
Mas não é apenas no script que a série mantém sua ótima qualidade como também com os incríveis movimentos de câmera aliados ao uso detalhado de cores psicodélicas que simbolizam a época, ou seja, tudo que já havia sido visto no ano anterior com uma pequena diferença, agora usa-se animações em várias partes da temporada, algo que poderia soar estranho, mas combinou brilhantemente com o estilo surtado de “The Get Down”.
O elenco também está ótimo assim como no ano anterior, mas logicamente alguns atores e atrizes se sobressaem. Entre eles estão mais uma vez Justice Smith como Zeke, Shameik Moore como Shaolin Fantastic e Herizen F. Guardiola como Mylene, todos dão muitos passos com seus personagens que passam a evoluir e se transformar cada vez mais em arcos profundos e elaborados dando um grande show de atuação. Mas há também grandes avanços entre os coadjuvantes, entre eles: Skylan Brooks como Ra-Ra, Tremaine Brown Jr como Boo-Boo e Jaden Smith como Dizzee trazendo cada vez mais carisma e camadas para seus personagens. Ainda assim, é nas relações entre eles que o elenco triunfa mais uma vez, seja de Shaolin com Zeke, Shaolin com Boo-Boo ou de Zeke com Mylena, mas é claro que não podemos esquecer também das poderosas e intensas interpretações de Giancarlo Esposito como Pastor Ramon Cruz e Jimmy Smits como Papa Fuerte.
Quanto à direção de arte da série, temos que dar muitos elogios aos figurinos e cenários mais uma vez, pois é perceptível que estão muito bem elaborados e ricos em seus detalhes, além de serem extremamente contextualizados com o período em que a história se passa, já em questão dos cenários eles se desviam um pouco do foco das ruas e passam a desenvolver ambientes mais fechados do Bronx.
Para finalizar precisamos falar de um dos pontos mais fortes, sua direção. Baz Luhrmann está muito focado em criar toda essa viagem louca e entorpecida no mundo da cultura negra do Bronx nos anos 70 e como sempre ele se mantém firme e forte com seu estilo autoral frenético, único e cheio de carisma.
“The Get Down” conclui a segunda parte de sua primeira temporada de forma emocionante e divertida trazendo várias conclusões para arcos estabelecidos, e ainda gerando muitas perguntas sobre a jornada de Mylene Cruz, Zeke Figuero e os “The Get Down Brothers”. No fim a dúvida que fica é se sem a criativa mão de Baz Luhrmann na direção a série se manterá com toda sua beleza e espírito.