Após anos, enfim temos o primeiro longa do aracnídeo dentro de sua casa, a Marvel, e o resultado não poderia ser melhor.

Desde a sua introdução em “Capitão América: Guerra Civil” muito se perguntou sobre o caminho que seria feito a seguir, se havia algo de novo para ser mostrado e quais os privilégios de iniciar uma nova franquia do herói. Todas as dúvidas foram devidamente respondidas.

Sem mais delongas, falemos do filme. Na trama o jovem Peter Parker (Tom Holland), divide seu tempo entre a vida de Homem-Aranha e os estudos do colégio, mas agora também precisará lidar com a ameaça do vilão Abutre (Michael Keaton), ao mesmo tempo em que começa a aprender como utilizar a tecnologia que Tony Stark (Robert Downey Jr.) disponibilizou para ele.

O roteiro é devidamente amarrado e flui bem em uma inusitada mistura de comédia juvenil e aventura de super-herói em escala menor aos outros filmes do estúdio, recheado de diversas referências tanto de quadrinhos dos anos 60, como da geração “Ultimate” de Miles Morales e também das novas hqs como “All-New All-Different Marvel”, além de filmes clássicos dos anos 80, entre eles “Clube dos Cinco” e “Curtindo Adoidado”.

Há também um bom trabalho no desenvolvimento dos personagens, seja nas relações de Peter e sua Tia May ou com seu amigo Ned e com o mentor Tony Stark. Toomes é outro que se destaca como um vilão crível e real que fornece o tom certo de vilania e ameaça ao herói. O único ponto negativo se encontra em Liz, que não evolui muito bem dentro da trama, além da história que poderia ser um pouco mais curta. Por fim, como todos sabem o humor é sempre presente nas produções da Marvel, mas aqui funciona melhor devido à natureza do herói, algo semelhante ao que foi feito em “Guardiões da Galáxia”, “Homem de Ferro” e “Homem-Formiga”.

A direção de fotografia é cheia de vida, colorida, mas sem ser psicodélica, o que traz uma estética adequada ao “Cabeça de Teia” dentro da comédia aventuresca, além do uso de movimentos e enquadramentos mais pessoais e íntimos, tanto nas cenas de ação quanto na narrativa que acompanha o cotidiano do colégio de Peter.

A direção de Arte possui boas ideias para nos apresentar cada personagem através de suas roupas, seja na popular Liz, no nerd Peter ou na estranha Michelle, personificando cada um deles de forma carismática, além é claro do ótimo design encontrados para os heróis e vilões. O Homem-Aranha tem uniformes que fazem referências a diversas fases do herói desde Guerra Civil até as versões mais atuais, mas sua maior inspiração está nos anos 60, enquanto o vilão Abutre, entretanto, possui uma forte atualização em relação a sua origem com uma concepção que dialoga com a ideia dele ter sido feito a mão, a partir de destroços de batalhas dos Vingadores. Quanto aos cenários, o filme não traz nada de incomum em relação a outros longas da Marvel.

A direção do longa também ajuda muito o processo do reboot, pois entende-se que esse é mais que um filme de herói, é também um filme de personagens e, acima de tudo, sobre jovens e ação em uma escala menor, guiando muito bem esse pequeno universo da vizinhança de Nova York e da realidade do colegial, sabendo usar bem as sequências heroicas do aracnídeo dentro do proposto pelo ágil e divertido roteiro. Fora isso, é preciso elogiar a escolha da trilha sonora que faz uma boa homenagem ao tema clássico do “Homem-Aranha” e compõe boa parte do longa com músicas que trazem o espírito dos anos 80, indo desde Ramones e Rolling Stones até nomes como Spoon e A Flock of Seagulls, cada qual bem colocada na trama e auxiliando o ritmo da narrativa.

E por último falemos do elemento mais forte e principal garantia do sucesso aqui, seu elenco carismático e eficiente. Com nomes como: Tom Holland, Jon Favreau, Robert Downey Jr., Michael Keaton, Zendaya, Marisa Tomei, Laura Harrier, Tony Revolori, Donald Glover, Michael Mando, Jacob Batalon, Michael Chernus entre vários outros.

Ao longo da produções temos diversas performances marcantes seja de Zendaya como a estranha Michelle, ou de Tony Revolori como o irritante Flash Thompson, ambos pontuais e bem divertidos, mas quem rouba a cena é Tom Holland como Peter, afinal conseguimos enxergar suas falhas, qualidades, desejos e emoções do adolescente que ao mesmo tempo que lida com questões da puberdade e do colégio, ainda tenta a todo custo se tornar um herói merecedor de ser um Vingador. Outro que também está ótimo é Michael Keaton (ator que antes já havia interpretado Batman no filme de 89 de Tim Burton), com um vilão humano e realista em Adrian Toomes/Abutre, que possui fortes motivações em seus atos, além de representar um bom adversário e ameaça para a narrativa, mas sem cair nos clichês de inimigos megalomaníacos frequentemente vistos nessas obras.

Além disso, ainda enxergamos uma boa química entre o Peter Parker ansioso e inexperiente de Tom Holland e o simpático e cômico Ned Leeds que juntos possuem uma relação de parceria e amizade que leva o filme adiante. Outra boa relação trabalhada aqui, é a de Tony Stark (Robert Downey Jr.) com Peter, que devido à sua história como super-herói, exerce o papel de mentor e guia do jovem Parker. Há ainda, em menor escala, Marisa Tomei como Tia May dando uma ligação familiar interessante com o jovem herói que poderá ser mais aprofundada no futuro, o ponto fraco de seu elenco reside mesmo em Laura Harrier como Liz, a garota popular que é o interesse amoroso de Peter, que além de não possuir profundidade ou carisma, é bem superficial em relação ao resto do elenco. tornando esse seu único deslize dentro do casting do filme.

Homem-Aranha – De Volta ao Lar é uma produção que não possuía o apoio popular, em parte por ser um reboot recente demais e também devido as grandes divergências em comparação as outras adaptações, as mesmas que sofreram os longas de Andrew Garfield, entretanto, Jon Watts, Kevin Feige e Amy Pascal superaram essas adversidades ao inserirem o espírito dos anos 80, por compreenderem não só Peter Parker como os jovens em geral, os tratando com o devido respeito assim como John Hughes o fez em “Curtindo a Vida Adoidado”.

E assim, conseguiram entregar um longa de herói de ar mais humano e em menor escala, focado em seu personagem (um acerto que a Marvel já havia feito no primeiro “Homem de Ferro” e em “Homem-Formiga” e deveria explorar mais vezes), além de beber nas mais variadas fontes do super-herói, mergulhando em décadas de histórias do Homem-Aranha, conseguindo conciliar elas em uma comédia/aventura que merece ser vista e revista por muitos anos. Esperemos que se mantenham com essa mesma pegada na sequência e, sabendo que ele retorna ano que vem em “Vingadores: Guerra Infinita” e que será um dos alicerces do mundo da Marvel após “Vingadores 4” ao lado de Homem-Formiga, Pantera Negra e Doutor Estranho, a empolgação para o futuro da Marvel acaba de aumentar absurdamente.

REVER GERAL
Roteiro
9
Direção
10
Atuações
9
Direção de Fotografia
8
Direção de Arte
8
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.