Crítica: Indiana Jones e a Relíquia do Destino

Indiana Jones é uma das maiores séries de filmes, os clássicos de Steven Spielberg e George Lucas mudaram tudo no cinema de aventuras remodelando tudo que pensamos sobre os espetáculos cinematográficos.

As produções eram muito inspiradas em James Bond e clássicas aventuras dos anos 30 e 40, Indiana Jones unia a paixão por histórias pulp de George Lucas com a técnica de Spielberg e o charme carismático de Harrison Ford, assim se tornando esses filmes espetáculos perfeitos no conceito e execução que estão sempre brincando de aventura, mistério, fantasia e humor em grande estilo.

A franquia acabou sendo conhecida por altos e baixos, Os Caçadores da Arca Perdida (1981) é uma obra-prima só que Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984) dividiu opiniões e Indiana Jones e a Última Cruzada (1989) não alcançou o nível do primeiro mesmo se consagrando como um dos melhores filmes de aventura. E tivemos também Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008) que foi bastante odiado apesar de ter bons méritos e de haver certo exagero ao redor das críticas contra ele.

Logo havia um medo sobre como seria Indiana Jones e a Relíquia do Destino, principalmente porque não teríamos George Lucas e nem Spielberg no comando da aventura final do arqueólogo e estariam apenas como produtores, porém com direção de James Mangold que entregou grandes filmes como Logan (2017) e Ford vs Ferrari (2019) poderíamos esperar ao menos por algo interessante para essa nova história do personagem.

Felizmente, o filme se tornou a sessão prazerosa que o personagem merecia em um sua jornada final e acaba fazendo certas reavalições sobre idade e sobre quem é Indiana Jones, tudo isso sem deixar de ser a sequência legado que envolva o público e que entregue uma típica aventura do herói que acaba lidando com ecos de seu passado.

Na trama situada em 1969, Indiana Jones (Harrison Ford) se aproxima da aposentadoria mas devido a um novo perigo, deve colocar seu chapéu e pegar seu chicote mais uma vez para garantir que um antigo e poderoso artefato não caia nas mãos erradas. Ele deve confrontar o vilão Jürgen Voller (Mads Mikkelsen) e acompanhado de sua afilhada, Helena Shaw (Phoebe Waller-Bridge) impedir o curso da história mudar para sempre.

A direção de Mangold faz seu trabalho de emular os clássicos resgatando vários elementos seja como ecos de um passado com o vilão Jürgen Voller ou no contraste da jovem Helena Shaw com a figura cansada de Indy. O roteiro feito pelo diretor ao lado de Jez Butterworth, John-Henry Butterworth e David Koepp segue a estrutura clássica de aventura, ação e reviravoltas se parecendo com uma mistura de vários filmes em especial de Indiana Jones e o Templo da Perdição e Indiana Jones e a Última Cruzada.

Entre os destaques na ação estão a perseguição de Tuk-tuk, a sequência final do clímax e a belíssima introdução que nos transporta até o sentimento da trilogia clássica com grandes efeitos especiais para recriar o rosto de um jovem Harrison Ford em ótima dinâmica com Toby Jones, o que acaba trazendo o espírito nostálgico que percorre a história que se divide entre o apelo da nostalgia e o pensamento sobre a idade e passado. 

Alguns rostos antigos como Sallah (John Rhys-Davies) retornam ao lado de novas figuras como Helena (Phoebe Waller-Bridge) e juntamente com Ford trazem uma aura entre a leveza da aventura e a melancolia da idade avançada, logicamente essa é uma sequência legado mas encontra-se também uma visão curiosa ao pensar essa nostalgia e não apenas usar ela como artifício, existe consciência e até uma leve crítica ao apego no passado.

É uma história que diz muito sobre aceitar a idade e encontrar paz na vida, compreender que há ainda vida para ser vivida e lugares a serem vistos, o passado é importante mas não deve lhe definir no fim. Pois, através desse Indiana Jones vemos suas mágoas e tristezas, agora com ele precisando lidar com tudo isso e tendo a necessidade de se aventurar mais uma vez para impedir a vitória de nazistas.

Ele é o clássico personagem, mas envelhecido e conseguimos captar tanto através da atuação de Harrison Ford que oferece uma performance linda e divertida fazendo um contraponto com o vilão de Mads Mikkelsen que também está no caminho de resgatar o passado e reescrever ele com suas próprias ideias.

O elenco de apoio tem certa força entre diversos nomes como John Rhys-Davies, Toby Jones, Antonio Banderas, Boyd Holbrook e Karen Allen, mas acaba encontrando sua energia em Phoebe Waller-Bridge que destaca muito bem na relação com Ford e na pequena mas emotiva cena com Allen que sintetiza o coração da franquia brilhantemente.

A conclusão tem os exageros típicos da franquia e ganha uma escala fantasiosa, épica e cartunesca que pode dividir as pessoas, mas acaba sendo um dos momentos mais divertidos do cinema moderno. Além disso, dialoga com questões dos personagens e tudo é muito bem acompanhado pela trilha sonora de John Williams que torna o momento ainda mais icônico.

Lógico que esse novo filme não consegue a riqueza visual da câmera ou a qualidade mágica de Caçadores da Arca Perdida e nem todos os segmentos da história são bem trabalhados na narrativa, mas o essencial da aventura e do Indiana Jones está no longa com muito respeito a quem ele era nas mãos de Spielberg e George Lucas.

Isso sem contar que se mostra um dos melhores exemplos de como emular as clássicas aventuras em um cinema moderno nos entregando diversão, leveza, empolgação e a emoção de vermos Indiana Jones mais uma vez com Harrison Ford dando gravidade e coração ao herói amado.