“Eles flutuam Georgie. Eles flutuam. E quando estiver aqui comigo, também vai flutuar.”
“It – Um Obra Prima do Medo” (1990) é um clássico do terror, e é considerado por muitos como uma das melhores adaptações de Stephen King. Agora para iniciar os especiais da Cine Mundo trazemos a crítica do primeiro longa para você.
Originalmente pensado como uma minissérie de dois capítulos com 90 minutos cada, e depois transformado em um telefilme de três horas, a produção divide opiniões em meio à elogios e críticas.
A trama é situada na cidade Derry no Maine que intercala eventos dos anos 90 e da década de 80, onde é mostrada a infância dos personagens e o confronto com uma criatura que assume a forma do palhaço Pennywise. Nos anos 90, Michel Hanlon sente a presença do monstro e liga para o seu grupo de amigos, Richard Tozier, Eddie Kaspbrak, Stanley Uris, Beverly Marsh, Ben Hanscom e William Denbrough para cumprirem uma promessa de retornarem para a cidade caso “A Coisa” voltasse.
Durante o desenrolar da história vemos o mistério e o suspense crescer com os personagens em sua fase adulta atendendo ao chamado para retornarem à cidade natal devido a uma promessa antiga, em paralelo conhecemos a infância conturbadas do grupo de amigos, descobrindo os eventos que os transformaram nos adultos que são nos dias atuais e o confronto que tiveram com Pennywise, ou como é chamado pelos garotos, “A Coisa”.
A história sabe desenvolve-los bem quando crianças, extraindo terror não só do inimigo sobrenatural, como também de situações cotidianas, lidando com temas como bullying e relacionamentos abusivos, nos mostrando a evolução e amadurecimento do grupo de amigos, além de sua boa e emocionante interação entre eles. Infelizmente, em diversos momentos o filme acaba focando muito mais em Bill e Bev, tornando os outros personagens bastante rasos.
Entretanto, ao transitar para o presente, a produção perde o bom tom da interação emotiva, tornando-se apática, e cheia de subtramas. É a partir daqui que a minissérie começa a decair em uma estrutura que recorre incessantemente para flashbacks, que acabam atrapalhando a construção de cada um dos personagens e tornando o fim extremamente apressado e insatisfatório.
A direção de fotografia tem seus erros, e por diversas vezes se utiliza de recursos exagerados para evocar sustos, contudo após certo tempo eles param de acontecer e dão lugar a enquadramentos e ângulos de câmera bem funcionais para trabalhar as relações pessoais e o mistério da obra. Ainda assim, alguns cortes secos e sem bom ritmo impedem que tudo possa fluir melhor ao longo das três horas de filme.
A direção de arte é bem caprichosa, construindo um visual para Pennywise que em um primeiro momento se assemelha a um palhaço comum e inofensivo. Os outros personagens têm figurinos que dialogam com a época e com as caraterísticas que cada um deles possui, o que acaba ajudando a diferenciá-los e dar mais carisma para o “Clube dos Perdedores”.
A maquiagem e os efeitos estão notavelmente datados, e apesar de destacarem pequenos detalhes assustadores no vilão que vão desde as garras até os dentes afiados, o uso de luzes e de uma criatura travada na sequência final atrapalham e evidenciam os poucos recursos da época.
O elenco se sobressai graças as crianças interpretadas por Jonathan Brandis, Brandon Crane, Adam Faraizl, Ben Heller, Seth Green, Emily Perkins, Marlon Taylor, e logicamente pela atuação icônica de Tim Curry como Pennywise/A Coisa, que imprimiu movimentos e uma voz aterrorizante ao palhaço que rendeu pesadelos para muitas crianças no passado.
O elenco infantil tem muita química e temos muito destaque para Brandis como Bill Denbrough, Green como Rich Tozier e Perkins como Beverly Marsh. Bill é carismático e traz uma dramaticidade boa para o personagem que perdeu o irmão, Beverly é uma garota doce e que possui um psicológico abalado por conta de seu pai, e Rich rouba toda a cena em que aparece, sempre proporcionando risadas e gerando um certo alívio cômico. O elenco adulto, no geral, entrega atuações convincentes, mas falta o bom entrosamento que vimos com as crianças, com exceção de Tim Curry como Pennywise e Annette O’Toole como Beverly adulta, não há grandes destaques aqui e isso é um dos motivos que fez o filme perder seu ritmo.
O diretor Tommy Lee Wallace (“Halloween III: A Noite das Bruxas” e “A Hora do Espanto 2”) dirige de forma segura e sabe direcionar sua equipe, mas deixa passar diversos erros, além de falhar ao adicionar contornos autorais em um filme que carece de um estilo próprio, é funcional, mas apenas isso.
“It – Uma Obra-Prima do Medo” mexe com os nossos medos e nos faz lembrar da nostalgia das amizades de infância, além de marcar o cinema com uma das figuras mais marcantes do terror. Muito do sucesso da obra deve-se ao texto original de Stephen King e a boa execução na primeira parte da minissérie, além da magnífica performance de Tim Curry como Pennywise. Existem defeitos é claro, porém no panorama geral, o saldo é positivo, e faz dele um clássico que merece ser visto e revisto.