Jackie dirigido por Pablo Larrain é de fato um dos filmes mais fortes na categoria de melhor atriz, graças ao desempenho de Natalie Portman interpretando Jacqueline Kennedy, no entanto será que o filme se destaca nas demais categorias que compõem a obra?

O enredo para muitos já é conhecido. Acompanhamos aqui os bastidores da casa branca após um dos crimes mais marcantes da história norte americana, o assassinato do presidente John F. Kennedy (Caspar Phillipson). Mais do que uma questão politica, a trama é totalmente focada na esposa do presidente, Jackie, essa que sem dúvidas foi a mais afetada com o ocorrido, pois além de presenciar o crime ainda precisa lidar com o luto em meio a um conturbado cenário politico sedento por esclarecimentos.

Com uma trama já explorada em outras produções, o roteiro e a direção escolhem por abordar a história com uma linguagem semelhante a de um documentário, no caso aqui, o filme começa com um jornalista entrevistando Jackie enquanto ela relembra o passado mediante as perguntas, o que em um gênero documental seriam as “reconstituições”. O filme segue essa estrutura do inicio ao fim, praticamente dividindo o processo em dois momentos, o atual e o passado. O problema dessa estética está em seu ritmo lento e cansativo que oscilam sem o menor controle do timing. Durante a exibição do longa torna-se normal uma cena interessante sofrer um corte seco para uma outra completamente distinta de forma totalmente anticlimática que não só desagrega valor a obra, como destoa o interesse do público em acompanhar o que vem em seguida.

O formato documental em diversos momentos também é reforçado pela direção de fotografia que usa movimentos de câmera que se assemelham ao gênero, dando a sensação de estarmos perseguindo a protagonista com a câmera na mão, porém os melhores momentos são quando rompem essa estética e somos contemplados por planos intimistas que focam na dor de Jackie ou enquadramentos abrangentes colocando a personagem em questão como apenas um detalhe em meio a toda grandiosidade que a cerca.

O problema dessa estética de entrevista com lembranças esporádicas, está na forma com que ela é conduzida retirando o charme de um longa de ficção sem trazer a veracidade de um documentário, expondo todo o desequilíbrio do diretor na hora de estabelecer as motivações necessárias para cada cena.

Em termos de atuações temos o fator que de fato sustenta todas as falhas do filme, o elenco no geral está confortável e sabe o que faz. Natalie Portman está incrível como Jackie e é sem sombras de dúvidas uma das melhores atuações do ano anterior, trazendo todos os trejeitos exóticos e preocupados da ex-primeira dama, transmitindo verdade em seu olhar e desespero sem entregar uma performance canastrona e exibicionista. O restante do elenco consegue apresentar resultados aceitáveis mas sem carisma suficiente para despertar interesse de quem assiste.

Quanto a direção de arte podemos dizer que é o segundo acerto significativo do filme, pois o trabalho entregue aqui é belíssimo e totalmente coerente com a época. Os cenários são grandiosos e causam um fácil deslumbro ao público, principalmente quando alinhado a fotografia colocando o personagem em questão como um mero detalhe de composição. O figurino também é marcante enfatizando inclusive o impacto visual que a primeira dama exercia na industria da moda.

Outro detalhe que merece destaque é a sinfonia dramática e melancólica que acompanha praticamente todo o filme e em diversos momentos consegue dar suporte aos atores e tornar a trama fluída, mas ainda assim é fortemente prejudicada pela edição e seus cortes inusitados.

Jackie tem um roteiro simples que se compromete em contar o básico acerca da história em um formato pouco atrativo, a direção não é solida e parece não ter controle do que está tentando transmitir e por fim a edição é totalmente imprecisa conseguindo romper de forma ríspida as melhores partes da obra. Podemos dizer que o filme é um estudo delicado sobre o luto em um cenário politico, mas nesse mesmo ano fomos apresentado a Manchester à Beira-Mar que traz uma mensagem parecida em um ambiente muito mais simples, mas com uma execução infinitamente superior.

Jackie portanto é interessante para quem viveu os anos 60 ou gostaria de conhecer melhor sobre a icônica Jacqueline Kennedy, o longa consegue entregar uma atuação incrível de Natalie Portman assim como sua direção de arte, mas no restante é totalmente esquecível.

 

REVER GERAL
Roteiro
5
Direção
5
Atuações
9
Direção de Fotografia
7
Direção de Arte
9
Edição
4
Criador e editor da Cine Mundo, trabalho com conteúdo online há mais de 10 anos. Sou apaixonado por filmes e séries, com um carinho especial por Six Feet Under e Buffy The Vampire Slayer.