Crítica: Jogo Perigoso (Netflix)

Adaptar obras literárias para as telas são sempre um grande desafio. No caso de Jogo Perigoso, adaptação feita pela Netflix do livro “Gerald’s Game” de Stephen King, a dificuldade era ainda maior, já que quase toda a trama se passa em um quarto, com apenas um personagem em cena.

Crítica: Jogo Perigoso (Netflix)

Mike Flanagan foi o diretor responsável pela missão e ao lado do roteirista Jeff Howard conseguiu entregar um ótimo resultado. Flanagan tem conquistado visibilidade pelas suas direções em filmes de terror, como Ouija (2016), Hush: A Morte Ouve (2016) e O Espelho (2013).

Em Jogo Perigoso, o casal Jessie (Carla Gugino) e Gerald (Bruce Greenwood) viaja até uma casa afastada para apimentar a relação com jogos sexuais. A fim realizar um fetiche de dominação, Gerald algema Jessie à cama e o terror começa quando ele tem um ataque do coração e morre.

Interpretando Jessie, a atriz Carla Gugino entrega uma belíssima atuação, fazendo despertar no público os sentimentos de agonia e desespero que afligem a personagem. Os enquadramentos de cena também auxiliam na imersão do espectador na trama.

Sozinha e presa à cama, Jessie começa a ser atormentada por lembranças do passado, além de precisar lidar com a presença de um cachorro que entra na casa e começa a rondar o corpo do marido, buscando por carne.


A estratégia utilizada para materializar os pensamentos da personagem foi personifica-los ora no marido morto, ora na imagem da própria Jessie. Com isso, a trama consegue driblar a monotonia que tinha grande chance de afundar a adaptação.

Alguns flashbacks também são inseridos no desenvolvimento da narrativa, fazendo o público conhecer um pouco mais sobre a infância da personagem. A atriz Chiara Aurelia interpretou Jessie durante a infância e entregou um bom trabalho diante do forte conteúdo retratado nas cenas de flashback.

 

O incrível nas obras de Stephen King está justamente no desenvolvimento das histórias, onde de modo geral tudo se mostra ser muito mais complexo do que se parece. A premissa, por exemplo, de um jogo sexual pode parecer bastante rasa e não despertar o interesse do público, mas o desenrolar da trama faz menção a questões pesadas, como a pedofilia sofrida pela personagem e suas consequências durante a vida adulta.

As críticas a assuntos graves são sempre inseridas nas obras do autor, de uma forma peculiar característica de King, e assim, enriquecem a narrativa.

Jogo Perigoso carrega uma carga de tortura psicológica, é agonizante, claustrofóbica e extremamente perturbadora. A tomada final acabou se destoando da qualidade da adaptação e não foi muito bem explorada, mas se fez necessária para manter o conteúdo fiel ao livro.