James Wan é um dos grandes diretores da atualidade e muito disso ele deve a franquia “Jogos Mortais (Saw)” que foi filmado inicialmente como um curta em 2003, e no ano seguinte foi adaptado para longa-metragem, arrecadando uma legião de fãs ao redor do mundo. Apenas um ano depois, o filme ganhou uma continuação, e posteriormente outras cinco sequências, onde James Wan esteve atuando apenas como produtor executivo, pois passou a se dedicar em outros projetos como “Gritos Mortais” e “Sentença de Morte”, ambos de 2007.

Ninguém pode duvidar da originalidade de “Jogos Mortais”, e o quanto ele foi marcante para a história do cinema de terror. Em sua trama, duas pessoas são colocadas dentro de um banheiro e a resposta para isto será emitida através de um Walkman (aparelho muito característico da época). Adam (Leigh Whamel) é o primeiro a ouvir a gravação, que o questiona sobre a sua falta de empatia e o seu jeito patético de viver. Logo em seguida, o Dr. Larry Gordon (Cary Elwes) tem a sua conduta questionada por algumas ações de sua vida pessoal, e o desafio dado ao doutor é matar Adam. Há uma boa premissa estabelecida aqui, e a mistura de terror com o suspense policial é interessante, mesmo que por ora alguns elementos gratuitos não colaborem para o andamento da história.

O filme trabalha muito bem em dois diferentes ambientes, que juntos formam sua linguagem característica: a jornada do policial e o terror psicológico das duas vítimas confinadas. Temos então o cenário bem elaborado e caótico do cativeiro onde os protagonistas estão presos, que é sujo e tem uma aparência nojenta e abandonada, agregando um clima de desespero nas cenas. Já durante o arco do policial, somos apresentado a locais mais urbanos e comuns, mas sempre usando uma certa organização, o que dá um leve contraste com a outra locação. A desordem só surge quando o investigador Tapp cruza com os casos do maníaco, nesse ponto, os figurinos também foram bem escolhidos, nos passando a identidade de cada personagem e as suas diferentes classes sociais, uma informação que será útil no desenrolar do longa, conforme enxergamos as divergências entre o Dr. Gordon e Adam.

A fotografia, assim como a arte, é pensada para complementar e dar vida para a visão de James Wan, usando-se de dois tons de cores contrastantes entre as diferentes linguagens do terror. O local do confinamento usa uma luz forte e dura em contato com tons de azul, cinza e branco, dando o aspecto de um terrível pesadelo que emula um pouco dos clássicos filmes B dos anos 80, mas com uma abordagem mais séria e cuidadosa. Há também enquadramentos e movimentos bem inusitados, além de uma edição frenética que toma conta do filme e cria uma estética surtada e autoral para esse, e para os próximos longas da franquia.

“Jogos Mortais” é um filme de terror que traz um vilão que é uma espécie de justiceiro e acredita que as pessoas devem aproveitar a vida da melhor maneira possível, julgando o que é certo ou errado, um conceito que depende dos princípios e valores de cada indivíduo. Nesse longa por exemplo, ele apresenta um rapaz, que em sua concepção não valoriza à vida por tentar se cortar, além de uma drogada, um homem que trai a mulher, entre outros. Quem toma atitudes moralmente incorretas, ou até mesmo criminosas e não são punidos pela lei, acabam se tornando uma vítima do psicopata e terão que participar de um jogo para se redimirem e continuarem vivos.