Jogos Mortais é uma franquia que teve seu início promissor em 2002, mas sofreu com o excesso de suas continuações. O sétimo filme, lançado em 2010, vinha acompanhado do título “O Capítulo Final”, prometendo encerrar a trama de uma vez por todas, mas ao invés disso acaba deixando mais pontas soltas em seu desfecho conturbado. Em Jigsaw, sete anos depois do filme anterior, nós voltamos ao cinema com uma forte incógnita trazida pelos trailers: Jigsaw está realmente morto?
Na história, 5 pessoas estão presas em uma sala diante de uma prova brutal que eles jamais imaginaram ter que vivenciar. Paralelo a isso, conhecemos uma nova equipe de investigação, que trabalha ao lado dos legistas para descobrir quem está por trás da nova onda de assassinatos. O interesse é que diversas pistas apontam para John Kramer, e o plot twist acerca desse mistério é uma das melhores coisas do roteiro.
O texto sabe como iniciar a história e realocar o público dentro da franquia que passou um longo tempo adormecida. Há uma forte nostalgia logo nas primeiras cenas, e isso é maravilhoso, as provas desse novo jogo são interessantes e criativas, conseguindo prender a nossa atenção do início ao fim. No entanto, os personagens são o maior problema e comprometem muito a experiência.
A personagem principal dentro do jogo, Anna (Laura Vandervoort), é talvez uma das mais carismáticas e interessantes da produção, mérito da atriz principalmente. Porém, o terceiro ato toma decisões que tornam todas as atitudes da personagem incoerentes com o que foi apresentado anteriormente. Essa mudança abrupta na personalidade da mulher, não é nada convincente e compromete o filme, além de carecer de uma explicação minimamente aceitável. Sem spoilers, você provavelmente me entenderá assim que assistir ao filme.
Com exceção de Anna, todos os outros personagens são fracos e pouco aprofundados, especialmente os investigadores. Jogos Mortais criou em sua franquia o hábito de desenvolver uma forte empatia pelos detetives do momento, algo que quase sempre partia o coração da audiência já que no final das contas eles nunca conseguiam vencer o psicopata por trás dos crimes. Já em Jigsaw, não temos nenhum mocinho pelo qual podemos torcer e acompanhar, todos os envolvidos no núcleo investigativo são apáticos, pouco aprofundados e parecem mais preocupados em descobrir se John Kramer está vivo, do que em procurar o cativeiro das vítimas que estão sendo testadas.
Se por parte do roteiro não há nenhuma preocupação em desenvolver os personagens, os atores que já não são bons, também não conseguem fazer milagre. À exceção de Laura Vandervoort, que é bastante carismática, o restante do elenco é totalmente esquecível, tendo até alguns destaques negativos. Podemos dizer, inclusive, que todos os envolvidos na investigação são extremamente fracos, principalmente Matt Passmore, que por ora parecia tentar reproduzir algumas falas decoradas, completamente engessado.
Tobin Bell, o nosso querido Jigsaw/John Kramer continua com a sua presença eminente e seu personagem icônico. O ator é o astro da franquia, e mesmo através de um áudio, consegue intimidar seus companheiros de cena. Vale ressaltar que o mistério sobre a sua morte e a possibilidade de estar vivo é um dos charmes do filme, mesmo que o desfecho não vingue a produção, provavelmente você irá se surpreender com a revelação em torno desse suspense.
“Jogos Mortais: Jigsaw” pode ser considerado um bom retorno para uma franquia excessivamente explorada, mas ainda conta com vários defeitos que são extremamente notáveis e incômodos. Ainda assim, é um longa que irá agradar muitos fãs com a nostalgia de diversas sequências que reverenciam os primeiros filmes.