“De Volta ao Jogo” foi um dos longas de ação mais comentados de 2014, e isso é fato, além de ter sido um divertido filme de ação ao estilo anos 90 ele nos trouxe o retorno de Keanu Reeves ao gênero com todas as lutas, tiros e explosões que tem direito, pois bem vamos recapitular um pouco do capítulo anterior antes de falar de sua sequência.

No filme anterior dirigido por David Leitch e Chad Stahelski, John Wick que antes fez parte de uma organização de assassinos, agora se aposentou da vida antiga para viver com a sua mulher, mas após seu falecimento ele é arrastado de volta ao passado quando matam seu cachorro que era a sua última ligação que possuía com a mulher.

O primeiro nos pega de surpresa pelo humor, frases de efeito, exagero com inúmeras referências aos anos 90 e uma ótima atuação de Keanu Reeves com um personagem que entra pra história do gênero de ação.

Em “John Wick: Um Novo Dia para Matar” a história mantém John como o centro em que um ex-associado obriga que ele volte a ação e suspenda a sua aposentadoria, um juramento envolvendo sangue faz com que ele retorne para atuar como assassino de aluguel disposto a seguir as regras, enfrentar as consequências e os matadores mais perigosos do mundo.

O roteiro aqui segue um caminho semelhante ao outro filme de pouco papo, vilão clichê e uma frase de efeito ligando na seguinte mas acerta em estabelecer seu universo e a mitologia do personagem envolvendo a organização de assassinos, sua ligação com o Hotel Continental e a variedade de assassinos carismáticos que caminham pela trama além de apostar em uma estética de videogame em um universo particular de tons futuristas. No entanto erra em estabelecer de forma coesa os três atos do longa, algo que é melhor elaborado em seu antecessor, aqui você encontra uma produção que possui várias cenas intensas de ação que vão muito além do tempo necessário e com pouca informação entre as sequências intermináveis de socos, facas e explosões, o longa segue intercalando esses pequenos momentos de histórias com frenéticas cenas até o momento em que chegamos ao final frustrados por todo caminho percorrido até então.

Quanto ao elenco temos erros e acertos, com vários nomes de peso como Laurence Fishburne, John Leguizamo, Ian Mcshane, Common, Lance Reddick, Keanu Reeves e Ruby Rose que só nesse ano já participou de “Resident Evil: Capítulo Final” e “Triplo X: Reativado”. Reeves é John Wick, astuto, um tanto mal-humorado e cheio de carisma como o herói da ação, Ian Mcshane é Winston, simpático, esperto e sempre com um ar um tanto cínico que age como proprietário do Hotel Continental e nos traz muitas informações desse universo, John Leguizamo cuja participação é menor nesse filme interpreta o amigo mecânico Aurelio, Ruby Rose faz Ares um dos grandes desafios de Wick junto de Common, conhecido dele que entra em conflito com o herói devido a um incidente, Lance Reddick faz o recepcionista Charon do Hotel Continental que mais uma vez surge em pontuais momentos que trazem certo humor e leveza, mas fora melhor utilizado na produção anterior e temos ainda uma pequena ponta de Laurence Fishburne como Bowery King que traz mais elementos do universos e estabelece alguns arcos para o terceiro capítulo.

Algo que se deve admirar nessa sequência é a técnica, sua direção de fotografia que dá um passo adiante em relação ao outro capítulo de Wick, a condução das imagens sabe explorar um visual característico quase como se esse mundo pertencesse a um universo futurista cyberpunk, com muitas cores vibrantes e neon, além de proporcionar incríveis ângulos e enquadramentos de cenas de ação requintadas e muito bem orquestradas.

A direção de arte e figurino estão bem de acordo com a proposta de seus personagens e do universo, com luxuosos ternos e roupas sociais que nos remetem à estética dos clássicos gun-fu do cinema de ação chinês do qual a franquia bebe regularmente desde o outro longa, mas não vão além do que já tinha sido colocado em “De Volta ao Jogo”.

Dito tudo isso, hora de falarmos da direção, que ficou abaixo do primeiro filme que possuía dois diretores, aqui Chad Stahelski assume sozinho o cargo de direcionar o novo capítulo de Wick, e o que se vê são cenas insanas e frenéticas de ação inspiradas em jogos como “GTA” e “Max Payne” ao invés das inspirações de filmes de ação da década de 90 que eram usados no anterior como base junto do estilo chinês de produção. Percebe-se a falta de um nivelamento desse material que necessita de melhor cuidado na edição além de melhor direcionamento entre os atos e isso atrapalha o entretenimento, talvez os diretores se complementassem com suas técnicas em “De Volta ao Jogo” com um assumindo a direção da ação e outro a direção geral, e percebe-se de forma gritante a falta que David Leitch faz no âmbito de conduzir a produção.

Concluindo, “John Wick: Um Novo Dia Para Matar” expande e estabelece-se como franquia com um universo carismático, rico e vasto a ser explorado, no entanto perde-se nos quesitos básicos de construção de um filme, por mais que contenha uma técnica impressionante. Agora é esperar para que saibam contornar os erros e colocar a franquia em seu lugar no terceiro capítulo.

REVER GERAL
Roteiro
7
Direção
6
Atuações
8
Direção de Fotografia
9
Direção de Arte
9
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.