“A conduta define o homem.”
Para quem desconhece a trama da franquia, Kingsman foi dirigido por Matthew Vaughn (X-Men: Primeira Classe, Kick-Ass), baseado nos quadrinhos de Mark Millar e fala sobre Eggsy (Taron Egerton), um jovem que vivia nos guetos de Londres e descobre, através do agente da Kingsman, Harry (Colin Firth) que seu pai era um agente. A partir daí ele começa seu treinamento para também se tornar um agente, paralelo a isso Harry precisa solucionar uma crise mundial e salvar o mundo.
O primeiro filme é muito bem-sucedido ao misturar espionagem dos anos 50 com super-heróis e humor negro ao estilo Quentin Tarantino, cheio de dinamismo, carisma, e cenas memoráveis.
A questão que perpetuava era se o próximo capítulo conseguiria manter o ritmo e o nível. E não é que fomos surpreendidos? Nessa sequência, a produção se sai sendo uma das melhores e mais coerentes continuações já executadas até hoje, respeitando cada passo dado e direcionando para uma potencial trilogia de tirar o fôlego dos nerds e entusiastas de ação e comédias obscuras, mas mesmo assim há ressalvas que devem ser ponderadas.
Na trama depois do ataque que os Kingsman sofrem, Eggsy e Merlin (Mark Strong) seguem aos Estados Unidos para encontrar os Statesman, uma organização liderada por um caubói bom de tiro chamado Jack e por Ginger (Halle Berry).
O roteiro tem uma estrutura tão boa quanto o original, mergulhando totalmente no gênero popularizado por James Bond, com a diferença de que Eggsy não está mais em treinamento, mas ainda é novato como agente, aqui eventos antigos são coerentemente levados em consideração, assim como são introduzidos mais elementos para mitologia do longa.
Ao longo da história surge uma antagonista vivida por Julianne Moore, ganhando uma dimensão global de aventura. Não demora muito e vemos novas e variadas situações e reviravoltas que impõem um ambiente inóspito para o herói, algo que infelizmente leva o roteiro a dar menos espaço para personagens como Roxy (Sophie Cookson), e o agente Tequila (Channing Tatum), mas por outro lado propõe certos valores narrativos.
Nesse filme o foco acaba sendo muito mais na amizade de Harry (Colin Firth) e Eggsy (Taron Egerton), além de sua relação de namorado com a princesa Tilde (Hanna Alström), ao invés do foco familiar que era dado no filme anterior. Há também uma boa e ácida crítica para a nossa sociedade, algo semelhante ao que havia sido feito no filme anterior, – falar estragaria a surpresa – mas é um assunto que renderá muitos debates.
A grade quantidade de informações acaba deixando o filme muito carregado, tornando o meio dele um tanto arrastado, mas felizmente a produção retoma a velocidade e somos bombardeados com muito humor e ação na medida certa, sempre transitando entre a paródia e a homenagem para a espionagem. O fato dessa sequência não ignorar os eventos do filme anterior e retomar a trama a partir desses acontecimentos, torna necessário assistir ao filme de 2014.
Aliás essa produção tem grande sucesso em seu script graças ao elenco, entre os nomes que mais tem destaque são Pedro Pascal, Juliane Moore, Mark Strong e Taron Egerton, seus personagens são os que mais se desenvolvem e conduzem o fio narrativo da aventura.
Egerton é um dos atores mais promissores dessa nova geração, ele vive mais uma vez o malandro jovem agente da Kingsman, com um charme recém-adquirido, mas que ainda tem traços de sua vida antiga. Strong faz o papel de mentor e único parceiro de Eggsy, já Pedro Pascal vive Jack Daniels, agente dos Statesman, um cowboy bom de tiro e pretensioso que acompanha os heróis.
A grande Juliane Moore faz uma vilã clássica e megalomaníaca, dotada de inteligência, oscilando sempre entre a sua psicopatia e a simpática, totalmente recheada de excentricidades. Além dela, temos o retorno de Colin Firth como Galahad/Harry, o charmoso e mortal agente que incorpora toda a elegância do James Bond dos anos 60, sendo que aqui ele é repleto de perturbações e está muito enfraquecido.
O longa também conta boas participações de Channing Tatum, Jeff Bridges, Halle Berry e do grande Elton John, esse aqui proporciona os momentos mais engraçados do longa. Os outros tem um espaço pontual e são apresentados para futuros filmes da saga, mas mesmo assim já mostraram seus potenciais, principalmente Bridges e Tatum que roubam todo foco sempre que aparecem.
As relações entre os personagens estão ótimas, desde a breve rivalidade entre Tequila (Tatum) e Eggsy (Egerton), até a relação de pai e filho conflitante, entre Eggsy e Harry, além da parceria de Eggsy com Merlin (Strong). Também há uma química forte e envolvente de Egerton, com Firth e Tatum com Strong, mostrando que a escalação dos atores e a direção acertaram em cheio.
Um elemento que ajuda muito é a direção de fotografia que continua incrível, feita com o mesmo estilo inconfundível do primeiro longa, com cores fortes e vibrantes dos anos 50 e usando bastante sépia para contextualizar a época. Ainda assim, o triunfo aqui está em seus enquadramentos, a câmera gira, se aproxima, e se afasta com uma velocidade muito alta, nos fazendo mergulhar em cada cena quase sempre com a presença de slowmotion e planos sequências, que nos oferecem a dimensão total dos acontecimentos.
Claro que também temos a direção de arte, seja pelos cenário da lanchonete que forma o covil da vilã ou pela base dos Statesman, que traz referências ao mercado de bebidas dos EUA misturando com o universo bizarro dos espiões da Kingsman e as suas tecnologias de ponta. Os figurinos também foram bem caprichados, ambos bem vestidos e com uma clara diferenças entre os cowboys e os cavalheiros britânicos, o design rudimentar é exagerado no braço biônico e no visual de CEO da vila, se distanciando do que imaginamos de uma traficante de drogas, mostrando mais um grande requinte para essa produção.
“Kingsman: O Círculo Dourado” se consolida como um grande sucesso para os fãs, conquistando ainda mais o coração do público com a sua mistura de paródia e homenagem ao estilo das aventuras de espionagem, recheada de humor negro e ação colossal, dando significativos passos para a construção de uma forte mitologia, além de ter tido um final que nos deixa curiosos e empolgados para o futuro. Que venha Kingsman 3!