Kong, o rei da Ilha da Caveira é um icônico personagem que já protagonizou diversas versões cada uma em sua época, houveram filmes em 1933, 1976, 1986 e 2005 cada qual à sua forma, mas nenhum tinha o peso de seu clássico, o novo no entanto evita comparações pois aqui se remodela e reinventa toda a franquia dando uma mitologia à sua ilha, contextualizando com “Godzilla” (2014) e colocando em prática o universo compartilhado de monstros gigantes da Legendary com uma mistura de conceitos de “King Kong” de 33, “Indiana Jones”, “Apocalpyse Now” e os jogos “Pokémon” e “Shadow of Colossus” tendo a sombra da Guerra do Vietnã sobre todos os personagens.
William “Bill” Randa (John Goodman) e Houston Brooks (Corey Hawkins) formam uma equipe de cientistas escoltados por militares regressos do Vietnã e partem para a misteriosa Ilha da Caveira ao lado do Tenente Coronel Preston Packard (Samuel L. Jackson), da fotógrafa e jornalista de guerra Mason Weaver (Brie Larson), do rastreador e ex-Capitão de Guerra James Conrad (Tom Hiddleston) e o Major Jack Chapman (Toby Kebbell) lá no entanto acabam confrontando com o grande Kong e se separam em dois grupos, um guiado pela vingança e outro que segue rumo à sobrevivência nesse território recheado de nativos e criaturas peculiares.
O roteiro é raso e simples como um filme B antigo em preto-e-branco e ainda consegue trazer dentro dele uma visão aprofundada a essa variedade mitológica de criaturas e cenários da Ilha da Caveira, esses dois universos casaram muito bem com o tom de aventura e o espetáculo visual, que aqui se define muito bem em seus três atos, “Kong: A Ilha da Caveira” sabe o que é, para onde vai e o que quer de seu público, uma produção arriscada por seus absurdos e frases de efeitos baratas, mas sincero consigo mesmo, como um Blockbuster deve ser, além disso ele consegue em menor escala trabalhar os ressentimentos e angústias da Guerra do Vietnã que conseguimos ver de formas diferentes em James Conrad, Preston Packard entre vários outros soldados da história.
Vemos aqui um elenco de peso que em sua maioria entrega um bom trabalho para desenvolver essa trama com nomes como: Samuel L. Jackson, Brie Larson, Tom Hiddleston, Toby Kebbell, John Goodman, Jason Mitchell, Corey Hawkins, Jing Tian, Shea Whigham, Thomas Mann e John C. Reilly.
Samuel L. Jackson personifica Preston Packard, um imponente e obcecado pela Guerra Tenente Coronel que chega ao seu limite na ilha, é com ele que se desenvolve boa parte do arco do longa, Brie Larson tenta colocar carisma e humor na fotógrafa Mason Weaver mas ela parece não estar em sintonia, Tom Hiddleston consegue emplacar seu “Indiana Jones” britânico James Conrad, um ex-capitão que passa seus dias pegando trabalhos como rastreador, ele é esperto, carismático e traz uma figura heroica de líder sensato ao grupo, John Goodman é William “Bill” Randa, um homem perturbado e com um fanatismo quase religioso por sua expedição para a Ilha da Caveira, Shea Whigham traz em Earl Cole um personagem que mostra os reflexos da guerra em seus atos e que estabelece um paralelo bem interessante com Thomas Mann e seu Reg Slivko que é um jovem atrapalhado e bondoso que ainda não foi transformado pela Guerra do Vietnã e aqui se mostra muito ansioso pela volta para a casa, Toby Kebbell é um ator promissor que ainda precisa do papel adequado, aqui ele se dá bem no curto papel do Major Jack Chapman, que funciona como parceiro e braço direito de Packard, Corey Hawkins é Houston Brooks um geólogo parceiro de Randa que ajudou a elaborar essa expedição para a ilha, agora devemos dar palmas para John C. Reilly que faz o mais marcante com Hank Marlow, Tenente da Segunda Guerra Mundial que está perdido na ilha desde então com lapsos de insanidade, com um misto de covardia e devoção ao Kong, é também através dele que tomamos conhecimento sobre a mitologia do local além de trazer um arco dramático bem interessante e bem desenvolvido que traz certa sensibilidade no meio de toda a catástrofe do ambiente. Quanto as interações entre eles, estão quase todas ótimas, com a única abaixo sendo entre Hiddleston e Larson que parecem não funcionarem bem juntos apesar de formarem uma parceria que perdura por todo o filme, os soldados possuem muita sintonia entre eles, principalmente nas cenas que vemos Kebbell dividir espaço com Jackson e Thomas Mann e Shea Whigham, há também boas cenas de Goodman com química junto de Hawkins mas não tão marcantes.
Com uma fotografia que traz uma caricatura visual dos anos 70, mas que também sabe diferenciar as diferentes áreas da ilha, o longa sempre apresenta cores de modo fantasioso muito bem adequado ao tom da linguagem, que ainda conta com incríveis movimentos de câmera que valorizam os diferentes cenários e toda a loucura da ação desenfreada que e em momento algum se torna cansativa.
O que auxilia muito esse período histórico é a direção de arte e figurino que estão de acordo com os anos 70 e conseguem imprimir um pouco da personalidade de cada um através de suas vestimentas e acessórios ajudando muito a narrativa de aventura. Há também uma ótima construção dos cenários em particular dos diferentes espaços que a ilha possui, dando uma personalidade bem característica as várias faces da Ilha da Caveira tornando ela um personagem tão importante quanto o Kong ou os humanos.
Mas não podemos comentar de todos os artifícios visuais sem ao menos elogiarmos seus efeitos, apenas um simples aviso, se segure em sua cadeira ao assistir. Tiro, explosão, queda, lutas de monstros gigantes, criaturas exóticas tudo isso é sintetizado de uma forma que existe uma organização no caos proposto, e com design impressionante que nos fará querer rever várias vezes.
O novato diretor Jordan Vogt-Roberts se mostra não só um cinéfilo e nerd de carteirinha como um habilidoso contador de histórias ao desenvolver uma produção que visa o espetáculo e o absurdo das aventuras dos anos 30, com grande técnica na edição dando ritmo durante as duas horas de Kong, há também uma ótima escolha da trilha sonora toda embalada por grandes clássicos de Rock da época que dão ritmo e estilo para o reboot.
“Kong: A Ilha da Caveira” surpreende, diverte e empolga muito com sua mistura de referências pop feitas com muita técnica, além de abrir caminho para uma variedade de produções de monstros gigantes para o futuro. E fiquem atentos para a cena pós crédito que faz conexões com “Godzilla” e estabelece uma ligação com “Godzilla: O Rei dos Monstros”, próximo filme da Legendary.