Desde o anúncio que o terceiro filme de Wolverine seria o último de Hugh Jackman, muito se especulou do tom do material afinal até então não havíamos conseguido uma produção à altura do personagem, no entanto após o trailer depressivo ao som de Hurt de Johnny Cash e terem divulgado que haveria censura 18 anos, estava ficando evidente que estaríamos encarando uma produção de violência extrema e temas adultos, mas sem mais delongas vamos falar de “Logan”.
Na trama situada em 2029, após quase todos os mutantes terem sido exterminados pela Corporação Essex, Logan/Wolverine (Hugh Jackman) está envelhecido e com fator de cura enfraquecido caminhando por um mundo pós-apocalítico acompanhado de Charles Xavier (Patrick Stewart) que agora sofre de Alzheimer, juntos devem ajudar e proteger Laura Kinney (Dafne Keen) das mãos do mercenário Donald Pierce (Boyd Hollbrook) e seu grupo de super-soldados.
Nosso herói Logan se encontra em profunda dor do início ao fim, se remoendo por perturbações físicas e psicológicas em um mundo onde os mutantes estão em extinção, enquanto isso ele tenta lidar e cuidar de seu mentor, professor Xavier. Em meio a esses conflitos, Logan encontra na missão de proteger a jovem Laura a redenção para toda uma vida de remorsos, erros e poucos acertos.
O roteiro aqui segue a dinâmica de um road-movie com fortes influências de faroestes dos anos 70 e parece misturar elementos do jogo “The Last of Us” e dos filmes “Pequena Miss Sunshine” e ” Mad Max”. Ao longo da história percebe-se um elo de Logan com Laura crescer, também vemos aos poucos a relação de Xavier e Logan sendo trabalhada e aprofundada ao mesmo tempo que descobrimos muito do passado de Laura, nada aqui é auto-explicativo deixando muita informação subentendida, onde é preciso prestar atenção em seus detalhes, são os conceitos básicos do cinema tão esquecidos em blockbusters atuais sendo aplicados e isso é maravilhoso.
No decorrer da trama observamos a cada ato Donald Pierce se aproximar cada vez mais dos heróis, paralelo a isso somos absorvidos por sua estética que consegue nos fazer entender que aquele era um futuro distante e sombrio sem uso de textos expositivos. Vale ressaltar que apesar de grande ação o foco aqui são os personagens e seus conflitos internos e externos nessa história sobre uma família que ainda nos mostra um arco sobre o universo desses mutantes ser contado de maneira contida, com algumas grandes reviravoltas no segundo e terceiro ato que irão surpreender o público.
Tudo isso é bem apresentado por suas imagens em uma Direção de Fotografia impecável, com uma paleta de cores soturnas e ensolaradas aproveitando o clima sombrio da história e o cenário da fronteira com o México, há também um uso muito elaborado de enquadramentos e movimentos de câmeras com ângulos criativos em sequências de ação que não possuem muitos cortes, além do uso de planos fechados que auxiliam o drama e a utilização precisa dos cenários em planos gerais dando muita grandiosidade ao projeto.
Outro fator que estimula muito a produção é sua Direção de Arte que está ótima, através de elementos como figurinos e cenários desérticos somos transportados para esse futuro desolado distante da trama, que também consegue dar personalidade a cada local e personagem desde o vilão até o nosso herói, nos dando uma certa ideia de seu psicológico através de suas vestimentas que vão dos soldados do grupo de Pierce até Logan e Charles Xavier.
Mas como havia dito anteriormente essa estrutura se foca muito nos personagens, ou seja, grande mérito vai para seu elenco, pequeno, mas formidável com grande destaque para Hugh Jackman, Patrick Stewart, Boyd Holbrook e Dafne Keen. Jackman retorna ao seu amado personagem Logan, aqui representado em uma atuação com diversas camadas e demonstrando dor, remorso e muita impaciência, enquanto Stewart faz um Charles Xavier debilitado, resmungão e amargurado pelo passado, já Dafne encarna Laura, uma jovem mutante extremamente cabeça-dura e meiga. Holbrook faz o vilão Donald Pierce que é carismático, inteligente, levemente doentio e muito presunçoso. Todos muito bem em seus papéis, mas com certeza os melhores momentos estão reservados para as cenas de Jackman e Stewart com uma química admirável e para as cenas de Jackman com Dafne que também funcionam muito bem juntos personificando uma dinâmica de pai e filha bem incomum e elaborada.
James Mangold, diretor de filmes como “Johnny e June” e “Wolverine: Imortal” dá conta do recado, com uma direção diferente e muito pessoal e humana para um longa de quadrinhos, inspirado em clássicos de ação dos anos 70, com começo, meio e fim bem contados em uma mistura de crônica apocalíptica, família e drama sobre a humanidade dentro de nós, com incríveis cenas de violências pontuadas ao longo da produção.
“Logan” não só honra o personagem dos quadrinhos como dá um fim digno a ele e reinventa um gênero que já estava aos poucos entrando no piloto automático com filmes previsíveis e comuns. O filme pode não agradar a todos, mas com certeza se tornará um divisor de águas que levará a novas e diferentes adaptações ao cinema. Com seus dramas humanos e cenas intensas de violência, “Logan” se consolida como um dos melhores de todos os tempos dentro da temática de quadrinhos e representa mudanças que são acima de tudo necessárias.