Crítica: Loki (2ª temporada)

“Alguns propósitos são mais fardos que gloriosos”.

Em sua segunda temporada (e talvez última de Loki) nós somos arremessados em uma jornada temporal sobre as consequências dos atos do primeiro ano da série e que ousa pergunta a seguinte questão: “Qual o nosso propósito?”

A segunda temporada começa após a conclusão dos episódios originais, quando Loki (Tom Hiddleston) se vê em uma batalha pela alma da AVT, ao lado dele está Mobius (Owen Wilson), Hunter B-15 (Wunmi Mosaku) e personagens novos como Ouroboros (Ke Huy Quan) enquanto cruza caminhos com Sylvie (Sophia Di Martino), Juíza Renslayer (Gugu Mbatha-Raw), Senhorita Minutos (Tara Strong) e decifra a verdade do que significa ter livre arbítrio e propósito glorioso em vida.

Agora com o texto de Eric Martin e a direção engenhosa, divertida e eventualmente profunda de Justin Benson e Aaron Moorhead, a produção ganha ainda mais ares de quadrinhos pulp de ficção científica e séries britânicas e de início pode-se parecer estar se guiando através de um “filler”, mas logo tudo se desvia para uma história que busca colocar os personagens em um confronto com suas ações e tentar desvendar quem eles são como pessoas.

Loki é mais uma vez vivido brilhantemente por Tom Hiddleston que desenvolve ainda mais camadas cheio de um humor e carisma contagiante e uma sombra trágica, romântica e repleta de eloquência divina, há momentos sinceros e profundos onde a química explode dele tanto com Sylvie de Sophia Di Martino como também com Moebius, Owen Wilson mostra todo seu talento ao longo da temporada e temos ainda adições que exploram muito bem esse universo com Ke Huy Quan como Ouroboros, Rafael Casal como Brad e Jonathan Majors como Victor Timely.

Dependendo muito menos de um mistério para se apoiar, essa temporada brinca de gêneros embarcando em uma aventura onde o grande conflito é ao redor do tempo como um ser de horror cósmico imparável e cria novos conceitos a cada episódios e apesar de sofrer pelo número de episódios limitado (algo que causa certo problema na fluidez de algumas reviravoltas e subtramas) acaba construindo uma análise bem íntima sobre fardos, sentimentos e desejos.

É uma temporada que acaba por demonstrar o grande talento da direção de que inclusive já foi confirmada para assumir Demolidor e parecem ter muito interesse em fazer os novos filmes dos Vingadores, a dupla entende bem de construir personagens e explorar as relações deles e mesmo nas falhas você encontrará uma história envolvente.

Com seis episódios intercalando entre as obrigações de pontuar questões sobre Kang e suas variantes e grandes momentos que desenvolvem conexões de Loki com Sylvie e Moebius, há muito o que apreciar no trabalho de cenários, fotografia e narrativas visuais da produção que parecem mais consistente e esbanjando criatividade tanto em composições de planos como em elementos de fantasia e ficção científica.

O destaque maior fica na sua conclusão nos dois últimos episódios que demonstram escolhas bem apoiadas em bases clássicas de Loki, o final remete muito ao primeiro longa e suas aspirações simbólicas de tragédia, do divino e de peças de Shakespeare trazendo uma conclusão emocional e temática sobre aceitação, desejos e aprendizado na vida e com o tempo.

Tudo isso diz bastante sobre o mundo da série e os seus conceitos de ciclos e reflexões e se apoia muito menos em implicações futuras para o MCU, apesar que nada lhe impede de fazer teorias eu diria que é um ato desnecessário já que o fim nos mostra muito mais do que construções de eventos.

É uma temporada que não tinha muito para existir além de concluir certos arcos e o fato do sucesso do personagem, mas entre os recentes encerramentos de histórias da Marvel e o desgaste da fórmula é algo benéfico que a série tira proveito em muitas situações e apresenta um final digno para Loki sempre com domínio muito rico da arte de contar histórias.

E no fim é sobre isso, a série é sobre histórias e talvez não haja história mais triste que a desse Deus da Trapaça onde até mesmo suas maiores vitórias causam um sentimento de dor e onde o ciclo é inevitável, mas agora é o momento de parar de correr mesmo coberto por sentimentos tão agridoces.

Parafraseando um simpático personagem com um grande coração:

“Deixe o tempo passar”.