[Crítica] Luke Cage – 1ª Temporada

Em Demolidor foi exibido a trajetória de dois jovens e como eles seguiram caminhos opostos mesmo com um objetivo em comum, em tese a série abordou o que seria a formação de um criminoso, no caso o vilão Wilson Fisk. Já em Jessica Jones o cerne eram os relacionamentos abusivos em suas mais diversas estâncias, além disso sua proposta ousava as barreiras culturais do machismo e trazia consigo um leque de protagonistas femininas complexas e independentes. Agora finalmente em Luke Cage o vilão é o próprio sistema corrupto que não pode ser combatido nem com a morte, aqui a série leva a abordagem feita em Demolidor a um nível ainda maior, expondo esse sistema em um bairro quase totalmente composto por negros, abrindo as portas para as discussões acerca da segregação racial.

A história segue Luke, pouco tempo depois dos acontecimentos da primeira temporada de Jessica Jones e da segunda de Demolidor. O nosso herói agora tenta viver uma vida comum desvinculado de qualquer contato com a realidade de justiceiro e para isso ele passa a morar em Harlem, bairro esse em que se passa a toda a trama. Essa premissa simples permite que você se envolva com o protagonista deixando que ele conduza todos os estímulos e arcos do roteiro o que é muito funcional.

 

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A fotografia por sua vez é vibrante e, diferente das produções anteriores, não possui uma paleta de cores fixa, oscilando entre diversos tons conforme a narrativa necessita, sendo assim há momentos de predominância vermelha, verde, e até azulada.

O ponto mais interessante aqui é a construção das personagens que envolve o telespectador na proposta cultural da série. Luke é movido pela raiva que não consegue controlar, agindo muitas vezes por impulso, principalmente em relação a vingança. Misty (Simone Cook) é a policial que simboliza o meio puro e não corrompido da trama, todas as suas angústias e motivações são construídas de forma sutil que permitem que o telespectador torça por ela. Já Mariah é uma vilã essencialmente humana, o que a faz errar e acertar em mesma frequência, assim como seu primo “Cottonmouth” que é uma versão de criminoso ainda mais convincente que Fisk em Demolidor, essa construção de ambos alinhada a belas atuações de Alfre Woodard e Mahershala Ali respectivamente, fazem com que suas personagens sejam detestáveis, temidos e o mais interessante, nos permite reconhecer suas versões em nossa realidade.

As atuações, algumas já mencionadas, são impecáveis. Sônia Braga aparece em pouquíssimos momentos como a mãe de Claire, mas ainda que rapidamente ela faz bonito e é marcante. Tudo é muito bem orquestrado pela direção, essa que por sua vez extrai o melhor de cada cena, como em especial no final do episódio 9 que entrega uma das sequências mais angustiantes da série.

 

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Infelizmente o que acaba comprometendo a série é na concepção dos poderes de Luke, mesmo erro cometido em Jessica Jones. Aqui não há uma certa potência das habilidades em que o público possa se basear, há circunstâncias em que a personagem parece indestrutível, onde seus inimigos se machucam apenas tentado atacá-lo, porém esses momentos são tão comuns quanto os em que o herói é gravemente atingido por antagonistas tão “humanos” quanto os anteriores. Essas conveniências e contratempos criados para auxiliar o roteiro a contar sua história e gerar ação e tensão acabam criando dúvidas no telespectador e embora isso não desmereça o restante da trama, ainda é um grave defeito frequente nas séries da Marvel com a Netflix.

Não podemos deixar de comentar a trilha sonora que brilha e ofusca a trama na mesma intensidade. Há uma forte presença de musicas que vai de hip hop a Blues e muitas delas são um deleite ao público e até mesmo para a condução da história e construção da cultura do Harlem, porém alguns takes longos dando visibilidade unicamente a canção acabam deixando a narrativa cansativa e arrastada, porém felizmente esse problema não dura mais que 4 episódios. Já as trilhas não diegéticas que se fazem presentes em quase toda a série possuem momentos de destaque e outros anticlimáticos, sendo assim não é surpresa que em meio a uma cena dramática toque um som vibrante que cria uma ambiguidade de sentimentos inconvenientes.

No final das contas Luke Cage não é muito diferente de Jessica Jones ou Demolidor em termos de qualidade, mas se distância delas ao trazer um problema social novo a ser trabalhado e não se limitando em apenas apresentar um outro herói entregando mais do mesmo como em filmes e séries do gênero.

REVER GERAL
Roteiro
8
Direção
9
Atuações
8
Direção de Fotografia
10
Direção de Arte
10
Criador e editor da Cine Mundo, trabalho com conteúdo online há mais de 10 anos. Sou apaixonado por filmes e séries, com um carinho especial por Six Feet Under e Buffy The Vampire Slayer.