“Mãe!” é um dos filmes mais aguardados do mês, e graças a sua campanha de divulgação, criou-se uma atmosfera de suspense em torno do tema que o filme viria a abordar. Os próprios trailers divulgados deixam o conteúdo do longa extremamente escondido, e após assistir percebemos que esse mistério vai muito além de uma estratégia de marketing, e se mostra essencial para a narrativa, que é intrigante e recheada de reviravoltas.
Na história acompanhamos um casal que passa a ser atormentado por visitas peculiares e nada modestas. O brilho está justamente no fato de não sabermos as intenções de cada um desses personagens e muito menos o que o filme busca contar com eles. Pouco a pouco acompanhamos o desenrolar da trama que vai ampliando as nossas interpretações, culminando em um terceiro ato perturbador, insano, e satisfatório perante ao suspense que foi construído anteriormente.
Mãe! é um filme que quanto menos você souber, melhor será a sua experiência, logo contente-se apenas com os promocionais divulgados e corra de spoilers.
Em termos de atuações não há surpresas, Jennifer Lawrence entrega uma das melhores performances de sua carreira, mas ainda assim, quem brilha mais é Michelle Pfeiffer, e provavelmente receberá uma iniciação ao Oscar por essa personagem, que sabe ser enigmática, persuasiva e até mesmo sensual. Ed Harris e Javier Bardem também apresentam interpretações magníficas, dignas de prêmios, principalmente Javier, que caminha entre atitudes passivas e ativas diante dos acontecimentos que o cercam, ainda assim, é apenas no desfecho que compreendemos o verdadeiro simbolismo por trás de todos ali.
A fotografia usa, e realmente abusa do uso de close-ups, especialmente na Jennifer Lawrence. Ao mesmo tempo que essa técnica colabora na construção do clima de tensão e no suspense acerca dos personagens misteriosos, o recurso fica exagerado durante os pequenos planos sequências, e somado aos cortes ríspidos da edição, tornam o longa cansativo em algumas de suas cenas. Nada que tire o charme da interpretação magnifica de Lawrence, ou comprometa o longa por completo, mas ainda gera um incomodo consideravel.
A direção de arte é impecável e essencial na interpretação do público, pois é aqui que diversas pistas acerca do suspense estão escondidas. Pequenos objetos dispostos no cenário, assim como os próprios figurinos são muito bem pensados dentro da alegoria que Aronofsky pretende fazer.
E falando em Darren Aronofsky, é ele que orquestra essa trama intensa, com uma direção sólida e extremamente consciente de sua mensagem. A história começa e se desenvolve de forma crescente, dotada de ritmo, e quando chega em seu ato final, somos presenteados com uma das sequências mais perturbadoras do cinema. São acontecimentos que se sucedem de uma forma acentuada e tomam posse do público, o carregando por uma viagem violenta rumo a um desfecho comovente que tece críticas severas a nossa sociedade e arrebata os nossos sentimentos.
Com uma premissa muito bem escondida, “Mãe!” oferece uma experiência intensa e intrigante, acompanhada de excelentes atuações e uma direção impecável. Infelizmente, a temática abordada de forma polêmica e visceral pode não agradar à todos, mas ainda assim converterá diversos fãs.