Para quem leu os livros de “Maze Runner”, sabe que essa é uma franquia complexa de ser adaptada, mas mesmo assim, no ano de 2014, conduzido pelo diretor Wes Ball, foi dada a largada para a adaptação do primeiro título, “Maze Runner: Correr ou Morrer”, que dividiu opiniões, talvez por ter surgido no momento em que muitos filmes parecidos tentavam conquistar o seu espaço, como “Jogos Vorazes”, “O Doador de Memórias”, “Divergente” entre outros. O segundo filme, lançado no ano seguinte e dirigido pelo mesmo diretor, “Maze Runner: Prova de Fogo”, começa a fase dois da história, ambientada no deserto e destrinchando melhor a aventura, explicando as motivações do labirinto, e como funciona a CRUEL, uma organização que acredita que para salvar a humanidade é preciso sacrificar algumas vidas.
Em “Maze Runner: A Cura Mortal”, terceiro e último filme da franquia, a história acontece alguns anos após o anterior, devido à questões do elenco (acidente do Dylan O’Brien e gravidez da Kaya Scodelario). A trama expõe melhor os motivos da CRUEL e da Drª Ava Paige (Patricia Clarkson) que acredita fielmente na cura da doença “O Fulgor”, que eliminou praticamente toda a população mundial e para achar a cura é preciso sacrificar os poucos jovens imunes que se safaram da infestação. Muitos desses jovens tentam fugir para que possam recomeçar em paz, porém a organização consegue capturar Minho (Ki Hong Lee) e outros garotos. Agora, Thomas (Dylan O’Brien) e Newt (Thomas Brodie-Sangster) terão que embarcar juntos na missão de resgatar Minho e os outros amigos.
De um lado temos uma organização obstinada por buscar a cura para um epidemia, não medindo esforços para alcançar seus objetivos e sacrificando quem for necessário, enquanto do outro lado, temos um grupo menor, que dispõe de poucos recursos, uma espécie de minoria, mas que protege os seus membros e que quer seguir em frente após esse caos que assombrou a humanidade. Todo o filme se passa em um futuro distópico e transmite uma mensagem eficaz sobre os limites da sobrevivência, amizade e luta pelos ideias, além de enfatizar a importância da empatia.
Todos do elenco funcionam muito bem juntos, Dylan O’Brien que vive o Thomas está familiarizando com o seu personagem e transmite muita serenidade e emoção no papel, enquanto Thomas Sangster na pele do Newt, segue como o braço direito de Thomas e se mantém como o seu amigo fiel, sendo um dos personagens que mais cresceu na franquia. Kaya Scodelario, que interpreta Teresa, é a menos carismática, contudo a sua personagem tem um bom desfecho na trama. O grande destaque é a Rosa Salazar que encarna Brenda, uma jovem que tem muita força para enfrentar todos os obstáculos que a vida lhe concede. Will Poulter retorna como Gally, mais perspicaz, Ki Hong Lee continua sendo o adorável Minho e o carismático Giancardalo Esposito vive Jorge, um dos responsáveis por auxiliar o grupo mais jovem em suas decisões.
O primeiro ato do seu roteiro tem um começo bem frenético e depois tenta aprofundar nossos conhecimentos sobre a CRUEL e o futuro dos jovens. Já no segundo ato, o filme nos leva para dentro da organização, a resolução das subtramas começa a acontecer e algumas surpresas são colocadas diante do público, enquanto na reta final temos um fechamento com muitas emoções e com uma certa satisfação pelos acontecimentos anteriores.
A produção usa muitos planos abertos que desenvolvem bem a riqueza das paisagens e a grandiosidade, tanto da aventura como da escala desse universo. Foram escolhidos muitos enquadramentos que criam o tom ideal para esse intenso último capítulo da trilogia que não perde o fôlego em nenhum minuto. Quanto as cores, “Maze Runner: A Cura Mortal” sabe aplicar diferentes paletas com visuais bem distintos, o mundo fora da cidade tem tons de vegetação verde com muito sépia e forte iluminação natural, enquanto temos o predomínio do contraste e luzes azuis na cidade e o uso de uma iluminação neutra e artificial na CRUEL, fazendo um contraponto entre esses dois lados.
A arte do longa foi muito bem trabalhada, estamos falando de uma obra que transita entre dois mundos, de um lado temos figurinos pós-apocalíticos deteriorados e sujos da resistência, assim como cenários, carros e objetos vindos de um mundo destruído. Já na CRUEL é bem diferente, temos ali um local mais mórbido e apático com um visual sci-fi minimalista, enquanto na cidade é mostrada uma bela construção futurista de encher os olhos de qualquer entusiasta de filmes do gênero. Os figurinos usadas aqui também condizem com a realidade, seja nas roupas dos soldados ou dos antagonistas.
O diretor mantém um padrão desde o primeiro filme, tanto no desenvolvimento de personagens quanto na trama e também na forma como conduz as cenas de ação, sempre bem dirigidas e montadas, injetando a dose certa de adrenalina e ritmo para a empolgante saga de Thomas e seus amigos.
“Maze Runner: A Cura Mortal” mostra as mais diversas atitudes que as pessoas são capazes de tomar quando a sobrevivência está em jogo, e o quanto o ser humano pode ser bom e ruim, conseguindo fechar sua franquia com dignidade, ação e emoção.