[Crítica] Me Chama de Bruna – 1ª Temporada

Bruna Surfistinha é a garota de programa mais famosa do Brasil, já que publicou três livros “O Doce Veneno do Escorpião”, “Na cama com Bruna Surfistinha” e “O que aprendi com Bruna Surfistinha”. O filme Bruna Surfistinha (2011) em que a atriz Deborah Secco viveu a garota de programa e ganhou o prêmio de melhor atriz do ano “Grande Prêmio do Cinema Brasileiro”, a Drica Moraes que também participou do filme foi premiada como “Melhor atriz coadjuvante” e os roteiristas Antônia Pellegrino, Homero Olivetto e José Carvalho também ganharam prêmios.

Me Chama De Bruna é um seriado lançado pela FOX com 8 episódios que falam sobre a saída de Bruna da casa de seus pais com uma única certeza, que seria ser independente, para isto, buscou o seu sustento através da prostituição e aos 17 anos passou a viver em um privê mesmo com a sua família influente e tendo tudo que uma garota da sua idade deseja. A trama foca em mostrar o primeiro ano de Bruna em uma casa de prostituição, com ênfase em conflitos internos e externos que rodam o local.

 

 

Após adquirir uma certa estabilidade por nunca se negar a atender nenhum cliente e ser uma das garotas mais desejadas da casa em que trabalhava, ela consegue se mudar para um flat para atender de forma mais privada aos seus clientes e este mesmo local é também a sua casa na qual dividi com uma amiga.

A série também explana como Bruna começa a usar a internet para ganhar dinheiro, pois parece ser um grande negócio para ela que passa a fazer “shows exclusivos”, falar sobre a sua vida pessoal e convocar clientes para que possam realizar a fantasia de forma real, ou seja, que eles possam ir ao flat e com base no slogan “Faço tudo o que você quiser” iremos conhecer essa personagem bem complexa, com uma idade jovem, mas, com a atitude de alguém bem maduro e que fez da prostituição a sua escolha de vida.

Mas, não é apenas de prostituição que vive o seriado, teremos outras temáticas que serão trabalhadas: “a força feminina” de mulheres que trabalham nas casas, que têm seus sonhos, sentimentos e familiares, mas, que diferente da Bruna não estão confortáveis em exercer a profissão, todas as personagens femininas tem uma função muito forte e levantam questões bem delicadas e diariamente vividas por mulheres.

Outra questão, é a criminalidade que gira em torno das casas de prostituição em que policiais querem se envolver no negócio e obviamente, o preconceito, pois a profissão ainda é cercada de preconceitos de alguns que não entendem a necessidade do outro. Além disso, temos temas como aborto, abuso, conflitos, traições, brigas de família e muito sexo, mas, não de forma expositiva ou pejorativa, é um sexo com uma função dramática em que não há apenas uma interpretação de prazer, é uma relação de necessidade, com dor, com amor, sem amor e sem pudor.

O elenco apresenta Maria Bopp que havia feito um único trabalho na televisão, como coadjuvante em “Oscar Freire 279”, de 2011, no Multishow. Aqui ela mergulha de corpo e alma no personagem. Carla Ribas é Stella a gerente do privê que tem um arco dramático fortíssimo, Luciana Paes a atriz que dá vida a Mônica é considerada uma prostituta de alma boa, Nash Laila interpreta a Jéssica uma personagem que passa por várias reviravoltas na série e Stella Rabello que se divide entre a sua família e a prostituição, Jonathan Haagensen que está na pele do JR que adiciona uma subtrama direcionada a criminalidade, entre outros.

A direção de arte da série é bem caprichosa em nos ambientar na realidade das garotas de programa, trazendo uma crueza e realidade para dentro do visual dos personagens e do ambiente em que vivem. A direção de fotografia também é um grande acerto, pois é bem rica em detalhes, com tons sombrios, dramáticos e crus, além de movimentos e ângulos criativos que usando uma paleta de cores escuras com predominância de sombras que nos transporta para dentro da história de Bruna e seu drama de vida.

Sua trilha sonora também é muito interessante e pesada. A abertura acompanha uma música que transborda o estilo da série em sua letra e ritmo que dá todo o charme e empolgação para os episódios.

O roteiro escrito por Leda Cartum, Gustavo Pizzi e Armando Praça possui uma montagem muito bem estruturada, onde vemos os arcos dos diversos personagens serem equilibrados e desenvolvidos com primor, mesmo contendo diversas subtramas de tons e temas diferentes no decorrer da temporada.

A primeira temporada tem um saldo extremamente positivo, e mostra que havia muito a ser visto da vida de Bruna, e trazendo diversas facetas tanto do ser humano, quanto do mundo em que vivemos. Uma série que no futuro poderemos chamar de um divisor de águas nas produções televisivas nacionais, mostrando que existe muito talento e criatividade em nosso país, contanto que exista a oportunidade.

Agora com seus arcos dramáticos devidamente fechados só nos resta especular sobre o que espera a vida de Bruna Surfistinha.“#MeChamaDeBruna” é uma produção da TV Zero, com direção de Marcia Faria e foi exibida de forma quase simultânea para outros países da América Latina. A série estreou em 8 de outubro no canal pago Fox+, mas, pode ser assistida por streaming na plataforma da Fox Play Brasil.