[Crítica] Mesmo se nada der certo

Se eu tivesse que definir “Mesmo se nada der certo” em apenas uma palavra, certamente esta seria: despretensioso. Tudo no trabalho de John Carney nos leva a enxerga-lo como uma obra sem intenção que se mostra apenas pelo valor de sua própria arte, o filme foi produzido de forma independente e talvez por isso não se limitou a reproduzir clichês hollywoodianos das comédias românticas.

“Begin Again” (título original) conta a história de Gretta, uma compositora inglesa que foi para Nova Iorque por causa do namorado e de Dan um ex-produtor musical alcoólatra que nutre um relacionamento deficiente com sua família. Qualquer informação prévia do filme provavelmente lhe levará a crer de que ser trata de uma história água com açúcar, o que não de ser, aliás se todos os filmes água com açúcar fossem como “Begin Again”, este seria meu gênero favorito.

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Na primeira cena do filme somos apresentados à Gretta cantando em um bar e Dan a ouvindo pela primeira vez, depois vemos a trajetória de Dan até aquele ponto de intersecção e só posteriormente iremos conhecer a história de Gretta. Já nesta primeira cena é notável a naturalidade proposta pelo filme, Gretta é apenas uma jovem inglesa que foi para Nova Iorque como muitas outras, enquanto canta no bar é possível ouvir vidro quebrando, pessoas conversando e rindo, ela não é nada, só alguém que canta em um bar, exceto para Dan, que a assiste produzindo sua música em uma sequencia magnifica de instrumentos acompanhando a moça e abafando as risadas.

Assim como quase todo o resto, nenhuma atuação é marcante, porém todas elas estão bem dirigidas e convencem, principalmente a de Mark Ruffalo que conseguiu passar a ideia de produtor torturado pelos problemas com a família e com a indústria fonográfica que inclusive é abordada com muita competência trazendo questões referentes a enxergar a música como um produto, algo que precisa agradar para vender, não mais como uma forma de arte, a expressão da impressão de algo.

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John Carney criou um tributo a boa música, a trilha sonora da obra é impecável, Keira Knightley entrega vocais sutis e agradáveis, enquanto Adam Levine, cantor profissional vocalista da banda Maroon 5 exibe um lado que eu particularmente ainda não conhecia, apesar das músicas apresentadas por ele serem similares ao que costuma fazer na vida real, Levine conseguiu trazer a leveza demandada pelo personagem humanizando-o e arrancando-o mesmo que por pouco minutos da carcaça de rockstar vestida por ele.

“Mesmo se nada der certo” é a re-inveção do gênero comédia romântica água com açúcar, sem nada de mais, apenas pessoas vivendo suas vidas, lidando com seus problemas e ouvindo boas músicas, isto fez a obra de Carney chegar ao público, fazer as pessoas comuns que não saber cantar nem tocar baixo se identificarem com os problemas vividos e se apaixonarem pelos personagens, pela música e pelo cinema.

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