Crítica: Ms. Marvel (Disney+)

Ms. Marvel estreiou com mais potencial do que qualquer outra série, a abordagem jovial que tem uma mistura perfeita de Aranhaverso, Scott Pilgrim e produções do Disney Channel havia se mostrado uma história com personalidade e carisma, além de saber usar muito bem a ótica adolescente.

Os primeiros três episódios apresentam uma abordagem focada na comunidade de Nova Jersey e nos dilemas coming of age de uma jovem amadurecendo, mas ao mesmo tempo traziam um olhar sensível sobre preconceito e explorando uma cultura não-branca.

Porém a série despenca muito no meio da trama, devido a deslocar a personagem para suas raízes assim como a direção, os efeitos especiais e a criatividade deslizam bastante nesses episódios.

E nem chega a ser uma ideia ruim colocar ela em sintonia com o legado de seu povo, mas é um tipo de narrativa que funcionaria muito melhor em uma segunda temporada já que não era o momento para isso nesse início da personagem ou em uma temporada com mais de seis episódios.

O roteiro de Bisha K. Ali segura bem as pontas e entrega uma conclusão mais coerente com o início da série e juntamente do retorno inspirado dos diretores do piloto, Adil e Bilall Fallah (Bad Boys para Sempre, Batgirl) que inserem uma energia e frenesi inocente a lá Esqueceram de Mim, ajudando a terminar a temporada com o tom e humor que nos conquistaram na estreia e com muita química dos atores em momentos tocantes.

Há outras direções interessantes como de Meera Menon que trabalha bem com adolescentes e suas vivências ou a de Sharmeen Obaid-Chinoy que pensa bem em como usar o cenário cultural a favor da personagem, mesmo que o roteiro não ajude nessa parte da história.

Mas em meio aos altos e baixos, a série tem pontos fortes bem consistentes como o elenco que tem em Kamala Khan de Iman Vellani uma grande força de carisma, drama e timing cômico certeiro que deve crescer muito em Hollywood nos próximos anos, além de outros nomes como Zenobia Shroff, Mihan Kapur e Saagar Shaikh que formam um círculo familiar sólido.

Além disso o visual que realça cores como roxo e amarelo e que colocam uma forma bem orgânica para Nova Jersey é um charme por si só que nos faz mergulhar nesse mundo menor da Marvel, porém rico e interessante que nos mostra camadas da cultura tanto da cidade como das suas origens paquistanesas.

Acredito que o elemento que chamará atenção das pessoas no fim será algumas revelações que inserem elementos no Universo Marvel, mas o que tem de força na série está em momentos casuais como uma conversa franca de pai e filha.

Ms. Marvel não é esse desastre todo que muitos apontavam e nem é a melhor produção da Marvel em séries, é inconsistente mas existe charme e carisma mesmo em seus momentos mais controversos.

Talvez poderia ser muito melhor se tivesse uma temporada maior para seus temas, mas no final nos apresentaram uma atriz talentosa em Iman Vellani que deve ter grande destaque futuramente com As Marvels, sequência de Capitã Marvel que trará Nia DaCosta (A Lenda de Candyman) na direção do longa.

Ms. Marvel é uma das melhores personagens a surgir nos quadrinhos na última década e a série pode não ter sido o melhor início para nossa jovem heroína, porém de uma coisa todos nós sabemos, o futuro da Marvel reside cada vez mais em novos personagens como a Kamala Khan, Cavaleiro da Lua ou Shang-Chi que representam a pluralidade da sociedade moderna e trazem frescor para o MCU.

Que os próximos anos nos mostrem a personagem alcançando cada vez mais seu enorme potencial e aprendendo com seus erros.