“Mulher-Maravilha” tem sido um dos filmes mais aguardados dos últimos meses. Recentemente o longa tem ganhado ainda mais repercussão por conta das críticas extremamente positivas que tem recebido, nós assistimos e podemos afirmar que elas são verídicas! Em tempos dominados por adaptações de quadrinhos, a ausência de um bom filme protagonizado por uma heroína persistia nas produções cinematográficas, e quando se trata da Mulher Maravilha (A personagem mais icônica das HQs), temos o momento perfeito de inseri-la nas telas.
O filme conta a origem de Diana Prince, muito antes dos acontecimentos de “Batman Vs Superman”, sendo assim acompanhamos o treinamento da jovem e o descobrimento de seus poderes. O estopim da história é quado um soldado ferido (Chris Pine) cai nas redondezas de Themyscira, região isolada e dominada pelas amazonas, e após isso, Diana toma a decisão de embarcar rumo ao “mundo dos homens” para ajudar o soldado e conter a guerra.
Allan Heinberg entrega um roteiro que segue a risca a estrutura padrão de desenvolvimento, portanto temos um plot bem estabelecido logo no incio, os clássicos pontos de virada dando ritmo a trama, um pré clímax com direito a flashbacks e um desfecho bem conivente com o que já havia sido estabelecido. O destaque maior do texto está no desenvolvimento dos personagens e seus diálogos. Não há nenhum coadjuvante desnecessário, ou mal aproveitado, todos possuem suas fortes motivações para estarem ali e todos funcionam perfeitamente ao lado da protagonista.
O equilíbrio entre o humor, drama e ação, é essencial em um filme do gênero, mas rarissimamente funcionam em harmonia. Aqui, graças ao belo roteiro e a direção precisa de Patty Jenkins, temos uma série de diálogos que desbancam muitas comédias, mas que também não tiram a seriedade do contexto fúnebre da guerra, na qual o filme se situa em maior parte. O uso do contraste entre uma mulher que veio de uma terra governada por outras mulheres, e agora encontra-se em um mundo “dos homens” pode parecer bastante óbvia, mas é usada com cautela e muita inteligência, subvertendo esteriótipos de gênero e proporcionando momentos prazerosos, sem jamais parecer apelativo.
Os personagens, como já dito acima, são muito bem desenvolvidos, e um dos destaques que merece ser comentado é a própria protagonista. É comum que em filmes com mulheres fortes o texto pereça de um bom argumento, criando uma personagem que se destoa da realidade pela exímia perfeição de suas habilidades, por outro lado há também o persistente ato de masculinizar a personagem para que ela possa ser vista como forte, colocando ela em contraste com quaisquer resquícios de feminilidade. Aqui, Diana Prince, é sim muito forte, mas porque foi treinada para isso, e não precisa necessariamente se abdicar do feminino para justificar suas ações. O mesmo acontece com as demais amazonas que são rapidamente apresentadas na primeira parte do longa.
Por outro lado, nada disso teria sido transmitido com fidelidade se o filme não estivesse equipado com um bom elenco que entrega o melhor de si. O destaque maior é para Chris Pine, que já provou ter um timing ótimo para humor, sendo não só o braço direito de Diana, como também um dos alívios cômicos, já que está sempre reagindo de forma espontânea e crível aos comportamentos excêntricos da protagonista. Claro que não podemos esquecer da nossa maravilhosa, Gal Gadot, que está simplesmente incrível no papel principal. Tendo em vista que a missão do filme é contar como a inocente e deslumbrada Diana Prince, virou a destemida e madura, Mulher Maravilha, espera-se uma evolução gradual da personagem para que possamos notar um claro contraste entre a Diana do início do filme e a do final. E sim, Gadot consegue transmitir isso com facilidade.
Outros grandes nomes como Robin Wright, Danny Huston e David Thewlis também marcam presença com personagens essenciais que fortalecem ainda mais o filme.
A direção de fotografia é primorosa e consegue captar toda a urgência do ambiente corroído pela guerra, ao mesmo tempo em que mostra a deslumbrante ilha de Themyscira, que é repleta de cores vivas e radiantes, enquanto Londres está dominada pelos tons de cinza semeados pelas fabricas. A variedade de planos usados consegue saber o momento certo de contemplar o uniforme clássico da heroína e a hora de apostar em um enquadramento mais psicológico, exprimindo toda a tensão transmitida pela performance de Gal Gadot.
Os cenários também não falham em nada, e a equipe de arte se mostra atenciosa nos mínimos detalhes, construindo ótimas ambientações devastadas pela guerra, fortalecendo o impacto negativo desse período e revalidando a mensagem de esperança trazida pelo desfecho. A construção da ilha Themyscira também não fica para trás, se mostrando um lugar excêntrico com diversas influências gregas, seja pela arquitetura das torres ou pelos próprios figurinos das amazonas. Inclusive, as roupas são outro “plus” da narrativa, tanto na construção de época como também na hora de caracterizar os moradores das zonas de guerra, que encontram-se totalmente devastados diante do conflito eminente.
Por fim, chegou a hora de falarmos sobre o magnifico trabalho de Patty Jenkins, uma diretora que possui uma filmografia invejável, mas que ainda não tinha tido contato com uma produção dessa magnitude e com tantas coreografias violentas que exigem o máximo do diretor. Felizmente ela da conta do recado e traz cenas épicas de batalha que abalam o sentimento do público e elevam a tensão e adrenalina aos níveis mais altos. O uso da câmera lenta que é quase uma assinatura nos filmes da DC, aqui ganham um domínio muito mais preciso e são orquestrados com a proficiência de um verdadeiro maestro do cinema. Jenkins também acerta o tom na condução dos atores, conseguindo desenvolver uma química muito forte entre Gal Gadot e Chris Pine que conseguem suscitar uma relação afetuosa que caminha junto da confiança que um ganha sobre o outro.
“Mulher-Maravilha” é o blockbuster que o cinema precisava, pois foge de estereótipos de gênero, traz grandes personagens e consegue desenvolver uma narrativa poderosa dotada de humor, ação e uma dose de carga dramática que resulta em uma experiência prazerosa, digna de um entretenimento rico.