Crítica: Névoa Prateada

Névoa Prateada é um drama juvenil de amadurecimento e que desenvolve relações sob uma ótica LGBT, a produção foi indicada para o Panorama Audience Award no 73º Festival Internacional de Cinema de Berlim e também foi indicado ao prêmio Teddy de Melhor Longa-Metragem.

Na trama, Franky é uma enfermeira de 23 anos que vive com a família em um bairro no leste de Londres. Obcecada por vingança e com a necessidade de encontrar culpados por um acidente traumático ocorrido há 15 anos, ela é incapaz de se envolver em um relacionamento com alguma profundidade, até que se apaixona por Florence, uma de suas pacientes.

A trajetória dessas personagens e o estado emocional delas que oscila da paz para o completo desespero é um dos grandes destaques de um longa que possui certas falhas e problemas na estrutura que podem incomodar parte do público, mas ao mesmo tempo há diversos elementos ricos e no uso de temas e de narrativas visuais e sonoras que compensam seus erros.

A direção de Sacha Polak nos apresenta um mundo peculiar e sombrio dos jovens ao se desenrolas por traumas, homofobia e uma busca por ser amada, um busca por uma conexão genuína de amor em um lugar quebrado e sinistro para se viver. Mas ela também evoca beleza, apresenta relações cativantes e junto do bom trabalho de som podemos sentir o amor e dor dessas personagens enquanto elas lidam com seus dilemas.

Vicky Knight e Esme Creed-Miles são as grandes estrelas nessa produção com Esme vivendo uma charmosa, intensa, apaixonante e enigmática garota que nunca sabemos quando cederá aos seus impulsos ou se é uma companhia boa ou não para sua parceira que vive em um mundo social e de traumas bem diferentes e complexos, elas se opõem e se complementam até isso tudo virar uma química tóxica para ambas, O desenvolvimento e performance de Angela Bruce também se destaca ao longo da história e criam momentos cativantes na história.

O grande empecilho nesse longa bem forte, doce e bem-intencionado está no seu texto que insiste em abraçar tantos dilemas, núcleos e temas e não sabe como conciliar todos e nem como criar uma narrativa coerente no decorrer que a trama assume o tom de thriller e sai do local de romance dramático. Tudo isso faz com que às vezes soe apressado ou incompleto e perde de vista várias oportunidade ao retratar esse cenário opressor e juvenil britânico.

Felizmente se trata de um filme que sabe criar e usar sua atmosfera, repleta de sombras e com uma trilha imersiva que sabem destacar o urbano opressor e certa leveza, além das cores que sintetizam um paralelo visual do que as personagens vivem naquele lugar. É sobre o amor tentando respirar e sobreviver em um local marcado por dores diárias físicas ou psicológicas.

No fim, Névoa Prateada soa como uma produção falha, mas com certa magia devido ao trabalho do visual e onde os diálogos e arcos podem não serem totalmente sólidos podemos perceber ideias, temas e emoções através de gestos, som e das atuações que nos impactam e fazem com que o longa nos deixe uma marca após sua conclusão.

Uma coisa é certa, esse é um filme que parece bem jovem ao ser tão impulsivo e vibrante como também é caótico e delicado seja por falhas ou seus méritos. E meso que não seja proposital existe certa beleza nisso, não se pode negar como é sincero e quem sabe nessa sinceridade sem amarras pode ser o filme que conquiste seu coração.