Crítica: Noite Passada em Soho

É natural que em algum momento da nossa vida a gente se identificar com um estilo de roupa ou penteado, né? Outros momentos a gente se encaixa em uma determinada época, uns iam preferir voltar na década de ouro em 1970 e os nostálgicos a década de 1980 que inclusive tem sido ambientação em várias produções atualmente, mas no caso de Noite Passada em Soho a protagonista Eloise (Thomasin McKenzie), ou para os íntimos, Ellie, ela é completamente obcecada pelos anos de 1960.

A jovem acaba de ser aprovada na faculdade de moda na cidade de Londres, inicialmente não se sente pertencida na república, além de ter divergências com a sua colega de quarto, Jocasta (Synnove Karlsen). Apesar de todas as dificuldades ela não pretende desisti e começa a procurar um quarto e um emprego para custeá-lo, ao mudar-se para a casa de Miss Collins (Diana Rigg) começa a se sentir mais confortável para iniciar a sua jornada.

Eis que ela encontra um refúgio perfeito para os momentos de solidão, a Sandie (Anya Taylor-Joy) sua contraparte, ambas se conectam através de seus sonhos, dividindo a dinâmica entre as duas protagonistas, na atualidade com a Eloise e os anos 1960 na cidade de Soho com a aspirante cantora Sandie que conforme tem a sua história apresentada instaura impacto na trajetória de Eloise.

A montagem com Thomasin McKenzie e Anya Taylor-Joy ressaltam talento de ambas e abrilhantam a trama. A presença de Taylor-Joy em tela é marcante e ousada, ela entrega literalmente uma mulher seiscentista. Com uma personagem ambiciosa, sexy, ousada e adepta das noites londrinas com o sonho de ser cantora e dançarina de sucesso. Ambição também é uma característica em Thomasin McKenzie como Eloise recém-saída de uma cidade do interior, almeja ser uma estilista de sucesso e poder proporcionar uma vida melhor a sua avó.

Edgar Wright é um diretor versátil conhecido principalmente por usar as canções para compor a narrativa e aqui não é diferente, a trilha sonora é um elemento que enrique a produção. E não podemos deixar passar toda a estética e a iluminação que também é cuidada para conversar com a própria construção intitulada como um thriller psicológico que combina suspense com terror psicológico.

O filme me remeteu um pouco da técnica de Demônio de Neon (2016) e a tensão de Suspiria (2018), mas aqui é ainda mais subjetivo, pois se trabalha com âmago de alguém, ao mesmo tempo em que Sandie faz as suas escolhas, Eloise se torna uma mulher mais obstinada e há espaço para representatividade feminina em meio a duas mulheres que são vítimas de uma sociedade opressora, o ano era 1960, contudo em 2021, as mulheres vivem resquícios do machismo, da masculidade tóxica e o enredo toca no ponto de como é importante a sororidade feminina.

Noite passada em Soho é puro mise en scène que significa construir uma cena, definindo o cenário e/ou outros elementos. Ademais, é uma imersão para os anos 1960 aos olhos de quem aprecia e de quem viveu inspirado por marcas históricas com pitadas da atualidade.