Crítica: O Aprendiz

Estrelado por Sebastian Stan e Jeremy Strong, O Aprendiz conta a história de como o jovem Donald Trump (Stan) iniciou seu negócio imobiliário por meio de uma barganha com o influente advogado e mediador político Roy Cohn (Strong).

Antes de adentrar na produção, esclareço que o filme é um recorte da vida de Trump, focado nas origens de Trump apresentadas por sua família, sua ascensão como empresário de sucesso e as relações que ele constrói para alcançar seus objetivos. Na obra, Trump não é o mentor; ele é literalmente um aprendiz dos ensinamentos de Cohn, que os divide em três princípios: o primeiro é atacar, o segundo é não admitir nada, ou seja, negar o que for acusado, e o terceiro é nunca admitir uma derrota.

O Sebastian Stan imprime o Trump com seus trejeitos de boca, a forma de andar e falar, sem ser caricato. O advogado, eu não o conhecia antes, então não tenho como fazer nenhum comparativo, mas é uma criatura desprezível.

O roteiro, baseado em momentos da vida de Trump, começa com sua relação com o advogado e passa para seu casamento com Ivana (Maria Bakalova), que mostra claramente Trump tratando a conquista como um negócio e usando sua esposa como alguém funcional para seu status e carreira. Outro ponto abordado são seus empreendimentos, como o Trump Village e a Trump Tower, que derivam dos investimentos de seu pai. No filme, o pai é um mero coadjuvante, assim como na vida de Trump, que ignora sua existência e só o procura quando é útil.

Um aspecto interessante abordado no filme é a vaidade de Trump e sua incessante luta para perder peso, chegando a se submeter a procedimentos cirúrgicos. A verdade é que Trump não gostava de enfrentar processos longos; para ele, tudo tinha que ter resultados imediatos.

Já a direção de Abbasi constrói uma narrativa que coloca o espectador como uma testemunha direta dos eventos que moldaram Trump. O diretor utiliza a câmera de forma a seguir o protagonista de perto, criando uma sensação quase documental. Isso é especialmente evidente na maneira como ele mescla cenas de arquivo com gravações que imitam a estética visual do cinema dos anos 80.

A produção é bem descritiva, mas não apresenta um problema central que leve a uma solução; sua intenção é mais focada em apresentar os fatos. O filme mostra como o legado de Trump foi sendo construído e como ele usa as pessoas para alcançar seus objetivos. Seu advogado, sua família, a relação conturbada com seu irmão e com sua esposa são instrumentos para que ele consiga atingir o status que almeja.

Na reta final, o filme vai moldando a figura de Trump que conhecemos: egoísta, sem se importar com ninguém além de si mesmo e disposto a não medir esforços para alcançar seus objetivos nos negócios.

O Aprendiz se sustenta, principalmente, pelas atuações, com destaque para Stan, que, mesmo com uma caracterização discreta, entrega uma performance impressionante. No entanto, gostaria de ter visto um pouco mais da relação dele com a imprensa, talvez por ser uma profissional da área (risos). O filme traz três características marcantes: ambição, arrogância e falta de ética. Se você aprecia esse tipo de narrativa, vale a pena conferir!