Anorexia costuma ser causada por distúrbios psicológicos em que a pessoa se vê gorda, mesmo sendo magra, fazendo com que ela tente emagrecer cada vez mais. Esse é o assunto do novo filme original da Netflix ‘O Mínimo para Viver’, um título bem sugestivo no qual a atriz Lily Collins interpreta Ellen, uma garota que sofre de anorexia e será tratada por um médico que foge de tratamentos convencionais, vivido por Keanu Reeves .

O filme tem como foco a anorexia, mas é também uma aula de amor à vida em que Reeves se torna uma espécie de “mentor” com suas falas altamente motivacionais, enquanto Collins expõe todas as camadas de uma pessoa que sofre da doença, desde seus problemas com a alimentação, até a sua dificuldade de se relacionar com os seus parentes e amigos, estando sempre com vergonha de seu corpo. O longa também apresenta as consequências de uma pessoa que modifica seus hábitos alimentares até chegar nesse ponto, mostrando o quão complexo é para a família que vive a situação, e o quanto é difícil o tratamento, que por muitas vezes exige que o paciente fique internado para poder se recuperar.

Ressalto a atuação de Alex Sharp que vive Luke, um dos moradores da casa de reabilitação, ele é excêntrico e traz uma leveza para a história. A irmã de Ellen, a Kelly (Liana Liberato), também tem um peso importante para a história, enfatizando que nem todas as irmãs de pais diferentes precisam ser inimigas como é frequentemente mostrado em filmes e séries.

Apesar do filme sofrer críticas em relação a forma com a qual a roteirista e diretora Marti Noxon aborda a anorexia, posso dizer que ela teve cautela na construção de seu roteiro e tem o intuito de focar nos sintomas e nas consequência da doença, falando sobre a dificuldade que o anoréxico tem para comer, engravidar e até mesmo de aceitar a sua própria doença.

“Coisas ruins vão acontecer. Não dá para evitar. O que importa é como lidamos com isso” – Uma das falas do médico, Dr. William Beckham (Reeves), no qual ele procura ser direto e honesto em sua metodologia de tratamento, que para uns pode funcionar e para outros não, mas é um método que de fato pode ser revolucionário no tratamento de alguém, uma vez que o doente tem a realidade em suas mãos e pode optar pela cura. As questões familiares trazidas também são pertinentes, como: a ausência do pai, o distanciamento da mãe e a ajuda solidaria da madrasta, que representam uma família que reconhece a doença como um problema, mas não sabem se portar diante dela.

Com um tom apático e cru, a fotografia aposta em uma estética que busca a força da crueldade pesada da realidade debatida durante o longa por usar não só tons de cores interessantes e reais, como também um bom manuseio de enquadramentos e movimentos que por mais que não tragam nada de novo, ainda trabalham bem as interações humanas e com eventuais closes, exploram as dimensões dos atores e dos personagens, conseguindo sensibilizar o seu público.

A arte é um dos pontos mais altos do filme, conseguindo aqui dar muita personalidade a cada um dos diferentes residentes da casa em que são confinados, portanto as pessoas acabam sendo extremamente bem caracterizadas no decorrer da história. Fora isso, ainda há a maquiagem e efeitos de primeira, que retratam o sofrimento das pessoas que lidam com a anorexia. Já na construção de cenários, o longa não apresenta nada incomum ou original, com um tom um tanto automático.

“O Mínimo para viver” é um filme que aborda essa difícil e delicada temática da anorexia, mas a desenvolve bem, sem apelar com excesso para o drama e nem para a romantização, além de mostrar que Lily Collins está se tornando uma atriz cada vez mais madura e capaz.