“O Rei Leão” enfim chegou aos cinemas em sua versão “live-action” dirigida por Jon Favreau e estrelada por Beyoncé e Donald Glover que adapta o clássico filme para um tom voltado ao fotorrealismo e com uma criação completa feita através de CGI, contudo o resultado saiu bem longe do esperado gerando um filme sem magia, redundante e que desperdiçou oportunidades de narrativa.

Para começar, esse é um longa-metragem que já estava dividindo o público há certo tempo, afinal todo esse empenho da Disney em produzir live-actions de seus filmes icônicos pode gerar tanto sucessos como também amargar certos fracassos de cinema.

Crítica: O Rei Leão (2019)

Mas como “O Rei Leão” de 1994 foi um sucesso de público e crítica e acabou entrando para a história do cinema como uma das animações mais lucrativas, esperava-se muito desse remake no live-action focado em realismo, mas há inúmeros problemas que acabam por impedir de que esse filme alcançasse todo sua magia e energia.

A história e seu roteiro não mudam quase nada na construção dos personagens e do arco do filme de 1994, o estúdio optou por copiar “quadro por quadro” do original, o que por si só já é uma escolha problemática, pois aqui o erro se trata mais de como aplicara, e desenvolveram as ideias e não no conteúdo da trama.

Existem alguns detalhes aqui e ali que diferem da antiga produção dos anos 90, mas diferente das alterações de “Aladdin” e “A Bela e a Fera” são mudanças desnecessárias e só servem para deixar toda a estrutura ainda mais arrastada e cansativa em certos momentos e nada oferecem para enriquecer a jornada de Simba.

Contudo, o elenco é um dos pontos fortes desse remake e garante uma certa diferenciação para a obra com nomes como Donald Glover, Beyoncé, Chiwetel Ejiofor, Alfre Woodard, Keegan Michael-Key, Seth Rogen, John Oliver, Billy Eichner e James Earl Jones.

Donald Glover e Beyoncé fazem um trabalho admirável em duetos e em modernizar as músicas da trilha sonora, contudo Beyoncé como Nala acaba soando um tanto automática em várias cenas e o tom jovial e cheio de energia de Glover não condiz com o visual do hiper-realismo apático da computação gráfica.

Crítica: O Rei Leão (2019)

Além de ser perceptível como o elenco parece estar preso ao roteiro e falas idênticas do original, o que atrapalha a liberdade de suas performances, o mesmo problema pode ser visto também no Scar aterrorizante de Chiwetel Ejiofor e no divertido Keegan Michael-Key como Kamari.

Tudo isso acaba colocando Seth Rogen como Pumba e Billy Eichner como Timão os maiores acertos sendo esses os personagens que por serem alívios cômicos conseguem ter autonomia para sair do texto e improvisar cenas incríveis durante o filme.

Dito isso chegamos ao centro dos defeitos do filme, a tecnologia da produção que por prezar tanto por aproximar da realidade causa um efeito “Documentário do Animal Planet” em várias ocasiões e isso se torna um grande problema, pois diferente de “Mogli – O Menino Lobo” onde víamos animais com expressões emocionais, os animais dessa produção soam apáticos e vão além dos limites de “realidade” que o público poderia aceitar para que pudessem se conectar com a história.

Aliás essa constante falta de emoção leva a um direção de fotografia que precisa usar sempre um tom de cor cinza, neutro e sempre iluminando em muitas sequências perdendo o tom cartunesco e vivo de várias cenas, mesmo com filmagens e edições criativas e elaboradas em músicas como “The Lion Sleeps Tonight” e “Be Prepared”.

Quanto a direção de Jon Favreau, há muitas inconsistências no ritmo e também na maneira que o filme se desenvolve e muito menos parece um filme de Favreau que é bem conhecido por sua visão e energia que torna suas produções dinâmicas e divertidas como “Chef” e “Homem de Ferro”.

Afirmar que esses live-actions são desnecessários soa meio injusto, pois haviam inúmeras oportunidades de terem aprofundado a relação de Scar e Mufasa ou até mesmo de terem debatido outras ideias sobre misticismo e monarquia.

Mas a maneira como o estúdio prosseguiu com esse remake limitando seus artistas acaba fazendo com que tenhamos um gosto amargo na boca ao sair do cinema, por assistir uma produção bastante “vazia” que apenas é capaz de impactar através da nostalgia do público e de nossas memórias afetivas com o clássico.

Agora devemos apenas torcer para que as próximas empreitadas da Disney sigam exemplo de outros filmes que se saíram melhores em reviver grandes histórias da animação do estúdio e esqueçam dos infelizes e frustrantes erros cometidos com o potencial de “O Rei Leão”.


Trailer:

REVER GERAL
Roteiro
6
Direção
4
Atuações
7
Direção de Arte
5
Direção de Fotografia
5
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.