Crítica: O Urso do Pó Branco

Filmes com animal de grande porte eram uma tendência dos anos 90, a exemplo temos Anaconda (1997),  Free Willy (1993), Pânico no Lago (1999), uns tem a pegada de tentar uma aproximação com o homem, já outros o animal é uma ameaça para o homem, o que acontece em O Urso do Pó Branco é algo bem peculiar, e o animal podemos dizer que é um refém.

Essa produção pega bem essas tendências além de aspectos de diversos filmes dos anos 80 tanto comédia como filmes de terror trash brincando muito bem com a proposta absurda e com o potencial de entretenimento dessa história.

Vamos contar a história para vocês entenderem melhor se trata a trama de um urso negro que acaba comendo uma grande quantidade de cocaína que foi jogada de um avião na floresta de Kentucky, nos Estados Unidos. Após ingerir a droga, o urso se torna extremamente agressivo e perigoso, causando caos e destruição por onde passa.

A história se desenrola quando um grupo de personagens desajustados se cruzam com o urso em sua jornada de fúria. Entre eles está a agente da DEA, Tamara, interpretada por Keri Russell, que está tentando recuperar a cocaína perdida antes que ela caia nas mãos erradas. Além dela, há também o traficante de drogas, Orlando, interpretado por O’Shea Jackson Jr., que está desesperado para encontrar sua mercadoria perdida, e Chip, um personagem excêntrico e divertido interpretado por Alden Ehrenreich, que acaba se envolvendo na confusão sem querer.

Há, um vale lembrar que é um filme inspirado em um incidente real que aconteceu em 1985, quando um urso negro na Geórgia, nos Estados Unidos, comeu uma grande quantidade de cocaína que caiu de um avião de contrabandistas de drogas.

Depois de A Escolha Perfeita 2 (2015) e do reboot de As Panteras (2019), Elizabeth Banks retorna a direção de longa-metragem com este filme e aqui podemos contar com um elevado nível de Banks nas construção das cenas, pois ela consegue gerar um nível de tensão que é mérito dela. Já o roteiro ficou a cargo de Jimmy Wardent, que trabalhou em A Babá (2017) e A Babá: Rainha da Morte (2020) (caso tenha assistido estes títulos poderá esperar que ele sabe misturar terror com comédia).

O primeiro ato do filme apresenta  Sari (Keri Russell) mãe solo que atua como enfermeira e cuida de sua filha   Dee Dee (Brooklynn Prince) que com seu amigo Henry (Christian Convery) decidem matar aula para ir a cachoeira. A dupla de crianças foi uma escolha assertiva, pois funcionam muito bem, são espontâneos e dotados de humor ácido.

Quando a mãe de Dee Dee é notificada da ausência de sua filha na escola ela resolve chamar a guarda florestal Ranger (Margo Martindale) e sua dupla Peter (Jesse Tyler Ferguson) ambos são caóticos de um jeito engraçado e começar a procurar Dee Dee e Henry.

Paralelamente a isto, temos outra movimentação acontecendo, os melhores amigos Daveed (O’Shea Jackson Jr.) e Eddie (Alden Ehrenreich) precisam resgatar as drogas e fugir da mira de Bob (Isiah Whitlock Jr.), o xerife.

No segundo ato do filme, as coisas vão acontecendo paralelamente e personagens vão sendo adicionados para dar corpo a história, mas o filme mantém o foco nos ataques dos ursos a esses personagens funcionais e tenta abordar alguns dramas familiares que acontecem sutilmente.

Ainda sobre elenco temos Stache (Aaron Holliday) sendo fundamental e sua participação é linear, mas ele brilha ao longo de todo esse caos com uma personalidade muito divertida e fora a participação especial de Syd (Ray Liotta) que ganha muito charme por conta de Liotta ser um ator experiente e talentoso deixando sua marca em seu último filme. 

No desenrolar vemos os diversos segmentos seguirem em um efeito cascata de erros em situações cada vez mais desastrosas envolvendo cocaína, armas e pessoas patéticas e com os momentos pontuais do horror e ação sendo usados por Banks tanto na direção ou pelo uso da trilha sinistra criando o senso de ameaça do urso, além de saber como trabalhar esses personagens peculiares dentro de uma química divertida, sempre abraçando o absurdo e a estupidez tornando essa uma experiência hilária.

O Urso do Pó Branco é um filme que se propõe a ser uma comédia de ação e suspense, mas infelizmente, o roteiro não consegue entregar todo o potencial da história. Apesar de ser baseado em um evento real bastante inusitado, a trama acaba se tornando previsível e falta um pouco de criatividade nas reviravoltas. Além disso, o filme não consegue desenvolver completamente seus personagens, deixando muitos deles com pouco tempo de tela ou pouco aprofundamento em suas motivações.

Tudo isso pode fazer com que certas falhas sejam contornadas por uma certa “autoconsciência de ser um filme B” com a produção até mesmo iniciando com foco nessa falta de seriedade, mas caberá ao público se compra ou não esse olhar bobo e maluco de O Urso do Pó Branco.