Okja é o mais novo filme original da Netflix, famoso por causar polêmica durante o Festival do Cannes, a produção ganhou muito destaque por conta de sua história dentro e fora dos bastidores e não é por menos, esse é um dos melhores longas do ano.
A história se desenrola seguindo Mija (Seohyun An), garota que fará de tudo para proteger a criatura Okja de uma empresa multinacional, o que levará ela por uma aventura de amadurecimento pelos quatro cantos do mundo enquanto aos poucos descobre o lado obscuro da humanidade e do mundo globalizado.
Pois bem, o roteiro se divide em três estágios, um primeiro fantasioso e poético, um segundo aventureiro e cartunesco, e um terceiro dramático com tons de horror, entretanto nesse último estágio o longa perde o ritmo e se torna um pouco parado, mas seus minutos finais são tão sufocantes e vibrantes que são capazes de nos fazer esquecer do gosto cansativo encontrado anteriormente.
O grande foco aqui é o desenvolvimento da amizade entre a menina coreana Mija, e a super porca mutante Okja, que define o filme sendo muito bem exposta e evoluída em meio a tantos acasos e perigos na história, existe também uma certa inspiração em ‘Meu Vizinho Totoro’ com homenagens que muitos irão perceber, aliás essa é uma das características do longa, a atmosfera de um conto de fadas oriental. A diferença é que o roteiro adiciona críticas ao corporativismos das indústrias alimentícias e um estilo de personagens estranhos e cartunescos típicos do diretor.
E falando em seus personagens, temos de comentar sobre seu elenco, com nomes como: Paul Dano, Lily Collins, Steve Yeun, Tilda Swinton, Jake Gyllenhaal, Seohyun An, Yoon Je-moon, Giancarlo Esposito, Choi Woo-shik, entre vários outros.
Existem performances marcantes como a de Paul Dano interpretando o pacifista e simpático Jay, líder do grupo ativista dos direitos dos animais e também da esquisita e sombria, Lucy Mirando, interpretada intensamente por Tilda Swinton que ganha um carisma bizarro e muitas emoções em uma atuação digna de prêmios, no entanto, o que mais chama atenção é Seohyun Na que vive a jovem Mija de uma forma tão profunda e poética, que somos capazes de acreditar em cada um de seus atos e de termos uma empatia enorme por sua amizade e seu sofrimento ao longo das aventura. O resto do elenco como Lilly Collins e Giancarlo Esposito são pontuais mas não há muito o que explorarem, as atuações em geral estão ótimas, até mesmo o egocêntrico e arrogante Dr. Johnny Wilcox vivido por Jake Gyllenhaal está bem, mesmo com seu exagero, ainda existe um bom trabalho por trás de seu personagem, apesar de ser um tanto deslocado em certas ocasiões.
A direção de Arte é deslumbrante, e conta com figurinos refinados e bizarros que não só parecem que saíram de um anime do Studio Ghibli, como também mantém as personalidades icônicas de cada um dos personagens da obra, mas além disso ainda existe, cenários muito bem elaborados e que ainda são visualmente grandiosos para o longa, seja nas ruas de Seul ou na fazenda de Mikha e seu avô no topo de uma montanha.
Assim chegamos a outro ponto belíssimo em “Okja”, a direção de fotografia, com enquadramentos poéticos e íntimos que capturam as mais sinceras emoções dos personagens. Também não podemos nos esquecer das cores é claro, no limite entre o uso de vibrantes tonalidades em paralelo com o bom uso de contraste para depressivas e sombrias sequências finais da obra, a fotografia não só complementa a direção de arte como também dá esse visual cartunesco e sombrio do roteiro sendo de grande reforço para a boa direção de Bong Joon-Ho.
E por falar nesse sujeito, vamos comentar então de como ele se saiu em seu novo trabalho, vindo de longas como “O Expresso do Amanhã” (2013) e “O Hospedeiro” (2006), ótimos filmes que brincam com variados gêneros de estética sombria, personagens estranhos e uma certa crítica às grandes empresas e corporações. Aqui ele caminha por um lado diferente, apresentando um conto de fadas obscuro sobre a humanidade, o diretor dirige com maestria, entretanto, deixa passar erros no elenco e no último ato do roteiro que impedem que essa obra seja totalmente bem-sucedida. Além disso ainda é usado uma trilha sonora bem inusitada em perseguições, com um ar cômico que nos lembra os famosos circos, traçando um certo simbolismo com a trama já que a empresa Mirando exibe a Okja de maneira circense. Há ainda espaço para músicas mais dramáticas para os momentos emocionante da pequena Mija com sua super porca, o que garante um bom controle das emoções do público com o som, seja através de risadas ou de lágrimas.
“Okja” pode não ser o melhor filme da carreira do diretor, mas comprova mais uma vez seu talento, demonstrando esse ser profissional que poderia ter mais destaque em Hollywood, algo que com certeza deve acontecer graças ao alcance que esse filme gerou tanto pela praticidade da Netflix como pelos temas polêmicos e universais abordados em uma obra cartunesca, tocante, estranha e empolgante que conseguiu fazer denúncias a muitos problemas de nosso mundo real, mas o faz sobretudo de forma não didática, em tom de conto de fadas, conquistando a empatia de muitos. É um filme que merece ser visto e revisto, não só em casa, como também nas escolas.