Em “Onde Está Segunda?”, temos aquele que pode ser um dos melhores filmes que a Netflix já fez. A produção é dirigida por Tommy Wirkola e protagonizada por Noomi Rapace, Glenn Close e Willem Dafoe, e se situa em uma distopia científica, um verdadeiro thriller cyberpunk que sabe trabalhar seus conceitos e os desenvolver com precisão.

A história é ambientada em um mundo futurista de 2073, onde todas as famílias são restritas a ter apenas um filho. Em meio a essa realidade, nós acompanhamos a vida de sete irmãs gêmeas (Noomi Rapace/Clara Read), Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta, Sábado e Domingo, que vivem disfarçadas de uma só pessoa, porém Segunda desaparece misteriosamente, e agora elas irão se unir para desvendar o mistério e sobreviver aos agentes do governo.

Com essa premissa curiosa que deve agradar os fãs de ficção científica, o roteiro toma seu tempo para introduzir esse universo onde conhecemos os motivos do mundo estar do jeito que está. Um dos efeitos causado pela superpopulação do planeta e a escassez de alimentos, é o controle da natalidade, sendo que todos que tiverem mais de um filho, devem entregá-lo para a Agência de Alocação, que o colocará em criogenia.

Quanto a sua estrutura, podemos dizer que ele é bem montado do começo ao meio, sabendo intercalar a dinâmica das irmãs nos dias de hoje, assim como faz com as cenas do passado, onde temos um vislumbre dos eventos que formaram suas respectivas personalidades quando ainda eram educadas e cuidadas atenciosamente por seu avô Terrence Settman (Willem Dafoe), que desenvolveu uma rotina para elas, na qual cada dia da semana uma das garotas saia como Karen, para assim passarem despercebidas pelo governo e viverem em paz. O mistério e o drama tomam conta desses dois primeiros atos, enquanto vemos a antagonista e chefe da Agência, Nicolette Cayman (Glenn Close) se posicionar em relação a uma candidatura para o parlamento.

A forma como o longa escolhe apresentar cada uma das personagens e desenvolver suas interações é perfeita, pois foca no conceito da união, não só familiar, mas também entre as mulheres, além de toda a ideia sobre “identidade”, afinal por mais funcional que seja seu plano de vida, isso torna elas vazias, sem poderem agir como são de verdade, vestindo todos os dias essa máscara chamada Karen Settman. No entanto, o roteiro poderia ser bem melhor se não deslizasse em muitas convenções do gênero, com reviravoltas mirabolantes e falta de coesão em diversos pontos, nada que atrapalhe sua diversão, mas impedem o filme de alcançar o seu melhor.

Do segundo ato até o final do filme, a história ganha adrenalina e muita ação, afinal já nos tinha apresentado as ideias e os personagens, portanto o ritmo vai crescendo cada vez mais, até o grande desfecho da obra. O único defeito ali é não entendermos muito bem as motivações de Segunda, o que torna ela um ponto fraco dentro de um momento importantíssimo da produção.

Tommy Wirkola no entanto, sabe como dirigir a atriz e suas personagens, dando ritmo e conduzindo esse sci-fi com maestria, lidando com uma grande complicação em fazer tudo isso funcionar, afinal são sete personagens, drama, ação e suspense. Todavia, o maior erro de Wirkola está no fato de ter deixado passar vários pequenos erros do roteiro, que acabam diminuindo o alcance emocional do filme.

O grande destaque fica para Noomi Rapace, que prova ter um grande talento para o drama e ação. Aqui ele se põe à prova e o resultado é ótimo, conseguindo trazer trejeitos corporais e faciais para cada uma das diferentes irmãs, da pugilista para a patricinha, para a nerd e para a frígida, ela convence como cada uma delas e se sai visceral na ação, se entregando totalmente ao projeto. Por outro lado, Clara Read que vive a sua versão mais jovem, é funcional e pontual na trama, mas não obtém um grande destaque.

Como dito acima, Noomi Rapace vive as sete irmãs, mas também temos Glenn Close como Nicolette Cayman, uma vilã ambiciosa e imponente, mas com uma atuação um tanto automática que muitas vezes parece muito com o seu personagem de Guardiões da Galáxia (2014), Willem Dafoe contudo, está brilhante em seu breve papel, trazendo muita dor em sua excelente performance.

Outro elemento que ajudou muito a protagonista e o ritmo do filme, é a direção de fotografia, que é bem engenhosa na ação e no uso de ângulos diferentes, intercalando diversas situações e tudo com muita fluidez, mas de resto é bem comum e não chega a surpreender. Aparentemente as escolhas do diretor buscam trabalhar as irmãs em interação, e isso ajuda muito no contexto da união delas entretanto as cores escolhidas não tem carisma, usando aquela coloração azul e cinza prática e convencional do gênero.

A direção de Arte é de ponta, mas nada fora do comum comparado a outros filmes de sci-fi atuais. Há pequenos detalhes pelo filme para identificarmos que se trata de um mundo futurista, porém creio que seu charme está em como escolheram diferenciar cada uma das personagens por suas personalidades contrastantes, seja pelo figurino como também pela maquiagem, foi tudo muito bem pensado.

“Onde Está Segunda?” é um dos melhores filmes de sci-fi dos últimos anos, com conceitos e criticas interessante para a sociedade, acompanhado de um bom elenco, ritmo e muita ação de qualidade. Talvez poderia ter sido mais memorável se os seus clichês fossem mais refinados, e se tivesse recebido um desenvolvimento melhor em algumas partes, mas ainda assim é uma ótima pedida para se divertir pelo serviço de streaming.

REVER GERAL
Roteiro
8
Direção
8
Atuações
9
Direção de Fotografia
7
Direção de Arte
8
Nascido em São Joaquim da Barra interior de São Paulo, sou um escritor, cineasta e autor na Cine Mundo, um cinéfilo fã de Spielberg e Guillermo del Toro, viciado em séries, leitor de quadrinhos/mangás e entusiasta de animações.