Crítica: One Piece – A Série (1ª Temporada)

One Piece de Eiichiro Oda sempre foi um dos maiores e mais populares mangás e animes de todos os tempos tanto que em agosto de 2022, o mangá atingiu 516.566.000 milhões de cópias em circulação em todo o mundo e foi o título mais vendido por onze anos consecutivos, de 2008 a 2018. Além disso alcançou grande impacto cultural no Japão e o seu anime é um dos programas mais vistos no mundo inteiro.

One Piece – A Série veio com objetivos de adaptar a icônica história com atores e um mundo real, mas sem perder seus elementos de fantasia e do charme dos personagens do mangá. Isso era um grande desafio visto que há poucos casos de sucesso em produções live-actions de mangás, apenas alguns casos como Alita: Anjo de Combate e Speed Racer que ainda foram bem divisivos e a série japonesa Alice in Borderland da Netflix.

Eu como um fãs de animes, mangás e principalmente de One Piece tinha muito receio dessa produção, afinal era preciso furar a bolha de fãs, conciliar fidelidade com a mudança para uma nova mídia e saber como agradar um novo público ocidental bem diferente em gostos e sensibilidades. Mas felizmente, os showrunners Matt Owens e Steven Maeda com a supervisão de Eiichiro Oda conseguiram entregar uma das melhores adaptações já feitas, talvez até mesmo se torne um divisor de águas para o futuro da Netflix e outros estúdios.

Na trama da série, acompanhamos Monkey D. Luffy (Iñaki Godoy) partindo de seu vilarejo em uma jornada cheia de perigos para encontrar o lendário tesouro One Piece e se tornar o rei dos piratas. Para cumprir esse sonho impossível, Luffy terá que reunir a tripulação ideal e encontrar um navio cruzando caminhos com o espadachim e caçador de piratas Roronoa Zoro (Mackenyu), a ladra e navegadora Nami (Emily Rudd), o mentiroso e atirador Usopp (Jacob Romero Gibson) e o cozinheiro e galanteador Sanji (Taz Skylar), enquanto fogem da Marinha e enfrenta os mais perigosos piratas de East Blue.

A história toma seu tempo e remodela todos os primeiros longos capítulos em concisos oito episódios entre 49 minutos a 1h de duração, a série também faz suas escolhas narrativas cortando, resumindo e antecipando informações do mangá para criar seu mundo. O arco da temporada acaba criando um bom ritmo na maior parte do tempo com histórias episódicas e fechadas que aos poucos criam mais peso ao Arlong e para os dramas do passado de Nami.

Enquanto isso, o roteiro faz com que tudo se conecte em uma grande aventura sobre a formação de uma amizade que aos poucos se torna uma clássica abordagem de “família encontrada”, mostrando os perigos desse mundo de piratas e também revelando a nobreza, coração e os sonhos que todos esses heróis buscam no mundo.

Há todo um grande cuidado na produção de figurinos até design de cenários, coreografias, efeitos especiais e fotografia (apesar de alguns momentos escuros em certas partes). A produção parece buscar uma boa mistura entre Piratas do Caribe, desenhos animados e super-heróis amenizando alguns aspectos da obra original sem perder o lado fantasioso e inocente que a aventura tem na temporada, isso faz você aceitar esses visuais de roupas e cabelos coloridos como parte de um mundo de fantasia.

Existe até mesmo maneiras espertas em traduzir para um público maior certos elementos de mangás como a nomeação de golpes se tornado um comentário dentro da própria história que não isola pessoas que nunca tiveram contato com obras japonesas e abraça esse público com muita vontade.

Porém, por mais que estejamos falando de uma aventura não há medo em trazer humor e dramas ao longo da história, cada personagem de Luffy até Sanji e principalmente Nami possuem sofrimentos e dores em seus passados que os marcaram e o tornaram quem eles são nos dias atuais. Tudo é muito bem dirigido e escrito com alguns nomes mais fortes no drama como Tim Southam e outros mais na ação e aventura como Marc Jobst e Josef Wladyka.

O elenco talvez seja um dos maiores acertos, O Luffy de Iñaki Godoy transmite um carisma, inocência e uma seriedade bem forte com o papel assim como temos químicas bem divertidas entre Zoro de Mackenyu e Sanji de Taz Skylar e nos demais membros do grupo. Um dos grandes momentos da série está na história da relação entre Zeff de Craig Fairbrass e Sanji, seja com Taz Skylar ou na versão mais jovem vivido pelo talentoso Christian Convery (Urso do Pó Branco, Sweet Tooth), além do belo trabalho de Emily Rudd em mostrar sua resistência e tristeza nos últimos episódios.

Vilões como Buggy (Jeff Ward) e Arlong (McKinley Belcher III) tem personalidade, charme e um bom senso de ameaça aos heróis nunca destoando do elenco geral da temporada como Peter Gadiot de Shanks ou Morgan Davies como Koby. Talvez o maior problema é que por mais que há uma boa força entre Celeste Loots como Kaya e Jacob Romero Gibson como Usopp, eles protagonizam um arco com ritmo muito irregular que se torna um pequeno tropeço em uma temporada bem consistente em tom e desenvolvimentos da aventura.

No fim, a Netflix entrega uma aventura completamente contagiante que lhe faz lembrar de tempos e histórias mais simples feitas com sinceridade, a temporada faz você se lembrar da diversão dos primeiros filmes da Marvel ou da fantasia maravilhosa que eram os Piratas do Caribe de Gore Verbinski sem medo de se empolgar e se divertir com uma clássica história repleta de inocência.

A temporada ao mudar alguns caminhos consegue trabalhar outros elementos e relações entre os personagens trazendo surpresas para os fãs e criando sua própria maneira de contar uma história que já havia sido contada. Agora com um novo tipo de sabor com novos obstáculos, maior diversidade cultural e sem perder o peso de seus momentos clássicos ou desvirtuar da obra original.

One Piece – A Série é cheia de coração e abraça tanto os fãs antigos como os novos públicos do streaming sempre com muito primor e esbanjando o sentimento puro de defender seus amigos, ajudar os necessitados e correr como nunca atrás de seus sonhos.